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BABEL
Da Galicia TV ao japonês NHK, passando pela TV Chile e TV Coréia, além de programas específicos feitos no Brasil, o telespectador tem acesso a culturas variadas
TV brasileira se globaliza e fala 11 línguas
Adriana Elias/Folha Imagem
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Junji Yokochi e sua mãe, que quase não fala português, vêem o canal japonês NHK |
CLÁUDIA CROITOR
ERIKA SALLUM
DA REPORTAGEM LOCAL
DO GALEGO ao árabe, do japonês
ao hebraico, a TV brasileira é uma
verdadeira "torre de babel". Nela, o telespectador pode encontrar 11 línguas, distribuídas em canais internacionais e/ou
programas feitos no Brasil por descendentes de imigrantes.
Canais já conhecidos como CNN (com
versões em inglês e espanhol), o francês
TV5 e o italiano RAI se misturam a outros menos famosos, entre eles a TV Chile, da DirecTV, a TV Coréia, disponível
apenas para os assinantes da Net em São
Paulo, e a Galicia TV, no ar desde 97 e
que pode ser acessada via Tecsat, com
uma programação transmitida na língua
falada pelos habitantes da região noroeste da Península Ibérica.
Mas há muito mais: aos domingos, no
Canal 21, é possível, por exemplo, ver
-ou rever, já que o programa tem 30
anos- o "Imagens do Japão", voltado à
comunidade nipônica no Brasil, a maior
população japonesa fora do Japão.
"Já passamos por diversos canais e lutamos para continuar contando a história de nosso povo. Se antes transmitíamos muita coisa importada do Japão,
agora produzimos várias de nossas atrações", diz Mario Jun Okuhara, filho do
fundador do programa. No próximo dia
18, por exemplo, será exibido um documentário sobre o "shamisen", um instrumento típico forrado com pele de cobra ou de gato. "É o terceiro de uma série,
na qual já tivemos como tema o beisebol
e um asilo para idosos japoneses."
Recentemente o "Imagens do Japão"
ganhou um "concorrente". O canal nipônico NHK virou uma espécie de hit
entre os japoneses mais tradicionais.
"Minha mãe não fala quase nada de português e ficava meio isolada com a falta
de opções na televisão. Com a chegada
do NHK, aconteceu uma inversão: ela só
vê notícias em japonês, sobre o Japão, se
isolando do mesmo jeito", conta Junji
Yokochi.
Também vindos da Ásia, os quase 50
mil coreanos e descendentes que vivem
em São Paulo ganharam recentemente
um canal de TV vindo diretamente do
Oriente. A TV Coréia transmite uma
programação variada com telejornais,
documentários etc. e agrada principalmente a quem ainda não entende bem o
português. "Minha avó fala muito pouco
de português e assiste bastante ao canal
coreano", conta Eun Kyun Ahn, de 22
anos, que mora no Brasil há 13.
"E eu acabo assistindo também. Apesar de ter saído do meu país há muitos
anos, gosto de manter contato com a língua, ver notícias, ficar por dentro do que
acontece lá."
Os árabes também têm opções: além
do canal ART (Arab Radio & Television), com atrações sempre nessa língua,
os mais de 10 milhões de descendentes
de libaneses e sírios no Brasil ainda podem saber um pouco mais sobre sua cultura no "Especial Árabe", exibido pelo
Canal Comunitário às segundas-feiras.
O programa, com meia hora de duração, faz a cobertura dos principais eventos da comunidade árabe em São Paulo.
"Fiquei surpreso com a audiência que o
programa tem no dia em que estava andando na rua 25 de Março (centro de São
Paulo) e um monte de gente me reconheceu", conta Mohamed Said El Orra,
apresentador e produtor do "Especial
Árabe", que já entrevistou personalidades como os príncipes donos do time de
futebol árabe Al Nassr e um dos conselheiros do rei saudita.
A comunidade judaica, também numerosa no país, conta com três programas na TV brasileira. "Mosaico", sem
dúvida o mais antigo -já que é o programa que está há mais tempo no ar,
com 39 anos-, é exibido pela TV Gazeta, com documentários e entrevistas
-às vezes em hebraico- e conta com a
participação do rabino Henry Sobel.
"Shalom Brasil", do Canal Comunitário e da TV Milenium, faz cobertura de
festas da comunidade judaica, apresenta
notícias de Israel -tem até uma correspondente no país- e também traz a participação de um rabino, que responde a
perguntas dos telespectadores e mostra a
posição da religião sobre questões polêmicas. "Gosto de definir o programa como o "Fantástico" da comunidade judaica", brinca Tania Hollender, uma das
produtoras e apresentadora do "Shalom
Brasil". Produzido no Rio de Janeiro, o
"Comunidade na TV" pode ser visto todos os domingos na CNT.
Outro programa da emissora é o
"Show da Malta", exibido aos domingos.
Criado há 14 anos, tem como tema Portugal e seus descendentes no Brasil.
"Sempre vamos para a Europa fazer reportagens, como no próximo dia 24,
quando estaremos no Porto mostrando
a festa de São João de lá", diz Luzinete
Melo, uma das fundadoras do programa.
Nem só os estrangeiros ou seus filhos
brasileiros podem se beneficiar com a
"torre de babel" que é a televisão brasileira. Segundo Serge Borg, diretor pedagógico da Aliança Francesa de São Paulo,
canais como o francês TV5 são fundamentais no aprendizado de uma nova
língua. "Nas nossas aulas, a TV5 é um
importante instrumento de ensino, já
que é mais um meio para o aluno ouvir a
língua falada", diz.
Para a professora alemã Cilly Sidi, o
problema dos canais internacionais é
que às vezes a programação se torna enfadonha. "No caso da Deutsche Welle,
era preciso ter mais filmes, shows etc, em
vez de tanto noticiário."
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