São Paulo, Domingo, 18 de Julho de 1999
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Lançamento do "Supertécnico", da Band, e aumento de transmissões esportivas elevam a audiência de programas especializados em debates sobre futebol
Boom de bola

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Milton Neves mostra familiaridades com a bola no Morumbi


ALINE SORDILI
da Reportagem Local

Um apresentador de rádio está ampliando na TV a força dos programas de debates sobre futebol nas noites de domingo. Há quase três meses no comando do "Supertécnico", Milton Neves, 47, que trabalha há 28 anos na rádio Jovem Pan, levou o programa criado pela Bandeirantes em maio a uma média de sete pontos de audiência -índice três vezes maior que o do "Apito Final", que a emissora tradicionalmente exibia aos domingos.
Antes da criação do programa da Band, a audiência do "Mesa-Redonda", o mais tradicional do gênero, não ultrapassava os quatro pontos. Hoje bate nos mesmos sete. "O "Supertécnico" é muito oficial; só leva técnico. Mas eles não ganham da gente. O bom é que isso incentiva o esporte e dá audiência para todo mundo", afirma Fátima Roggieri, gerente do departamento de esporte da Gazeta.
A idéia do programa surgiu num jantar na casa do apresentador e ex-repórter esportivo Fausto Silva. "Estávamos lá, com vários técnicos, quando começou uma conversa interessante. Então, pensei em levar essas conversas para a TV", diz J. Hawilla, dono da Traffic, que comanda o esporte da Band.
"É uma nova visão do futebol e escolhi o Milton Neves por sua credibilidade no rádio e por sua memória futebolística. Ele desafia a memória dos técnicos. Caiu como uma luva", afirma Hawilla.
O "caxias" Milton Neves encara tudo como um grande desafio. "Estou aprendendo agora como se faz TV", afirma Milton Neves, que comanda o "Plantão Domingo" e o "Terceiro Tempo" na Jovem Pan, onde ainda tem um contrato de quase oito anos.
"Ele está pegando o "timing" de TV. Quando o programa ameaça cair, atiço ele pelo ponto eletrônico para levantar o programa", diz Hélio Silleman, diretor artístico.
Além desse programa, Milton Neves é apresentador de "Gol, o Grande Momento do Futebol", que conta antigas histórias. "Sou chamado de "diretor do departamento dos velhos" por causa das histórias de que lembro."
Outra função dele é criar polêmicas, apesar de não ter participado da mais célebre -a discussão entre o ex e o atual técnico da seleção brasileira. Zagallo, o ex, criticou Wanderley Luxemburgo, o atual, por usar terno em campo. O treinador rebateu, afirmando que Zagallo parece usar pijama. A discussão rendeu 12 minutos, onde Milton Neves não falou, mas a audiência do programa chegou a dar pico superior a dez pontos.
"Minha função não é aparecer. É fazer a ligação entre um assunto e outro. O programa tem humor, história, informação, opinião, ironia e pitadinhas venenosas. Se não, fica chato. Parece puxa-saco", declara o mineiro de Muzambinho, que começou no jornalismo por sua paixão pelo Santos da época de Pelé, que acompanhava pelo rádio nos anos 60 e 70.
Milton Neves também gosta de provocar. Na confusa final do Campeonato Paulista, neste ano, ele tripudiou sobre a concorrência quando entrevistou o corintiano Edílson, pivô da briga, pelo telefone: "Olha, o Edílson está em casa. Podem ligar para ele", disse.
Mesmo assim, Milton Neves celebra o "nível do "Supertécnico'". "Todos os técnicos gostam porque o programa é diferente dos outros."
É fácil gostar: cada técnico recebe como cachê R$ 2.000 por participação, além da passagem e hospedagem quando necessário.
O apresentador também é personagem de uma história curiosa. Quando está na rádio, ele costuma dormir antes dos jogos -prática que pode se estender pelo jogo se não for uma partida importante. "Começo muito cedo. Preciso de uma paradinha."
Seus contratos milionários também são comentados. Recentemente trocou o patrocínio da Schincariol pelo da Antarctica numa negociação de R$ 1 milhão por ano. Além disso, sua agência de publicidade para rádio trabalha com cerca de 40 anunciantes. Quanto ao seu contrato com a Traffic, limita-se a dizer que é "extremamente generoso e cativante", mas não cansa de dizer que preferiria que seu programa começasse às 22h, e não às 23h.
Mas o programa não recebe só elogios. A concorrência acusa o "Supertécnico" de ser chapa-branca por só entrevistar técnicos. Outra crítica que pesa é o fato de o programa ser originário da Traffic, empresa de marketing esportivo que é parceira da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), da Confederação Sul-Americana de Futebol e detém os direitos da Copa Mercosul. A Traffic estima em R$ 70 milhões o valor dos direitos de imagem nas competições que exibirá neste ano.
"Jogador tem mais apelo que técnico, que só dá a versão oficial. Meus convidados têm sempre um bastidor", alfineta Chico Lang, apresentador e chefe de reportagem do "Mesa-Redonda", que está no ar há 14 anos. "Sempre procuramos assuntos polêmicos dos campeonatos regionais", declara Roberto Avallone, companheiro de Lang.
"No "Cartão Verde", apostamos no jornalismo. Não há rabo preso com a cartolagem", afirma Marco Antônio Coelho Filho, diretor de jornalismo da Cultura. O programa tem médias de dois a três pontos (cada ponto equivale a cerca de 80 mil telespectadores na Grande São Paulo). O "Cartão Verde" é apresentado por Flávio Prado e conta com comentários de José Trajano e Juca Kfouri.
Mas as críticas parecem não abalar Milton Neves: "Estou orgulhoso do meu trabalho. Estamos envolvidos só com jornalismo".


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