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PROFISSÃO PERIGO
Ameaçada, ela fugiu do Rio e agora processa a emissora
Agência O Dia/Reprodução da TV
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Traficantes da Rocinha em imagens feitas com câmera oculta por Cristina Guimarães
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CARLA MENEGHINI
DA REDAÇÃO
HÁ CERCA de dois meses a jornalista Cristina Guimarães, 38, vive escondida. Co-autora da reportagem "Feira de Drogas" -exibida no Jornal Nacional em agosto e uma das vencedoras
do Prêmio Esso 2001-, ela diz ter sofrido várias ameaças de pessoas ligadas aos
traficantes da favela da Rocinha (Zona
Sul do Rio), cujos rostos foram mostrados na televisão.
Dizendo-se cansada de esperar pelo
auxílio da Rede Globo, Cristina entrou
com uma ação trabalhista contra a emissora e se afastou do trabalho e do Rio de
Janeiro. Agora, pede ajuda à Anistia Internacional.
Como foi a reportagem?
Entrei na Rocinha e na Mangueira (Zona Norte) com uma microcâmera escondida na bolsa. Fiquei durante quase seis
horas lá dentro. Pelas imagens, dá para
identificar os traficantes. Um deles foi
preso logo depois da exibição.
Quando você começou a ser ameaçada?
Em setembro, quando voltei de uma licença, pessoas que trabalham na TV
Globo e moram na Rocinha me disseram
que os traficantes estavam oferecendo
R$ 20 mil pela minha cabeça. Começaram a me telefonar constantemente -e
dava para identificar que era um número
da área da Rocinha. Quando eu atendia,
perguntavam se quem estava falando era
a "dona ferrada". Umas duas ou três vezes, um motoqueiro com capacete bateu
no vidro do meu carro e perguntou se eu
era a Cristina.
Qual foi a atitude da Globo quando soube das ameaças?
Não é bem a TV Globo... A chefia do
jornalismo da emissora falava que eu
não devia esquentar a cabeça com aquilo, que não ia acontecer nada comigo.
Afinal, eu já tinha feito outras reportagens desse tipo.
Como foi seu afastamento?
Eu comecei a me sentir muito mal. Só
dormia sob efeito de calmantes. Em novembro, decidi entrar na Justiça contra a
Globo. Fui a primeira pessoa do Brasil a
me afastar de uma empresa por liminar
do Ministério do Trabalho.
E hoje, qual é a sua situação?
Vivo escondida. Espero resposta da
Anistia Internacional para sair do país.
E em relação à Rede Globo?
Só quando saiu a liminar eles me chamaram para conversar, mas não volto
para o Rio. Só espero receber o que a
emissora me deve. Não cheguei a receber
nem o dinheiro do Prêmio Esso.
A emissora não ofereceu nenhum tipo
de auxílio?
Não. Minha família me tirou do Rio e
contratou seguranças para me acompanharem.
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