São Paulo, domingo, 16 de abril de 2000


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FALANDO DAQUILO
Programas que debatem questões ligadas ao sexo e à sexualidade tornam-se um filão de sucesso nas grandes redes e nos canais da TV paga
Emissoras investem em "sexo verbal"

Divulgação
Ludmila Rosa, do "Erótica MTV"


BRUNO GARCEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

QUANDO o assunto é sexo, as emissoras de TV demonstram um apetite insaciável. Após o sucesso do "Erótica MTV", no ar desde janeiro de 99, o número de atrações que promovem debates e até "game shows" ligados ao tema cresceu significativamente na TV.
A própria MTV deve aumentar o espaço dedicado a discussões sobre sexo em sua programação. A emissora estuda exibir no segundo semestre uma atração na linha do seu "Na Real" (uma espécie de novela com pessoas comuns) sobre sexo e comportamento.
O projeto do programa foi apresentado pelo psiquiatra Jairo Bouer, que responde a dúvidas de telespectadores no "Erótica MTV". Recentemente, o "Erótica" passou a contar, esporadicamente, com a presença de pais de jovens, que participam dos debates travados com a garotada. "Como muitos pais pediam para participar, decidimos atender às suas reivindicações", afirma Ludmila Rosa, apresentadora do "Erótica".
Outro programa que também decidiu investir no sexo falado é o "O+", da Bandeirantes. Há três semanas, a atração passou a exibir o quadro "Sexo Positivo", onde jovens tiram suas dúvidas sobre sexo fazendo perguntas a especialistas na área. A mesma emissora já traz há cinco anos no matinal "Dia Dia" um quadro com o ginecologista Elsimar Coutinho (leia texto ao lado).
A profusão de atrações que tratam de sexo fez com que psicólogos e sexólogos se tornassem figurinhas carimbadas em diferentes canais. Especialistas como a psicóloga e colunista da Folha Rosely Sayão e a ginecologista Albertina Duarte são presença constante em programas como o "Turma da Cultura", o "O+", da Band, e o "Programa Livre", do SBT.
Vildomar Batista, diretor do "Programa Livre", comenta que discussões sobre sexo rendem inclusive números expressivos de audiência. "Na semana retrasada, durante um dos blocos dedicados a sexualidade (são, ao todo, dois por programa), chegamos a ter picos de audiência que nos fizeram empatar com o "Programa do Jô", da Globo. Sem dúvida, sexualidade é um tema que pesa na briga pela audiência", opina.
Até mesmo o insuspeito "Fala Que Eu Te Escuto", da Record, apresentado pelo bispo da Igreja Universal do Reino de Deus Clodomir Santos, está se rendendo ao sexo verbal. Alguns dos recentes tópicos debatidos no programa foram "troca de casais: promiscuidade ou fuga à rotina" e "por que os homens querem sexo sem compromisso".
Além dos tradicionais "tira-dúvida" sexuais, as redes de TV também providenciam uma pitada extra de pimenta. É o caso do "Puro Êxtase", exibido em rede nacional pela CNT, exceto para São Paulo, onde pode ser captado só pelos assinantes da Sky e da DirecTV.
Fora os picantes debates que exibe, que podem ser tanto com atores pornôs como com sexólogos, "Puro Êxtase" traz também clipes de erotismo "light", mas "nunca com sexo explícito e sempre com enredos inteligentes", garante o diretor, Dimas de Oliveira Jr.
Os enfoques dos programas que lidam com sexualidade são mais variados do que o repertório de posições do "Kama Sutra". Há desde o formato tradicional do "Turma da Cultura", em que os participantes de escolas decidem qual será o tema do dia e debatem com especialistas que abordam aspectos psicológicos e físicos, até o irreverente "Carnal Know-ledge", do Eurochannel, um "game show" onde dois casais disputam para ver qual deles entende mais de sexo.
Para aferir seus conhecimentos, os apresentadores perguntam-lhes, por exemplo, "o que é AC/DC?" (bissexual) ou "o que é swing?" (troca de casais) ou "como você faz para seu parceiro ficar excitado sem tocá-lo?".
Além do Eurochannel, outros canais de TV paga resolveram apostar em programas que oferecem um tratamento original para temas ligados à sexualidade. O "Real Show", do Multishow, exibe, por exemplo, reportagens sobre casais que fazem cursos para reaprender a se tocar ou sobre um programa de rádio que dá aulas de sexo.
Já a revista semanal "Sex TV", do GNT, se volta para a diversidade do sexo, podendo mostrar desde a ligação entre amamentação e estímulo sexual feminino ou trazer uma entrevista com a atriz pornô que bateu o recorde de parceiros em um só dia.

Interatividade
No programa "O+" os debates são travados no auditório e na rua. A apresentadora Maria Amorim comanda um "vox populi", entrevistando transeuntes, enquanto o apresentador Otaviano Costa antecipa para a platéia o tema do dia e quem será o entrevistado.
Tratar de sexo na TV exige, além de jogo de cintura, um forte senso de profissionalismo. É o que garante Jairo Bouer. "Deixo claro que não somos um consultório terapêutico. Damos dicas, mas não temos a pretensão de resolver um problema. Do contrário, cairíamos na superficialidade", afirma. No entender de Ludmila Rosa, a responsabilidade desse tipo de atração é reforçada pelas distorções presentes na sociedade brasileira.
"No nosso país se fala muito de sexo na música e nos meios de comunicação, mas muitas vezes de forma preconceituosa e machista. O nosso enfoque visa esclarecer e fazer pensar, essa é a grande diferença."


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