São Paulo, domingo, 08 de dezembro de 2002

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MEU MUNDO CAIU

Ex-calouros dizem que a exposição rendeu fama e shows

"Órfãos" de Raul Gil somam perdas e ganhos

DA REPORTAGEM LOCAL

CHARLES Henrique de Souza Henriques, 26, estava em algum ponto dos 500 quilômetros entre São João da Barra (interior do Rio) e São Paulo quando soube, pelo rádio, que o quadro dos calouros do programa Raul Gil (Record) havia sido suspenso.
"Não atiro pedras porque apareci para o Brasil inteiro sem pagar jabá", diz ele, que arcou com os R$ 2.000 gastos com passagens, alimentação e gravação de playbacks durante os dois meses em que participou da atração.
"Era muito cansativo, mas foi recompensador", diz o tenor Ricardo Regis, 24, que ficou 27 semanas no programa. "A emissora pagou todas as minhas despesas das viagens", diz Regis, contabilizando shows Brasil afora.
Nem todos tiveram a mesma sorte. Ricardo Moisés, 32, de Fernandópolis, a 500 quilômetros da capital, afirma que fez parte do quadro por mais de seis meses sem ter ajuda de custo, e que deixou de trabalhar para participar.
Assim como ele, o professor de música Flávio Henrique, 26, abriu mão dos alunos para se dedicar à atração. "Graças a Deus recuperei quase todos", diz.
A maior preocupação dos calouros, no entanto, é quanto à validade dos contratos de exclusividade de seis meses no programa. "Eles não têm compromisso comigo, nem eu com eles", diz Raul Gil, afirmando que todos receberão o cachê prometido pela Record.
Comenta-se nos corredores da emissora, inclusive, que o apresentador prefere que o pagamento seja feito no palco do programa, até o final do mês.
"Eles acumulavam R$ 500 por semana se permanecessem no grupo dos melhores. Podiam pegar o dinheiro e ir embora. Mas só ficaram preocupados com isso agora", diz Gil.
Adriana Mayumi, 30, lamenta que o concurso "Usina de Talentos", no qual os 23 melhores do ano disputavam a gravação de um CD solo, tenha acabado antes do fim: "Foi um balde de água fria".
"De repente virei "Patrícia Camin", reconhecida nas ruas. Daqui a pouco vou ser a mera "Patrícia" de novo, e isso é ruim. Se você não está na mídia, não é ninguém", diz a paulistana de 31 anos.
As queixas de Joe Hirata, que em 1994 venceu 80 mil candidatos no concurso de calouros da emissora NHK, no Japão, são outras.
"Raul Gil deu aos descendentes de orientais a chance de afirmarmos nossa brasilidade, já que a TV só nos mostra pejorativamente, como estrangeiros donos de pastelarias e tinturarias".
Magoado, Raul Gil diz que, por ter contrato até 2005, tem que acatar. "Muita gente pensou que eu estava ganhando milhões com os calouros, mas não estava. A Record se esquece de que o país inteiro está reclamando. O pessoal liga pra mim e diz: "ô Raul, você é burro de tirar os calouros do ar?'".
Segundo ele, o vice-presidente da emissora, Denis Benaglia Munhoz, foi quem lhe comunicou o fim da atração. "Ele disse que o bispo Clodomir dos Santos, o presidente, não queria mais. Falou que "cansou'", diz Gil.
Procurado pelo TV Folha, Munhoz respondeu alegou falta de espaço em sua agenda. (FERNANDA DANNEMANN)


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