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'GLUTÕES E DEVASSOS'
Federação luso-brasileira reclama que "O Quinto dos Infernos" deturpa a história
Portugueses fazem protesto contra minissérie global
RODRIGO RAINHO
FREE LANCE PARA A FOLHA
A FEDERAÇÃO das Associações
Portuguesas e Luso-Brasileiras enviou uma carta-manifesto à TV Globo
acusando a minissérie "O Quinto dos Infernos" de deturpar a história e denegrir
a imagem dos personagens. "Não podemos admitir, sem repúdio, a distorção de
fatos marcantes da história e o enxovalho de personagens que, na versão do
produtor, aparecem como glutões e devassos, fêmeas incontroláveis e garanhões compulsivos", diz a carta, assinada pelo presidente da entidade, Antonio
Gomes da Costa.
A federação, que congrega 150 instituições culturais, esportivas e assistenciais
de origem lusa, acusa ainda a emissora
de ser irresponsável e simplista. "Deve
haver, principalmente por parte de uma
televisão com a influência e o alcance da
TV Globo, a responsabilidade de impedir que se distorça a verdade histórica e
se reduza a vinda da Corte Portuguesa
para o Brasil, no início do século 19, à caricatura ou à pornochanchada."
A entidade, fundada em 1931, entende
que a minissérie contribuiu para a má
formação dos estudantes. "Os jovens poderão guardar uma boa imagem da sensualidade de Marcos Pasquim ou admirar os olhos azuis da Bruna Lombardi...
mas não ficarão com a mínima idéia do
papel que tiveram D. João 6º e D. Pedro
1º para a grandeza e o desenvolvimento
do país. Amputou-se a verdade e deu-se
asas ao estereótipo e à coscuvilhice."
Para Costa, a carta-manifesto da entidade deveria influenciar a emissora nas
próximas produções de época. "Que no
futuro a Globo leve em conta o tratamento depreciativo de "O Quinto dos Infernos", diz. "Os meios de comunicação não
devem fazer que as pessoas sintam vergonha do passado. Os valores culturais e
éticos devem ser preservados."
Luis Erlanger, diretor da Central Globo
de Comunicação, rebate as críticas da
carta. "Em praticamente todas as culturas são comuns manifestações irônicas
com relação à sua história. A minissérie
não se trata de uma brincadeira com personagens portugueses, há sátira também
com brasileiros, ingleses, franceses, com
toda a história, enfim", diz. "Na teledramaturgia, onde prevalece a liberdade de
criação, como foi dito antes do lançamento da série, nunca se procurou retratar uma realidade. É uma farsa assumida,
até nas músicas contemporâneas usadas
na sonoplastia. Certamente está estimulando o estudo da verdadeira história do
Brasil", completa.
A minissérie, que termina sexta, foi
marcada por polêmicas. A Justiça condenou a presença de menores em cenas picantes, o ator Ewerton de Castro abandonou o elenco por achar seu papel pequeno, e o autor, Carlos Lombardi, não
gostou das mudanças no horário.
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