São Paulo, domingo, 14 de junho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PERFIL
"Sou um foca de TV', diz Amorim


Apresentador teme gigantismo da Globo e acha o telejornalismo do país anódino e despolitizado


RUI DANTAS
da Reportagem Local

O jornalista Paulo Henrique Amorim, 55, da Rede Bandeirantes, acredita ser um aprendiz na TV e se auto-intitula um "foca" na área. Foca, no jargão jornalístico, é o profissional em início de carreira.
Amorim atualmente apresenta e edita o "Jornal da Band", exibido de segunda a sábado, às 20h, e do "Fogo Cruzado", um programa de debate dominical, às 22h, desde janeiro de 97.
Durante a Copa, Amorim e o jornalista Armando Nogueira estarão apresentando o "Papo de Bistrot", na Band, diariamente, após o "Apito Final".
"Tenho muito a aprender ainda. Quando estive nos EUA, como correspondente da Globo (90 a 96), minha chama de repórter reacendeu", diz.
Ex-editor de economia e correspondente da Globo entre 1985 e 96, o jornalista não poupa críticas à sua ex-empregadora quando o assunto é o gigantismo da empresa.
Para ele, o Brasil pode chegar a um momento em que "ou se trabalha para o grandalhão (Rede Globo) ou não se trabalha para lugar nenhum. Isso fere a liberdade de imprensa".
Ataques à parte, o apresentador não é o que exatamente se pode chamar de "foca".
Atuando há 37 anos como jornalista, trabalhou como editor nas revistas "Veja", "Exame" e "Realidade" e dirigiu o "Jornal do Brasil" entre 1976 e 1984.
Sua carreira televisiva começou em 1984, quando o apresentador foi convidado para ser diretor de jornalismo da Manchete.
Um ano depois, Amorim ingressava na Globo, a convite do ex-chefe de jornalismo da emissora Armando Nogueira.
"Ele achou que eu poderia ser um jornalista de vídeo, se tirasse os óculos."
Como editor e colunista de economia da Globo, Amorim diz se orgulhar de "grandes furos" dados entre 1984 e 1990.
Ele destaca, entre seus "furos", os lançamentos dos planos econômicos Cruzado e Collor, que afirma ter tornado público em primeira mão.
Entre 1993 e 1996, o jornalista também foi colaborador do programa "World Reporter", apresentado pela rede norte-americana de TV a cabo CNN.

A voz

Dono de uma voz que considera "peculiar", Paulo Henrique Amorim rejeita comparações.
Mas ressalta que essa característica pode ter-lhe ajudado, reproduzindo frase do tenor italiano Luciano Pavarotti sobre a cantora lírica Maria Callas.
"Eu presenciei o Pavarotti dizer: "Não sei se a Maria Callas era a maior cantora lírica do mundo, mas todo mundo sabia que era a Maria Callas quando ela cantava. Esse é meu caso, mal comparando."
Sobre a similaridade na entonação da voz com Paulo Francis, Amorim rebate dizendo que era Francis quem o imitava. "As comparações são uma praga da TV", contesta.
Paulo Henrique Amorim defende com afinco o seu programa. Para ele, o "Jornal da Band" é o melhor que há hoje no país.
"Se você sair na rua, o Brasil que você vai encontrar está mais no "Jornal da Band' do que nos outros jornais", afirma.
Amorim aponta que os telejornais no Brasil vivem uma crescente "despolitização" de seu noticiário.
"O telejornalismo brasileiro é anódino e incolor. Não há discussão de políticas públicas, como a educacional, a habitacional, a de saúde. Eu tenho feito isso no "Fogo Cruzado'", rebate por antecipação.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.