São Paulo, domingo, 20 de setembro de 1998

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"LUNA CALIENTE"
Emissora grava em película microssérie sobre homem casado que se envolve com adolescente
Globo filma 'tragédia de erros'

ANNA LEE
enviada especial a Santa Cruz do Sul (RS)

"Luna Caliente" -série em quatro capítulos que a Globo está produzindo em película, sem data de estréia prevista- é uma "tragédia de erros", diz Jorge Furtado, diretor e um dos roteiristas do programa.
Na história -baseada no livro homônimo do escritor argentino Mempo Giardinelli-, Ramiro, um homem de 40 anos, vivido por Paulo Betti, deixa-se seduzir por uma adolescente, Elisa (Ana Paula Tabalipa), filha de um casal de amigos.
A história original se passa no norte da Argentina, em 1976.
Na adaptação, a trama foi transportada para o Brasil, numa cidade fictícia do interior do Rio Grande do Sul, em 1970, época do regime militar -o que é retratado na história.
A microssérie está sendo filmada nas cidades gaúchas de Santa Cruz do Sul e Rio Pardo.
Ramiro passa oito anos na França e, quando retorna ao Brasil, vai visitar o casal de amigos. Acaba ficando para dormir na casa deles e, no meio da noite, movido por um impulso incontrolável, vai até o quarto de Elisa.
Ela, que tinha se insinuado para ele, resiste à sua aproximação e diz que vai gritar. Apavorado, ele coloca um travesseiro sobre o rosto dela, na tentativa de calá-la.
Elisa perde os sentidos, e Ramiro pensa que ela está morta. Com medo de ser acusado de estupro e assassinato, ele foge. A partir daí, Ramiro se envolve em um assassinato e em uma trama policial para tentar escapar.
Como pano de fundo, sempre, a "luna caliente" quente, causadora de desejos ardentes, como convém aos amantes, protagonistas de paixões avassaladoras.
"Ramiro é um homem racional, de formação cartesiana, que inesperadamente se vê diante do sexo. Não consegue lidar com a paixão abrasadora, perde seu ponto de equilíbrio e se afoga num mar de erros sucessivos", conta Betti, sobre seu personagem.
Tudo isso por causa de Elisa, que Ana Paula define como uma personagem multifacetada. "Em cada momento ela se apresenta de uma forma diferente. É ingênua, sedutora, apaixonada, diabólica, cínica. Sua imprevisibilidade é que faz Ramiro perder o equilíbrio."
Quando se fala em uma história de um homem de meia-idade, que se apaixona por uma adolescente, não há como não lembrar o filme "Lolita", o clássico de Stanley Kubrick, de 1962 -baseado no livro de Vladimir Nabokov (1955)-, que acaba de ganhar uma releitura de Adrian Lyne.
No livro de Giardinelli, Elisa, que originalmente se chama Aricele, tem 13 anos. Na versão de Furtado, tem 18 recém-completados, uma forma de, segundo o diretor, "não ter problemas com o Juizado de Menores".
"O envolvimento entre Ramiro e Elisa é apenas um ingrediente. A história é fascinante porque sua narrativa é engenhosa. Tem uma surpresa a cada minuto. É uma trama de ação, catártica até o fim."

Projeto antigo
Foi a "engenhosidade" da trama de Mempo Giardinelli que fez Furtado, em 1988, quando leu pela primeira vez o livro "Luna Caliente", ir a Buenos Aires procurar o escritor para adquirir os direitos de filmar a história.
Chegou tarde. Giardinelli já tinha negociado com um produtor mexicano, que realizou o filme, mas não chegou a exibi-lo.
Mesmo assim, Furtado não desistiu. Começou a trabalhar no roteiro -que na versão atual divide com Carlos Gerbase e Giba Assis Brasil, seus sócios na produtora Casa de Cinema, de Porto Alegre. Tinha a certeza de que um dia contaria a sua tradução de "Luna Caliente".
Tanto é que, desde 1988, já tinha escolhido o ator Tonico Pereira para viver o pai de Elisa, Bráulio Tennenbaum. Ainda estão no elenco Paulo José e Fernanda Torres, entre outros.



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