São Paulo, domingo, 16 de julho de 2000


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MADE IN JAPAN
Especialistas tentam explicar o sucesso dos desenhos japoneses entre as crianças; produções viram arma na guerra pela audiência entre as redes de TV
TV brasileira se rende a desenho nipônico

Reprodução
Especialistas tentam explicar por que as crianças gostam tanto de desenhos japoneses


BRUNO GARCEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

NOS anos 70, "Speed Racer" dominava as pistas de corrida e as telas de TV. Em meados dos anos 90, o futurista "Cavaleiros do Zodíaco" desbancou diversos outros programas infantis. Agora, não é apenas uma animação japonesa que se destaca na programação televisiva, mas várias. A Globo, graças a "Digimon", desenho calcado em "Pokémon" exibido pela Record, vem elevando os índices de audiência de suas manhãs. Antes, vinha perdendo frequentemente no horário para o SBT e a Record.
"Digimon" e "Pokémon" estão servindo, respectivamente, de combustível para a disputa entre os matinais "Férias Animadas", da Globo, e "Eliana & Alegria", da Record. Tendo estreado no início deste mês, "Digimon" tem levado a melhor, segundo o Ibope (veja quadro abaixo). A Record promete nova munição para outubro, quando entram no ar 52 episódios inéditos de "Pokémon".
Os dois desenhos têm enredos com tramas fantásticas. "Pokémon" acompanha os passos de Ash, garoto de 10 anos que decide se tornar mestre pokémon, mas antes precisará vencer o maior número possível de batalhas, ao lado de seu amigo Pikachu. "Digimon" fala de um grupo de crianças que acaba tendo em mãos os digivices, aparelhos que os transportam para um mundo digital, o digimundo. Lá, conhecem tanto criaturas perversas como o Devimon, que tenta dominar o digimundo e, por tabela, a Terra, como os digimons do bem, que os ajudam a combater os vilões.
Uma trama fantástica também rege "Dragon Ball Z", exibido de segunda a sexta pela Band. O anime, termo pelo qual são conhecidas as animações japonesas, é inspirado em uma lenda popular do Japão. O desenho traz a evolução das aventuras retratadas em "Dragon Ball", que até poucas semanas ia ao ar no SBT. Na contramão das grandes redes, a emissora deixou de passar a atração e não tem planos de voltar atrás.
Na esteira do sucesso das atuais atrações, mais desenhos nipônicos estão a caminho. A empresa Dá Licença, que licencia produtos da maior produtora contemporânea japonesa de anime, a Toei Animations, é responsável pelo licenciamento no Brasil de artefatos ligados a "Digimon" e "Dragon Ball Z". A empresa negocia com Band, Record e Globo a venda de diversas séries de animação, como "Sailor Moon" e "Cavaleiros do Zodíaco", que pode voltar ao ar no ano que vem, na Globo. A Band pretende, a partir de agosto, ampliar sua programação infanto-juvenil, estreando novos desenhos japoneses.
As crianças, principal público-alvo dos desenhos nipônicos, agradecem. Para especialistas, há várias explicações para o sucesso que tais desenhos desfrutam entre os jovens. Segundo a professora Sonia Luyten, que defendeu a tese de doutorado "Mangá - O Poder dos Quadrinhos Japoneses", o fascínio pelo anime é causado por uma série de variantes.
"A febre que caracteriza essas atrações é típica do Japão. É uma sociedade de consumo muito forte, com uma excelente máquina de divulgação. Assim que a animação é lançada, chega também a versão em quadrinhos e em game. Depois, quando um desenho cai no esquecimento, como já aconteceu com "Cavaleiros do Zodíaco", surge logo um substituto", afirma a professora.
O mercado confirma a análise da professora. Atualmente, há 172 produtos licenciados de "Pokémon", entre artigos de festa, álbum de figurinhas, lancheiras, cadernos e até xampus. Com a estréia do longa-metragem "Pokémon 2", no próximo dia 21, o lucro gerado por tais produtos decerto ainda aumentará.
Além do forte apelo publicitário, os animes dispõem, segundo Sonia Luyten, de elementos clássicos, como a ambivalência entre o bem e o mal e heróis que lutam contra forças cósmicas. Entre os recursos modernos que causam fascínio do público, diz ela, figuram alusões que os desenhos fazem a recentes recursos tecnológicos e o fato de serem modismos também nos EUA e na Europa.
De acordo com Marcelo Tassara, professor de animação do curso de audiovisual da USP, a febre em torno da animação japonesa é, de certa forma, imposta. "Há uma linha publicitária que empurra esses personagens para as crianças", afirma. Além do consumo forçado, existe o tom escapista promovido pelos cartuns. "Os desenhos sempre reportam a um mundo imaginário, que agrada também aos adultos", diz Tassara.
Segundo Rogério de Campos, diretor da editora Conrad, responsável pela revista quinzenal "Pokémon Club", a dramaticidade dos japoneses se aproxima do gosto brasileiro. "A pieguice e o estilo meloso japonês têm muito a ver com o mar de lágrimas das novelas brasileiras. Além disso, eles possuem uma relação de fascínio e estranhamento diante da cultura norte-americana que nós também compartilhamos."
Além de tecer análises sobre os cartoons japoneses, o diretor da Conrad também se prepara para lançar novos produtos. Ainda neste semestre, a editora deve soltar no mercado duas novas revistas ligadas aos desenhos "Dragon Ball" e "Dragon Ball Z". As publicações chegam em um momento que lhes é favorável. Anteontem, tinha estréia prevista nos cinemas nacionais o longa "Dragon Ball Z - O Filme". Além de "Dragon Ball", "Digimon" é outro que ganhará sua própria revista. A Abril levará às bancas no mês que vem a publicação oficial do anime, com tiragem inicial de cerca de 300 mil exemplares.


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