São Paulo, domingo, 12 de novembro de 2000

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DUELO DE TITÃS
O programa "Gigantes do Ringue - Nova Geração", com jovens atletas, desperta a ira de veteranos, que foram excluídos da atração
Volta do "telecatch" à TV oculta luta nos bastidores

DA REPORTAGEM LOCAL

QUEM vê as cenas de luta travadas no "Gigantes do Ringue - Nova Geração", exibido dentro do "Comando da Madrugada" (Gazeta, sábado, 0h), mal imagina que a verdadeira briga do programa está sendo travada nos bastidores.
"Eles estão pegando um pessoal não treinado para a luta livre e desmerecendo o restante. O "telecatch" pode perder a credibilidade", diz Aparecido da Hora Freitas, o Motoqueiro Trovão, 43, sobre a atração exibida pela Gazeta.
Trovão é integrante da velha guarda da luta livre e membro da Associação Brasileira de Luta Livre, cujos integrantes se apresentavam no "Campeões do Ringue", exibido pela Record nos anos 80.
Juntamente com Michel Serdan, 57, que atualmente é o responsável pelo novo "Gigantes do Ringue", Trovão era um dos participantes de velhos programas de luta livre, mas rompeu com o antigo companheiro de ringues.
"Hoje, tudo mudou. Barbado e gordo aqui não tem vez. O que atrai atualmente é o corpo, estou apostando nisso. Os participantes são todos novos atletas. A maioria, além de fisiculturismo, faz alguma outra luta", afirma Michel Serdan, que diz se inspirar no estilo "pirotécnico" das lutas exibidas na TV norte-americana pela WWF (World Wrestling Federation), farta em humor, encenações e efeitos visuais e sonoros.
"A nossa diferença em relação aos americanos é que o público daqui gosta mais de porrada. A WWF está muito evoluída. Tem muito efeito, fumaça, jogo de luz. Mas o que é bom para os EUA é bom para o Brasil. Não somos uma colônia?", pergunta Serdan.
O estilo irreverente da luta livre americana é reproduzido com a inclusão de personagens como Luca, o Stripper, que, ao pisar no ringue, é "atacado" por um grupo de mulheres, antes mesmo de encarar seu adversário. Há também Black Star, um personagem gay que distribui florzinhas para os demais lutadores.
No entender de Trovão, que se diz um nacionalista, a escola norte-americana na qual se inspira Serdan e os fisicultores que integram seu programa não representam a legítima luta livre brasileira.
"O programa deles é cheio de robô. Eles treinam luta livre por uma semana e entram no ringue. Mas eles ainda aproveitam os personagens que já criamos para fazer os deles", afirma o veterano.
Segundo Trovão, até mesmo o projeto de criar o novo programa foi roubado dos veteranos. "Entramos em contato com Goulart de Andrade, mas, no dia de assinar o contrato, lá estava o Toni Auad (empresário do pugilista Popó e do grupo ligado a Serdan). Queriam que ele tomasse conta de tudo e que nós apenas tomássemos parte", diz.
A versão de Michel Serdan é diferente. "O Toni não furou ninguém. Ele foi chamado pela equipe do "Comando" para dirigir o departamento comercial do "Gigantes do Ringue". Demorei dez anos para voltar às TVs porque não contava com um responsável pela área comercial. Já o Trovão disse não querer passar de patrão a empregado. Ele fez a opção dele", afirma.
Auad está investindo em produtos ligados ao "Gigantes do Ringue". "Fechei acordo para criar as figurinhas dos lutadores, que serão vendidas em chicletes, e vamos comercializar dez fitas de VHS com as lutas", diz o empresário.
Enquanto isso, os veteranos fazem aparições em programas como "Silvio Santos", do SBT, "Turma do Didi" e "Programa do Jô", na Globo, e "Mulheres", na Gazeta. "Um programa surgirá naturalmente, graças à nossa irmandade e humildade", diz o Motoqueiro. "Se estou certo ou não, o tempo vai dizer", contra-ataca Serdan. (BRUNO GARCEZ)



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