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MADE IN JAPAN
Especialistas tentam explicar o sucesso dos desenhos japoneses entre as crianças; produções viram arma na guerra pela audiência entre as redes de TV
TV brasileira se rende a desenho nipônico
Reprodução
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Especialistas tentam explicar por que as crianças gostam tanto de desenhos japoneses |
BRUNO GARCEZ
DA REPORTAGEM LOCAL
NOS anos 70, "Speed Racer" dominava as pistas de corrida e as telas de
TV. Em meados dos anos 90, o futurista
"Cavaleiros do Zodíaco" desbancou diversos outros programas infantis. Agora,
não é apenas uma animação japonesa
que se destaca na programação televisiva, mas várias. A Globo, graças a "Digimon", desenho calcado em "Pokémon"
exibido pela Record, vem elevando os índices de audiência de suas manhãs. Antes, vinha perdendo frequentemente no
horário para o SBT e a Record.
"Digimon" e "Pokémon" estão servindo, respectivamente, de combustível para a disputa entre os matinais "Férias
Animadas", da Globo, e "Eliana & Alegria", da Record. Tendo estreado no início deste mês, "Digimon" tem levado a
melhor, segundo o Ibope (veja quadro
abaixo). A Record promete nova munição para outubro, quando entram no ar
52 episódios inéditos de "Pokémon".
Os dois desenhos têm enredos com
tramas fantásticas. "Pokémon" acompanha os passos de Ash, garoto de 10 anos
que decide se tornar mestre pokémon,
mas antes precisará vencer o maior número possível de batalhas, ao lado de seu
amigo Pikachu. "Digimon" fala de um
grupo de crianças que acaba tendo em
mãos os digivices, aparelhos que os
transportam para um mundo digital, o
digimundo. Lá, conhecem tanto criaturas perversas como o Devimon, que tenta dominar o digimundo e, por tabela, a
Terra, como os digimons do bem, que os
ajudam a combater os vilões.
Uma trama fantástica também rege
"Dragon Ball Z", exibido de segunda a
sexta pela Band. O anime, termo pelo
qual são conhecidas as animações japonesas, é inspirado em uma lenda popular do Japão. O desenho traz a evolução
das aventuras retratadas em "Dragon
Ball", que até poucas semanas ia ao ar no
SBT. Na contramão das grandes redes, a
emissora deixou de passar a atração e
não tem planos de voltar atrás.
Na esteira do sucesso das atuais atrações, mais desenhos nipônicos estão a
caminho. A empresa Dá Licença, que licencia produtos da maior produtora
contemporânea japonesa de anime, a
Toei Animations, é responsável pelo licenciamento no Brasil de artefatos ligados a "Digimon" e "Dragon Ball Z". A
empresa negocia com Band, Record e
Globo a venda de diversas séries de animação, como "Sailor Moon" e "Cavaleiros do Zodíaco", que pode voltar ao ar
no ano que vem, na Globo. A Band pretende, a partir de agosto, ampliar sua
programação infanto-juvenil, estreando
novos desenhos japoneses.
As crianças, principal público-alvo dos
desenhos nipônicos, agradecem. Para
especialistas, há várias explicações para
o sucesso que tais desenhos desfrutam
entre os jovens. Segundo a professora
Sonia Luyten, que defendeu a tese de
doutorado "Mangá - O Poder dos Quadrinhos Japoneses", o fascínio pelo anime é causado por uma série de variantes.
"A febre que caracteriza essas atrações
é típica do Japão. É uma sociedade de
consumo muito forte, com uma excelente máquina de divulgação. Assim que a
animação é lançada, chega também a
versão em quadrinhos e em game. Depois, quando um desenho cai no esquecimento, como já aconteceu com "Cavaleiros do Zodíaco", surge logo um substituto", afirma a professora.
O mercado confirma a análise da professora. Atualmente, há 172 produtos licenciados de "Pokémon", entre artigos
de festa, álbum de figurinhas, lancheiras, cadernos e até xampus. Com a estréia do longa-metragem "Pokémon 2",
no próximo dia 21, o lucro gerado por
tais produtos decerto ainda aumentará.
Além do forte apelo publicitário, os
animes dispõem, segundo Sonia Luyten,
de elementos clássicos, como a ambivalência entre o bem e o mal e heróis que
lutam contra forças cósmicas. Entre os
recursos modernos que causam fascínio
do público, diz ela, figuram alusões que
os desenhos fazem a recentes recursos
tecnológicos e o fato de serem modismos também nos EUA e na Europa.
De acordo com Marcelo Tassara, professor de animação do curso de audiovisual da USP, a febre em torno da animação japonesa é, de certa forma, imposta.
"Há uma linha publicitária que empurra
esses personagens para as crianças",
afirma. Além do consumo forçado, existe o tom escapista promovido pelos cartuns. "Os desenhos sempre reportam a
um mundo imaginário, que agrada também aos adultos", diz Tassara.
Segundo Rogério de Campos, diretor
da editora Conrad, responsável pela revista quinzenal "Pokémon Club", a dramaticidade dos japoneses se aproxima
do gosto brasileiro. "A pieguice e o estilo
meloso japonês têm muito a ver com o
mar de lágrimas das novelas brasileiras.
Além disso, eles possuem uma relação
de fascínio e estranhamento diante da
cultura norte-americana que nós também compartilhamos."
Além de tecer análises sobre os cartoons japoneses, o diretor da Conrad
também se prepara para lançar novos
produtos. Ainda neste semestre, a editora deve soltar no mercado duas novas
revistas ligadas aos desenhos "Dragon
Ball" e "Dragon Ball Z". As publicações
chegam em um momento que lhes é favorável. Anteontem, tinha estréia prevista nos cinemas nacionais o longa
"Dragon Ball Z - O Filme". Além de
"Dragon Ball", "Digimon" é outro que
ganhará sua própria revista. A Abril levará às bancas no mês que vem a publicação oficial do anime, com tiragem inicial de cerca de 300 mil exemplares.
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