|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TV NO MUNDO
Daniella Perez, Bill Clinton e a mídia
ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha
Crimes em novelas costumam ter resolução clara
e definitiva. Ao final do
suspense, sempre se sabe
quem matou e como. O
mesmo não vem ocorrendo com os crimes que
acontecem fora da TV.
O relaxamento da pena
de Paula Thomaz e o indiciamento do presidente
Bill Clinton são dois exemplos da mesma embananação que ronda a relação
nem sempre óbvia entre o
que se torna visível e o que
é considerado verdadeiro.
Cinco anos depois, o caso Daniella Perez continua
sem solução. Até hoje não
se sabe quem matou Daniella, se ambos ou somente um dos dois acusados.
Tampouco se conhece ao
certo a mecânica do crime.
Mas Paula Thomaz conquista o direito de ficar em
regime de prisão semi-aberta graças ao bom comportamento demonstrado
durante o cumprimento de
apenas um sexto da sua pena. O advogado de Guilherme de Pádua pede a
anulação do julgamento.
Antecipando um desdobramento que já se previa,
Glória Perez encabeçou
uma campanha pela alteração do código penal no
sentido justamente de evitar que os responsáveis pelo assassinato de sua filha
pudessem ser libertados
antes de cumprir a totalidade da sua pena.
Mas a indignação pública amplificada pela lente
das câmeras de televisão
esbarrou na prepotência
discreta do sistema judiciário. O Código Penal não
foi modificado. O crime
não foi propriamente desvendado. Os magistrados,
à época ofendidos pelos
excessos cometidos por
uma cobertura jornalística
que, como bem apontou
na ocasião o então ombudsman da Folha, Mário
Vitor dos Santos, por vezes
se antecipou ao julgamento, condenando os acusados em repetidas simulações de hipotéticas versões
do crime, agora se vingam,
seguindo à risca a lei, com
o agravante de uma retórica preconceituosa.
No escândalo sexual de
Bill Clinton o excesso de
detalhes íntimos alimenta
uma cobertura que constrange a opinião pública
que resiste bravamente ao
que Carlos Fuentes, em artigo reproduzido na Folha
de domingo, classificou de
"golpe político armado
pela direita fundamentalista", que teria financiado
e instrumentalizado o promotor Kenneth Starr.
No caso Daniella Perez, o
judiciário carioca procura
se impor perante a mídia.
Mesmo que assim revele
sua anacrônica natureza
ineficiente e ideológica. No
caso Monica Lewinsky, a
promotoria usou a mídia
como aliada, vazando informações confidenciais.
A Presidência dos EUA
está imobilizada em um
momento em que a crise
econômica mundial pede o
posicionamento do líder
capitalista. É a acefalia e o
descontrole das instituições de um sistema que há
200 anos se pretende movido por uma lógica racional utilitária. E que ameaça
agonizar sob as ameaças de
fanatismos ascéticos.
E-mail: ehamb@uol.com.br
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|