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PROTESTO
"Tá faltando preto na televisão", canta Ivo Meireles
PROTESTO
Parceiro de Lobão em sucessos como
"Essa Noite Não" e "Bangu 1, Polícia 0",
autor do samba-enredo com que a Mangueira ganhou o Carnaval de 1986, Ivo
Meirelles, 35, está lançando seu terceiro
disco solo, "Samba Soul", pelo selo Regata. A música de trabalho é "Tá Faltando
Preto na Televisão", cujo clipe tem as
participações de Hélio de La Peña (do
grupo "Casseta e Planeta"), Milton Gonçalves, Isabel Fillardis e Neuza Borges,
entre outros artistas. "Convidei pessoas
que se destacaram pelo talento, sem ter
que pedir favor a ninguém", diz Meirelles. Ele falou ao TV Folha sobre a realidade que vê diariamente na TV, e que só
deve mudar um pouco hoje e amanhã
porque é Carnaval. (MARCELO MIGLIACCIO)
Como nasceu a inspiração para essa música que fala da falta de negros na TV?
No nosso dia-a-dia. A televisão dita
moda, cabelo, roupa, gíria, comportamento, tudo. E está faltando negro na TV
como está faltando nos shoppings, nas
casas noturnas, nas faculdades, nos desfiles de moda. Qual programa de TV tem
o perfil do negro brasileiro? Se isso começar a mudar na TV, vai abrir a discussão e podemos até consertar o que acontece no dia-a-dia.
E como fica a cabeça de uma criança negra que só vê os negros aparecerem na televisão como empregados subalternos ou
como marginais?
A auto-estima dela fica lá embaixo. O
menino não vê negros apresentando
programas, protagonizando novelas.
Não há uma auto-referência para ele.
Vendo a TV, eu não me identifico com o
país em que vivo.
Você acha que algo como a cota mínima
obrigatória de negros nas universidades
deveria existir também na TV?
Não acho certa essa cota, nem para as
universidades nem para a televisão ou
qualquer outro setor. Isso só vai aumentar o preconceito. Vão dizer: "Você só está aqui por causa da lei". A realidade só
vai mudar se houver um processo de discussão no dia-a-dia. É preciso conscientização, informação e educação.
Você já se sentiu discriminado por produtores ou apresentadores de TV?
Sinto e vejo isso, todos os dias.
Você sentiu isso, por exemplo, quando
levou o grupo Funk'n Lata para cantar em
programas de TV vestido de gari?
Também. Fiz aquilo para homenagear
os pais daqueles meninos. A maioria trabalha como gari. Foi para mostrar, principalmente para os próprios garotos e
para a sociedade que discrimina, que
aquela é uma profissão digna.
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