São Paulo, domingo, 15 de setembro de 2002

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"A televisão não consegue mostrar a periferia", diz Netinho

DA REDAÇÃO

José de Paula Neto, o Netinho, apresentador do programa "Domingo da Gente", da TV Record, estreará como ator em "Turma do Gueto", da qual é co-produtor. O ex-pagodeiro do grupo Negritude Júnior, que diz ser um "representante da periferia", falou ao TV Folha.

Como você vê o desafio de interpretar?
Não vejo como uma dificuldade. Retratar a periferia é mostrar minha vida e minha origem. Os atores que indiquei [Afro X, Simony e Compadre Washington] são pessoas que vieram de lá, não são profissionais, mas vão saber interpretar porque já enfrentaram as situações da periferia. Tivemos aulas de interpretação, fazemos leituras de textos e trocamos muitas idéias para não decepcionar.
Como é seu personagem?
O professor Ricardo é um sonhador, acredita na educação e acha que a escola pública tem um papel fundamental no desenvolvimento do país, mesmo sabendo que os professores têm um salário ridículo e uma estrutura de trabalho péssima, com meninos desmotivados. O personagem tenta contrariar isso. É o primeiro seriado protagonizado por negros que não interpretam escravos ou empregados. É um tabu da TV que estamos quebrando.
A série pretende também incentivar a ação social?
Só o fato de existir um seriado onde todas as raças aparecem com igualdade já é um trabalho social formidável. A idéia surgiu após os lançamentos de "Malhação" e "Sandy & Júnior", que retratam a escola particular, a classe média alta. A televisão não consegue mostrar a periferia porque as pessoas que têm poder de decisão e os próprios autores não conhecem a periferia, não têm afinidade.
É uma fórmula alternativa ao modelo de teledramaturgia global...
Sim, também, os atores negros da Globo já imploram muito à emissora para fazer algo nesse sentido. Simplesmente, não conseguem. Alguns autores reclamam da cota de 25% de negros em dramaturgia e acham errado. Mas como vão escrever sobre negros se não os conhecem? Pertencem a uma elite e vivem em outro mundo. Infelizmente, não temos pessoas da raça negra com poder de direção nas emissoras brasileiras. Não temos representatividade. É engraçado, conseguem retratar famílias italianas e não mostram o negro e outras raças que vivem no Brasil. (RR)


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