São Paulo, domingo, 8 de março de 1998

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TORRE DE BABEL
Globo prepara 'novela-catástrofe'

Começam as gravações da nova novela das 8, na qual a explosão de um shopping será o principal fato

DANIEL CASTRO
da Reportagem Local

Qualquer referência à explosão de um shopping center em Osasco, em junho de 96, ou ao desabamento do edifício Palace 2, será mera coincidência.
Em "Torre de Babel", nova novela das oito da Rede Globo, com estréia prevista para maio, tudo gira em torno da explosão de um shopping de oito andares.
"Será a primeira novela-catástrofe da TV brasileira", diz o autor Silvio de Abreu, que em 1995 mobilizou o país com "A Próxima Vítima", e que diz que "Torre de Babel" teve inspiração em ataques terroristas contra prédios.
O shopping que irá explodir fica em São Paulo. Curiosamente, no mesmo terreno onde a Globo constrói sua nova sede, na avenida Luis Carlos Berrini, no Brooklin. Uma maquete do shopping, por meio de efeitos especiais, será plantada na paisagem.
A novela será estrelada por Tony Ramos (o pedreiro José Clementino) e por Tarcísio Meira, o engenheiro César Toledo, casado com Marta (Glória Menezes) e pai de Alexandre (Marcos Palmeira), Guilherme (Marcelo Anthony) e Henrique (Edson Celulari). Estão no elenco ainda Juca de Oliveira (Agenor, pai de José Clementino e dono de um ferro-velho), Adriana Esteves, Natália do Valle, Cláudia Raia e Cláudia Jimenez.
Nesta semana, começam as gravações das primeiras cenas em São Paulo, onde se passa a novela. A seguir, leia trechos de entrevista de Silvio de Abreu à Folha.

Folha - Fale sobre a trama central da novela.
Silvio de Abreu -
É sobre um pedreiro, chamado José Clementino da Silva (Tony Ramos), que mata a mulher, após flagrá-la, numa festa em uma construção, com dois homens. Ele tem um surto, pega uma pá e mata a mulher e um dos homens. O engenheiro responsável pela obra, que é o César Toledo (Tarcísio Meira), é testemunha do crime, segura o pedreiro e o entrega para a polícia. O pedreiro é condenado a 20 anos de cadeia.
Nesses 20 anos, César progride e se torna um grande empresário.
Quando a novela chega aos dias de hoje, nos primeiros capítulos, César Toledo está inaugurando um grande shopping center, o primeiro vertical da América Latina, o Tropical Tower Shopping, que é chamado pelo público de Torre de Babel.
José Clementino, que está preso, com a pena vencida e sem conseguir sair da penitenciária, fica engendrando uma maneira de se vingar de César. Ele, que antes de ser pedreiro fabricava fogos de artifício, sonha derrubar essa Torre de Babel, quer explodi-la. E ela vai explodir, por volta do capítulo 30.
Folha - O público pode esperar suspense como em "A Próxima Vítima"?
Abreu -
Sim, mas não sei se vai ser igual. "A Próxima Vítima" tinha um estilo Agatha Christie, o que ligava a história eram os crimes, não existiam pistas. Agora a estrutura é diferente e mais complicada. Antes de o shopping explodir, a novela se pergunta como esse homem simples, um pedreiro, vai conseguir o feito. Mas quando ocorre a explosão, não se sabe se foi mesmo José Clementino o autor. Conseguiu, mas será que foi ele mesmo quem fez? E a discussão passa a ser quem explodiu o shopping.
Folha - Vão morrer muitas pessoas na explosão?
Abreu -
Sim. Centenas de pessoas. Escolhi um shopping center porque é um lugar por onde passam muitas pessoas, de diferentes níveis sociais.
Folha - Não existe a hipótese de a explosão ser devido a um erro de engenharia?
Abreu -
Não. É um atentado.
Folha - Como a Globo vai resolver, em termos de logística, a questão da explosão do shopping?
Abreu -
Nós vamos ter uma maquete do shopping, que será fotografada e inserida virtualmente na paisagem de São Paulo. Aí vamos ter o saguão principal, que dá acesso aos andares, construído no Projac. As lojas serão feitas em estúdio. E teremos outra parte, que são os corredores, que serão filmados em um shopping em Niterói.
A explosão está sendo coordenada por mim e pelo departamento de efeitos especiais. É um trabalho muito minucioso.
A novidade são os efeitos especiais. Acho que posso chamar essa novela de a primeira novela-catástrofe da TV brasileira, e espero que não seja uma catástrofe de novela (risos). É a primeira vez que uma novela é tão ligada aos efeitos especiais. Se essa explosão não for convincente, a novela está perdida. Em "Titanic", se os efeitos não fossem bem-feitos, o filme não seria nada.
Folha - O que César Toledo tem de Sérgio Naya?
Abreu -
Nada. Quando comecei a escrever a novela, ninguém sabia quem era Sérgio Naya. Não tem nada. O personagem não é negativo. É um empresário, mas nem todo empresário é corrupto. A novela não é maniqueísta. O César é casado, tem três filhos, tem problemas na família (um filho drogado), gosta de outra mulher, mas não é um mau caráter. O José Clementino é uma pessoa tumultuada, mas pelo ambiente em que viveu.



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