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VÍDEO
Filme vencedor de cinco Oscars chega às locadoras encarnando estereótipo ianque
A beleza americana de Mendes
TIAGO MATA MACHADO
ESPECIAL PARA A FOLHA
NOS ANOS 50, no estertor de seus
bons tempos, o cinema americano
dedicava-se a fazer a metáfora da perversão do "american way of life". Hoje, em
sua melhor tendência, a cinematografia
americana vive a fase, digamos, do cinema-verdade da patologia ianque.
Nesse sentido, os personagens mais interessantes de "Beleza Americana" são,
justamente, os mais estereotipados: uma
corretora ambiciosa e falsa (Annette Bening), a encarnação do arrivismo americano, e um militar aposentado (Chris
Cooper), a encarnação do fascismo americano. Se ambos gostam de armas é porque recalcam, atrás do autocontrole e da
rigidez -seja a da afetação (no caso dela), seja a da disciplina (no caso dele)-,
todo o instinto destrutivo da América.
A primeira é mãe de Jane (Thora
Birch), uma adolescente deslocada que
acha deplorável e mesmo patético ver o
pai (Kevin Spacey) babar diante de sua
melhor amiga. O segundo é pai de Ricky
(Wes Bentley), um voyeur traficante de
maconha que aprendeu, depois de muito
apanhar, a lidar passiva e cinicamente
com o fascismo do pai. O jovem casal representa, em suas mórbidas tendências,
uma nova geração, a de cineastas talentosos como Harmony Korinne ("Gummo") e Todd Solondz ("Felicidade"), capazes de retratar a patologia americana
por dentro, uma vez que cresceu aprendendo a ver "a beleza das coisas mortas",
beleza mórbida que se contrapõe à "beleza americana", à "imagem do sucesso"
que obceca a América.
Mas, se "Beleza Americana" faturou o
Oscar, não foi, propriamente, por satisfazer essa tendência do público jovem.
Cheguemos então a Lester (Spacey), um
perdedor com espírito que se apaixona
pela amiga da filha, a "beleza americana"
em pessoa. Em sua irresistível redenção
de marombeiro, Lester evidencia aquele
que é o golpe mais baixo desse brilhante
roteiro, sua piscadela em direção ao público médio e ao Oscar. Não é senão aqui
que ele deixa de ser uma crítica implacável ao dito "american way" para se tornar a história da morte anunciada de um
simpático e redimido perdedor.
BELEZA AMERICANA
CIC
(American Beauty). EUA, 1999. Direção: Sam
Mendes. Com Kevin Spacey, Annette Bening,
Thora Birch e Wes Bentley. 121 minutos. Drama.
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