São Paulo, domingo, 9 de agosto de 1998

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TV NO MUNDO
Museu homenageia "I Love Lucy"

ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha, de Nova York

"Lucy Vai a Havana" é o título de um episódio censurado de "I Love Lucy" que o Museu de Televisão de Nova York exibiu recentemente em seu anfiteatro.
O episódio banido faz parte do acervo e, durante as horas de funcionamento regular do museu, pode ser assistido em monitores individuais por qualquer visitante.
Para se ter uma idéia do sucesso da "sitcom" (comédia de costumes), em que a atriz Lucille Ball e seu marido Desi Arnaz representam Lucy e Ricky, um casal de classe média sempre às voltas com trapalhadas causadas por ela, basta notar que 47 anos depois de sua estréia inicial na rede norte-americana CBS, Lucy permanece no ar em vários países, entre os quais o Brasil.
E mais: de acordo com a exposição que comemora os 45 anos de história da revista "TV Guide", no mesmo museu, a atriz é recordista absoluta, tendo ilustrado 31 capas da publicação.
A censura constitui uma excessão em um seriado em geral classificado como inofensivo, uma das produções televisivas que teria acompanhado a volta das mulheres ao lar no afluente pós-guerra norte-americano, para morar em residências situadas nos nascentes subúrbios das grandes cidades.
O isolamento do subúrbio inaugurava um estilo de vida onde a televisão, segundo especialistas como Lynne Spigel, atendia à vontade de conexão com o mundo e compensava a solidão da vida doméstica distante do burburinho e da vida pública das ruas centrais das urbes modernas.
Lucy apareceu em Havana duas vezes. Primeiro, em um longo episódio que contava a história de seu encontro inicial, em 1940, com seu futuro marido, o músico cubano Ricky Ricardo. Depois, em uma versão reeditada do mesmo episódio em que as cenas de Cuba são mostradas em flash-back por ocasião de uma entrevista concedida por Lucy com a inevitável participação de Ricky, e do casal de amigos sempre presente, Ethel e Fred.
A censura se deve ao fato de que os Estados Unidos procuraram banir imagens positivas de Cuba após a revolução socialista de 1959, em que a ilha que os norte-americanos tinham como um de seus balneários prediletos, situada somente a cerca de 90 milhas de Key West, a ponta sul do estado da Flórida.
Não deixa de ser irônico que o casal predileto do período macartista nos Estados Unidos fosse formado por uma ruiva americana e um imigrante moreno, artista cubano. E que o encontro que funda a aliança conjugal tenha se dado em uma Cuba pitoresca, paraíso tropical de turistas, charretes, charutos e shows musicais.
A Cuba dos homens românticos e apaixonados que atraiu Lucy está bem distante das imagens dos inimigos terríveis, violentos e ameaçadores, produzidas durante a Guerra Fria, ou das imagens anacrônicas de terra arrasada que marcam o também anacrônico bloqueio de hoje em dia.
No Brasil, "I Love Lucy" pode ser visto regularmente, aos sábados pela manhã no canal Multishow.


E-mail: ehamb@uol.com.br



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