São Paulo, domingo, 5 de abril de 1998

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Olha só quem está falando... em inglês

Atores brasileiros participam de séries norte-americanas e fecham contratos de exclusividade com emissoras como NBC e Fox; Bruno Campos, que interpretou o imigrante italiano Massimo Boschini no filme "O Quatrilho", foi convidado para o elenco principal do piloto de "Brothers and Sisters", uma nova sitcom nos EUA

Patrícia Santos/Folha Imagem
O ator Bruno Campos, que fechou contrato de exclusividade com a rede NBC


ELAINE GUERINI
da Reportagem Local

Brasileiros que engrossam a população de atores de Los Angeles, calculada em 1 milhão, conseguem papéis no disputado mercado dos seriados de TV e fecham contratos com algumas das maiores redes norte-americanas, como a NBC e a Fox.
Assim como acontece no cinema, o sotaque e o biótipo ainda limitam o número de ofertas aos profissionais brasileiros, que não conseguem escapar dos personagens latinos. Mas a vantagem de atuar na televisão é que o veículo nos EUA é mais receptivo aos rostos desconhecidos, principalmente quando se trata de uma produção de médio ou grande porte.
Uma das atrizes que, aos poucos, vai se firmando no mercado profissional norte-americano é Bianca Rossini -residente em Los Angeles há sete anos. O que ela mais faz é participar de episódios de seriados de TV. Seu agente a escala semanalmente para uma média de seis testes.
Bianca já foi "guest star" em "Chicago Hope" -exibido no Brasil na Fox e na Record-, "Dark Justice", "Matlock", "Diagnosis Murder" e "The Sentinel". Neste último, ela viveu uma espírita cubana e incrementou uma das cenas com um cântico da umbanda. "Como eu cresci assistindo a esses rituais, consegui dar um toque pessoal. Sempre que posso procuro colorir o personagem com algo do Brasil."

Divulgação
Bianca Rossini, que já participou de episódio do seriado "Chicago Hope", nos EUA


A atriz foge da imagem da mulher brasileira que costuma ser lembrada pela sua nudez. "O tempo de Carmen Miranda já passou. É preciso quebrar o estereótipo e refinar a nossa participação com papéis mais complexos."
Outro brasileiro que busca reconhecimento na TV norte-americana é Bruno Campos, 24. Sua atuação em "O Quatrilho", filme indicado ao Oscar de melhor produção estrangeira em 1996, deu um considerável empurrão em sua carreira no exterior.
Campos conseguiu ser um dos poucos atores contratados com exclusividade pela rede NBC neste ano. As grandes emissoras fecham cerca de 15 acordos anuais -sendo cinco deles com astros, cinco com profissionais em ascensão e cinco com novatos.
O ator foi convidado para o elenco principal de "Brothers and Sisters", um piloto de série criado por Ellen Simon -autora do filme "Um Dia Especial", com Michelle Pfeiffer e George Clooney. A comédia é calcada no cotidiano de dois casais -sendo que os maridos são irmãos, e as mulheres, irmãs.
Esse piloto, orçado em US$ 2 milhões, é um dos 150 que são anualmente desenvolvidos nos EUA. "Só uns 50 são aproveitados. No teste com a platéia, o resultado do nosso foi bom", comenta o ator, que já fez participações nas séries "Suddenly Susan", protagonizada por Brooke Shields e exibida no Brasil no canal Warner, e "Cybill", que passa no USA.
Mesmo sem ter sotaque -Campos deixou o Brasil aos cinco anos e foi alfabetizado em inglês-, o ator interpreta um ítalo-americano no novo seriado. "Não tenho cara ou modos de um anglo-saxão. Sempre vou fazer um tipo mediterrânico."
Uma das poucas que não precisa disfarçar sua nacionalidade para trabalhar nos EUA é Patrícia Mário, 28. Ela apresenta em português os programas "Billboard Awards", "Um Dia em Hollywood" e "Hollywood Close-Up", que são exibidos no canal da Fox para o Brasil.
"É mais fácil e lucrativo fazer TV nos EUA. Enquanto o ator precisa de indicação no Brasil, aqui ele faz o teste e, se for bom, é contratado", conta a apresentadora, que vive há 13 anos no país e ganha entre US$ 3 mil e US$ 5 mil por programa.
Outra brasileira que fechou contrato com a Fox e define os EUA como "a terra das oportunidades" é Claudine Barros, 26. Ela atuou na segunda temporada de "Beetleborgs Metallix" (uma espécie de "Powers Rangers"), encarnando a vilã Horribelle.
"Nem tentei começar no Brasil. A posição que o ator consegue aqui é muito mais gratificante", diz a atriz, que mora em Los Angeles há dois anos e está estudando teatro na Beverly Hills Playhouse.
Aymara Limma, 25, iniciou a carreira de atriz no Brasil, mas se rendeu ao "glamour" de Hollywood -onde mora há dois anos e meio. "Consegui fazer uma ponta no novo filme de Nicolas Cage e Meg Ryan ("City of Angels") e tive direito a um trailer só para mim."
Na TV, a atriz já trabalhou em vídeos e atualmente tenta um papel nos pilotos das novas séries norte-americanas. No Brasil, ela atuou em "Capitães de Areia", na Bandeirantes. "Adoraria fazer seriado. Eles garantem trabalho por vários anos."
Sebastian de Vicente, 26, fez uma ponta em "O Quinteto", que vai ao ar no Brasil pela Sony e pela Record, contracenando com Neve Campbell (a Júlia do seriado). "Conversei e até dancei com ela", lembra o ator, que também trabalhou na minissérie "Interação", do Discovery Kids, e apresentou o prêmio Kids Choice, no Nickelodeon.
O time de brasileiros em busca de uma vaga em seriados é reforçado por Heloísa Vinhas, 25. Após gravar um clipe para a banda Link, ela faz testes para o elenco de "Buffy - A Caça-Vampiros", que já passou na Globo. Heloísa elegeu o astro Tom Cruise, que a atropelou em 96 em Los Angeles, como seu padrinho. "Liguei para a irmã dele e pedi outro encontro. Agora, estou pronta para pedir que ele me ajude com minha carreira."



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