São Paulo, domingo, 18 de outubro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NEM LUXO, NEM LIXO
Autor da minissérie qLabirinto' diz que, para ele, o mais difícil é agradar o telespectador médio
Braga se 'populariza' para escrever

GILBERTO DE ABREU
especial para a Folha

Autor de novelas como "Dancin' Days" e "Vale Tudo" e minisséries como "Anos Dourados", Gilberto Braga retorna à programação da Rede Globo com a minissérie "Labirinto", no ar a partir do próximo dia 27.
Nos papéis principais, dois de seus atores preferidos: Antônio Fagundes e Malu Mader.
Logo no primeiro capítulo, Ricardo Velasco (Fagundes) é visto com uma arma na mão. Caído à sua frente, está o corpo do empresário Otacílio (Paulo José). Velasco, que além de vice-presidente do grupo presidido por Otacílio tem um caso com a mulher dele é, portanto, o principal suspeito pelo assassinato.
Malu Mader vive uma garota de programa, cujo trânsito fácil pelas casas noturnas pode ajudar na elucidação do caso, que também trará como suspeito o personagem de Fábio Assunção.
Longe da TV desde 1995, quando a Globo exibia "Pátria Minha", Gilberto Braga é um especialista em retratar a alta sociedade carioca e também em mobilizar os telespectadores com suas discussões éticas.
"Labirinto" é mais uma manobra de guerra da Rede Globo na briga pela concorrência, e Braga, um dos principais trunfos da emissora para o próximo ano, quando o autor deverá voltar às novelas, no horário das seis. O próximo trabalho de Braga pode ser um remake de sua novela "Dancin' Days".
Os primeiros trabalhos de Braga para a TV foram adaptações de clássicos populares da literatura, como "Senhora", de José de Alencar e "Escrava Isaura", de Bernardo Guimarães. Tamanho foi o sucesso, que a obra de Guimarães tornou-se um dos maiores fenômenos de audiência no mondo todo.
A pergunta agora é: conseguirá o mais intelectualizado novelista brasileiro dialogar com o atual telespectador do horário, devorador compulsivo de tramas açucaradas e de tragédias da vida privada?
"O mais difícil em televisão é um cara com minha formação escrever para o espectador médio, que em geral não vê filmes sofisticados ou nunca leu um livro", reconhece o autor, para quem os primeiros capítulos da novela "O Dono do Mundo" foram os mais traumatizantes de tudo que já escreveu.
"A trama da novela e a discussão que ela suscitava eram tão próximas do mundo real que acabaram assustando o espectador mais pobre", diz Braga.
Na época, a audiência debandou para os dramalhões mexicanos do SBT. "Os telespectadores acharam a trama de "O Dono do Mundo' pessimista e acabei perdendo público para "Carrossel'", disse. "Para tê-los de volta, enchi a novela de raios de sol e esperança", lembra o autor, com ironia. "Ficou boba, mas deu certo."
Workaholic convicto, Braga escreve em média 30 páginas por dia, o que equivale a seis capítulos por semana. "Só consigo produzir em absoluto silêncio. A rotina é tão estafante que, no dia em que folgo, só consigo ficar deitado na cama", confessa.
O mundo de Gilberto Braga é, de fato, diferente do da grande maioria dos telespectadores que o assistem. Instalado em um espaçoso apartamento de frente para a praia do Arpoador, em Ipanema, zona Sul carioca, o autor divide sua intimidade com o amigo Edgar e o mordomo Ângelo, que há 16 anos trabalha para ele.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.