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TELEJORNALISMO
Redes recorrem a amadores e pagam até R$ 1.000 por imagens de resgates e perseguições policiais
Emissoras cadastram cinegrafistas
DANIEL CASTRO
da Reportagem Local
Graças a um cinegrafista amador, na última semana o ``Jornal
Nacional'' voltou a superar a casa dos 40 pontos no Ibope, uma
audiência superior a 3,2 milhões
de telespectadores na Grande
São Paulo, onde cada ponto
equivale a cerca de 80 mil pessoas
vendo televisão.
O telejornal, que em janeiro
chegou a registrar 32 pontos, a
mais baixa audiência de sua história, conseguiu picos de até 45
pontos com imagens de policiais
militares humilhando e espancando pessoas durante blitze na
favela Naval, em Diadema
(Grande São Paulo).
A fita, que registra o momento
em que soldado Nelson Soares da
Silva Jr. atira no mecânico Mário
José Josino, que morreu, repercutiu no mundo todo.
A identidade do autor das imagens é mantida em sigilo pela Rede Globo. Sobre o assunto, o jornalista Marcelo Rezende, autor
da reportagem, diz apenas que o
cinegrafista ``é uma pessoa que
eu conheço'' (leia abaixo).
As imagens de Diadema trouxeram à tona a figura do cinegrafista amador, um personagem
cada vez mais importante no telejornalismo brasileiro.
Desde que foram incentivados
pelo ``Aqui Agora'', no SBT, a
partir de 1991, os cinegrafistas
amadores se multiplicaram. Alguns até se profissionalizaram.
Hoje, redes como Globo, SBT,
Bandeirantes e CNT mantêm cadastros de cinegrafistas amadores. Essas emissoras também fixaram tabelas de preços para flagrantes feitos por amadores.
Na Globo, paga-se no mínimo
R$ 180 por uma fita. O valor é
``negociável'', dependendo do
conteúdo e da qualidade.
Na Bandeirantes, o mínimo é
de R$ 100. ``Mas a gente paga até
R$ 400 por uma imagem de incêndio ou de resgate'', diz o jornalista José Occhiuso, responsável pela avaliação do material
ofertado. ``A gente recebe até 30
ofertas de cinegrafistas por mês,
mas só três ou quatro são aproveitáveis'', diz.
Segundo Albino Castro, um
dos diretores de jornalismo do
SBT, a emissora mantém cerca
de 250 cinegrafistas cadastrados.
A emissora paga entre R$ 200 e
500 por fita.
``O SBT sempre usou imagens
de amadores. Esses cinegrafistas
são fundamentais. São leitores
munidos de câmeras'', conta
Castro, para quem o ``Jornal Nacional'' se ``aproxima'' do
``Aqui Agora'' quando exibe
imagens de amadores.
A CNT diz ter um cadastro com
800 cinegrafistas amadores no
país todo. A emissora paga de R$
200 a R$ 1.000 por fita.
A rede paranaense tem até ``cinegrafistas amadores fixos'', que
fornecem sistematicamente material para a emissora, principalmente perseguições policiais.
Marcelo Tapai, 27, é um deles.
Em 1992, ele comprou uma câmera caseira. ``Um dia, eu voltava para casa e vi um acidente grave. Peguei minha câmera e fiz a
matéria. Primeiro, fui na Globo.
Eles nem viram a fita. Fui ao SBT
e o `Aqui Agora' adorou.''
Desde então, Tapai não largou
mais a câmera. Abandonou o
curso de engenharia mecânica e
entrou numa faculdade de jornalismo. Hoje, trabalha para a TV
Senac, como profissional.
Tapai afirma que dorme ouvindo um rádio sintonizado em frequência exclusiva do Corpo de
Bombeiros. ``Quando ouço uma
sirene, fico arrepiado e corro
atrás'', diz.
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