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A novela que não caiu do céu
Rede Globo cede ao lobby do Ceará e produz a próxima trama das
sete no Estado, que admite investir, junto com empresários, pelo
menos R$ 800 mil em infra-estrutura para gravações em Fortaleza
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PAULO MOTA
da Agência Folha, em Fortaleza
Empresários de turismo e
o governo do Ceará admitem estar investindo pelo
menos R$ 800 mil em infra-estrutura (como diárias de hotéis e locações)
para viabilizar a gravação,
no Estado, de parte da próxima novela das sete da
Rede Globo.
O valor equivale a cerca
de 8% do orçamento total
da produção, que deve estrear em agosto. A novela
tem o nome provisório de
"Miragem". "Terra do
Sol", sua denominação
anterior, foi descartada
por ser muito parecida
com o slogan do turismo
cearense, "Terra da Luz".
A secretária de Turismo
do Ceará, Anya Ribeiro,
diz que, num acordo com a
direção da Rede Globo,
acertou-se que o governo
intermediaria o apoio logístico à produção, em troca da veiculação de uma
"imagem positiva" do turismo local.
"Uniu-se o útil ao agradável: a Globo precisava de
novos cenários e a indústria do turismo cearense de
uma forma inteligente de
veicular suas imagens e
produtos", declara.
Anya afirma que a intenção do governo cearense é
aproveitar a divulgação da
novela para atrair cerca de
1,3 milhão de turistas para
o Estado em 1998.
"Se "Tropicaliente'
(novela da Rede Globo exibida entre 94 e 95) serviu
para colocar o Ceará em
evidência no país e em várias partes do mundo, esperamos que essa novela
sirva para consolidar o
Ceará como principal destino turístico do país",
afirma a secretária.
Indiretamente, a novela
também deve ajudar o governador do Estado, Tasso
Jereissati, que é candidato
à reeleição.
O bom retorno obtido
com "Tropicaliente" fez
com que o setor turístico
cearense se mobilizasse
desde 1996 para convencer
a Rede Globo a realizar outra novela no Estado.
"Terra do Sol' não caiu
do sol, tivemos que negociar muito para consegui-la", diz Anya.
O mediador da negociação era o diretor Paulo
Ubiratan, que passava suas
férias no Estado e que
morreu em março.
A Agência Folha apurou
que a atual novela das sete,
"Corpo Dourado", só
não foi filmada no Ceará
porque Ubiratan e o setor
turístico cearense consideraram o roteiro inapropriado para o local.
Anya disse que uma das
condições do acordo foi
que a nova novela não
mostrasse "situações negativas" do Estado.
"Dou um exemplo: perguntaram-me se era conveniente colocar cenas de
uso de agrotóxicos em
plantações de caju. Eu disse que não, porque na realidade isso não existe."
Indagada se a novela poderia mostrar a realidade
de seca no Estado, Anya é
irônica. "Não precisa,
porque vocês da imprensa
já fazem isso."
Anya afirma que o processo de negociação com a
Rede Globo passou até
mesmo pela definição do
horário de exibição.
"Argumentamos que
preferiríamos o horário
das sete, que é mais leve e
gera uma novela mais alegre. Vetamos o das oito,
porque tem muito drama e
é mais pesado", diz Anya.
Os detalhes do acordo
foram sacramentados
num protocolo assinado
em abril entre o governo
cearense e a Globo.
No protocolo, o governo
do Ceará se comprometeu
a mobilizar os empresários
de turismo do Estado para
satisfazer às principais necessidades da produção.
Anya diz que o governo
não investirá diretamente
nenhum "tostão" de dinheiro público na novela,
mas fará de tudo para facilitar o trabalho da Globo.
"Colocamos uma funcionária da Secretaria de
Turismo exclusivamente
para atender e tentar resolver os problemas da produção que estiverem ao
nosso alcance."
A secção cearense da
ABIH (Associação Brasileira da Indústria Hoteleira), por exemplo, formou
um pool com 16 hotéis para fornecer gratuitamente
5.685 diárias de hospedagem para o período em
que a equipe da novela,
composta por 80 pessoas,
permanecer no Estado.
A Globo está tendo descontos também em alimentação, transporte,
energia e comunicações.
A cidade cenográfica na
qual serão gravadas parte
das cenas no Ceará (ruínas
de uma construção religiosa) foi montada com a ajuda de empresários da cidade de Caucaia, onde ela está localizada.
Luís Henrique Rios, diretor da novela, diz que o
acordo foi feito de forma
que não houvesse nenhuma interferência no texto.
"O que houve foi um
convênio para viabilizar as
gravações no Ceará, que
sairiam muito caras se não
tivéssemos um apoio local", diz.
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