São Paulo, Domingo, 10 de Outubro de 1999
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Para pediatras e responsáveis pelos canais de programação infantil, é função dos pais decidir o que as crianças devem ver e quanto tempo elas podem ficar diante da TV; veja programação para o Dia da Criança e saiba quais atrações são as mais indicadas
Não basta ver, tem de participar!

ALINE SORDILI
ERIKA SALLUM
da Reportagem Local

A TV faz mal à saúde? Uma pesquisa da Academia Norte-Americana de Pediatria diz que sim, recomendando que crianças com menos de dois anos não vejam TV, mas nem todo mundo concorda com essa conclusão.
De um lado, pediatras e psicólogos recomendam que as crianças fiquem pouco tempo vendo televisão -período que deve ser gasto com programas educativos. Do outro, dirigentes de canais dizem que a TV diverte e ensina e que os pais são os mais indicados para decidir o que -e quanto- os filhos podem ver.
Com a proximidade do Dia da Criança, responsáveis por canais infantis preparam uma programação especial, mas admitem que TV em excesso pode fazer mal.
"Nenhuma criança deve só assistir TV. Deve brincar, desenhar, ler. Quanto mais equilibrada for a diversão, melhor será a formação", afirma Bia Rosenberg, diretora do núcleo de programas infanto-juvenis da TV Cultura.
Para ela, as crianças seguem os hábitos dos pais: "Se os pais só ficam vendo TV, a criança vai fazer a mesma coisa".
"O Cartoon só coloca no ar programas que geram alegria e diversão. Não somos um canal educativo, mas de entretenimento. São os pais que devem cuidar do que seus filhos vêem", afirma Jim Samples, vice-presidente do canal. Para ele, desenhos como "O Laboratório de Dexter" estimulam a criatividade e o relacionamento entre irmãos.
Mas não se pode condenar a televisão, na opinião do pediatra Bernardo Ejzenberg, consultor do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas. "Os pais têm de reconhecer seus erros, como a falta de tempo. No caso de pais ausentes, a TV não é culpada de nada."
Segundo ele, as pessoas devem ser capazes de enxergar também os benefícios da TV. "Se o programa entretém, faz rir e não mostra violência, por que não dizer que ele é bom? Mas tem de ser dosado."
Para Ana Olmos, psicanalista especializada em crianças e adolescentes ligada à organização não-governamental TVer, ver TV em excesso pode prejudicar a saúde, gerando desde obesidade e insônia até alteração do comportamento.
Ana ressalva, no entanto, que existem programas que contribuem para a formação. "O Discovery Kids, por exemplo, consegue transmitir ensinamentos de uma maneira gostosa e informativa."
Henrique Martinez, vice-presidente sênior do Discovery para a América Latina, afirma que seu canal não pretende ser só educativo. "Se ficarmos só nisso, a criança rejeita o canal. Fazemos um mix com coisas reais e formadoras."
Essa também é a opinião de Pierluigi Gazzolo, diretor de vendas para a América Latina do canal Nickelodeon: "As TVs educativas tendem a ser voltadas mais para os pais. Na nossa programação, a única regra é não ter violência".
Gazzolo cita como exemplo de programa que mescla entretenimento e estímulo intelectual o "As Pistas de Blue". Criado para crianças em idade pré-escolar, traz o garoto Steve e sua cachorrinha. "Repetimos o programa várias vezes, assim a criança vai reconhecendo as pistas e sentindo que participa."
A repetição é um fator importante nessa idade. Segundo Anne Lise Silveira Scappaticci, terapeuta familiar e psicanalista infantil, a repetição existente no "Telettubies" é fundamental para que a criança assimile conhecimento. "Mas, antes dos dois anos, a TV deve ser vista com muita moderação."
Para ela, uma criança não pode ser deixada horas seguidas em frente à TV. "A TV não pode ser usada como babá. Uma criança pequena precisa de estímulos."
Segundo Anne Lise, mesmo programas educativos em excesso não são saudáveis.
Clóvis Francisco Constantino, presidente da Sociedade de Pediatria do Estado de São Paulo, recomenda que crianças muito pequenas assistam de 30 minutos a 1 hora de TV por dia, além de ter mais atividades. "Para uma criança mais velha, a TV faz parte da interação com os colegas, como ver um jogo de futebol, por exemplo."



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