São Paulo, domingo, 6 de dezembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TIAZINHA

Jorge Araujo/Folha Imagem
Suzana Alves, a Tiazinha do programa 'H'


Novo fenômeno da televisão brasileira, Suzana Alves, que interpreta a personagem sádica do programa "H", na Bandeirantes, entra na guerra pela audiência no horário nobre, vira marca de lingerie e ganha um quadro semanal em que dará orientação sexual a adolescentes

DANIEL CASTRO
da Reportagem Local

Esqueça Ratinho, Rodolfo, ET, Gilberto Barros e toda essa gente bizarra. A Carla Perez da atual temporada da televisão brasileira é linda, se produz como sádica, com chicote e máscara, e parte amanhã para a conquista da audiência do horário nobre.
Em menos de sete meses no ar, no então vespertino "H", da Bandeirantes, Suzana Alves, 20, a Tiazinha, virou fenômeno de televisão, símbolo sexual e mania nacional. Repercutiu até na imprensa norte-americana, num feito que parece ir muito além dos 3 pontos que o programa de Luciano Huck alcança diariamente no Ibope (cerca de 240 mil telespectadores na Grande SP).
Tiazinha virou a Gretchen versão 98/99 fazendo brincadeiras eróticas com adolescentes. Todos os dias, repete a encenação: deita algum rapaz em uma cadeira de dentista e, se ele erra as respostas de suas perguntas, aplica-lhe castigos: primeiro, algumas chicotadas leves e, depois, uma breve sessão de depilação com fita adesiva.
Com a fórmula, o "H" ganhou mais do que audiência -Tiazinha dá picos de 5 pontos. Ganhou um "gancho" para ficar em evidência na mídia.
Mas agora seus criadores (o próprio Huck e Paulo Lima, da revista "Trip", entre outros) querem lhe anexar um "conteúdo", mesmo que artificial. A partir desta semana, Tiazinha responderá a dúvidas sexuais de adolescentes.
Vai ler textos, preparados por sexólogos e ginecologistas, no quadro semanal "Consultório da Tiazinha".
Contra o mundo-cão do "Programa do Ratinho" e do "Leão Livre", a Band ataca com o erotismo da Tiazinha e tenta estender seu domínio sobre adultos.
Logo na estréia na faixa das 20h30, amanhã, o "H" mostra o making of das sessões de fotos feitas em Nova Orleans (EUA) para a revista "'Playboy", da qual Suzana Alves será a capa da edição de março. "Só não vou mostrar os pêlos", avisa Huck.
Suzana sabe que fenômenos como Tiazinha têm vida curta e quer aproveitá-la ao máximo.
Em janeiro, chegam às lojas lingeries com a grife Tiazinha (meias, cintas-ligas, corpetes), além de tamancos para crianças e, claro, máscaras. Ela também vai ilustrar capas de cadernos e sua característica máscara vai virar kit do Carnaval de 99.
Atualmente, Suzana grava um CD-ROM. Seu site oficial na Internet (www.tiazinha.com.br), lançado com festa na última terça-feira, aceita propostas de licenciamento.
Tiazinha também vai virar cantora, mas ainda não tem idéia do que irá cantar. Acaba de assinar contrato com a Sony. "Primeiro, vamos estourar um single. Acho que nesta época do ano pega bem gravar um axé". Depois, ela deve gravar um CD, e, eclética, pretende incluir dance e até jazz. Pode?
Suzana tem feito shows -parecidos com suas performances no "H"- em todos os cantos do país. Sua agenda de dezembro, lotada, passa por Campinas (hoje), Manaus, Goiânia, Recife, Salvador e cidades interioranas.

Campeã de cartas
Outro termômetro do sucesso de Tiazinha é o número de cartas e e-mails que ela recebe: cerca de 50 por dia, a mesma quantidade que o ator Claudio Heinrich (ex-"Malhação"), campeão de correspondências da Globo. "Minha cunhada responde as cartas", entrega.
Ela é também musa de jogadores de futebol. Foi "homenageada" por Paulo Nunes, do Palmeiras, em outubro, que comemorou um gol contra o Corinthians usando uma máscara. Tiazinha também teria estado envolvida na crise entre o técnico Wanderley Luxemburgo e o jogador Marcelinho.
Ambos negam veementemente, mas se comentou, nos bastidores dos gramados, que teria sido por causa de Tiazinha que Marcelinho teria deixado a concentração do Corinthians, o que gerou seu afastamento por 18 dias.

Religiosa
Suzana Alves nasceu e sempre viveu na Freguesia do Ó, bairro de classe média baixa na zona noroeste de São Paulo. Mas sua personagem, a Tiazinha, é "nativa" de Taiti, arquipélago no Pacífico pertencente à Polinésia Francesa, território ultramarino da França.
Do Taiti, Suzana não tem nada, é tudo marketing. No máximo, alguma referência à sua ascendência indígena.
Ela até tentou fazer o ensaio da "Playboy" naquelas ilhas, mas Nova Orleans acabou sendo a escolhida por ser uma cidade em que as sex-shops são abundantes e fazem parte dos roteiros turísticos. "Toda loja que se entra lá tem máscara para vender", conta.
Suzana é filha de operário. Sua mãe, de quem herdou o hábito de ler a Bíblia, é evangélica. "Quando falei pra ela sobre o meu trabalho, da lingerie, ela se assustou. Falou para eu pôr short", lembra. Atualmente, Suzana mora com os pais e dois irmãos, em um apartamento da família. Diz não ter namorado há um ano e estuda o 3º ano de jornalismo na Fiam (Faculdades Integradas Alcântara Machado). No futuro, ela quer ser apresentadora de televisão.
Hoje, diz estar ganhando dinheiro "suficiente para ajudar a família". Seu salário na Band é de cerca de R$ 5.000 e o cachê dos shows, R$ 15 mil.
Suzana credita o fato de interpretar tão bem sua personagem à sua carreira de atriz e modelo. "Nunca tinha visto uma cinta-liga na minha frente", diz, sobre Tiazinha.
Desde os 5 anos, faz comerciais e peças infantis (três, no total). "Isso me deu bagagem. A Tiazinha é uma personagem engraçada. Só uma personagem", afirma.
Luciano Huck diz que o nome Tiazinha surgiu de "bobeira". Curiosamente, Suzana diz ter "enrolado o pessoal do "H'" durante mais de um mês, até aceitar a proposta.
Ela conta que, um ano antes, em maio de 97, tentou ser "Hzete", como são chamadas as assistentes de palco do programa "H".
Mas, pequena (1,62 m e 50 kg) e morena, passou despercebida. "Ninguém me viu naquela época." Hoje, o próprio Huck admite, Suzana "roubou a cena da nova loira do Tchan".
O novo fenômeno da televisão brasileira ainda paga as prestações de seu Palio Weekend ano 98, mas já pensa em contratar uma consultora de moda. Também está contratando um segurança particular.
"Adoro me produzir, mas não estou tendo tempo para fazer compras", disse, na última terça-feira, em seu carro, no intervalo em que arrematou dois pares de meias na Jogê, da rua Augusta, e um par de sapatos na loja de Fernando Pires, também nos Jardins.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.