São Paulo, domingo, 24 de novembro de 2002

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CAMPANHA

Comissão coloca telefone e site à disposição dos indignados

Câmara recolhe denúncias contra a apelação na TV

RODRIGO RAINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A CAMPANHA "Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania", criada pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, dá o primeiro passo para pressionar anunciantes e programas de TV a respeitarem o telespectador. Segundo seu idealizador, o deputado federal Orlando Fantazzini (PT-SP), 44, um Conselho, formado por membros de várias instituições, vai negociar mudanças nos formatos com as emissoras ou convencer empresas a não patrocinarem a apelação. Se nada disso funcionar, a idéia é promover um boicote do consumidor aos produtos dos "anunciantes da baixaria".


Quais os objetivos da campanha?
Classificar os programas de baixaria a partir de denúncias da população, formar um Conselho para analisar produções que tenham sistemática violação dos direitos humanos e afronta à Constituição Federal, e solicitar a alteração do formato à produtora ou emissora. Não havendo êxito, vamos procurar os patrocinadores e pedir que intercedam. Se, mesmo assim, não houver sucesso, vamos divulgar programas e anunciantes e estimular consumidores a não adquirirem produtos que financiam a baixaria.
Já há reclamações?
Várias, principalmente sobre programas infantis e outros que banalizam sexo e violência ou instigam preconceito racial. A maioria das queixas vem das mulheres e dos homossexuais.
Já existe uma lista de empresas que anunciam em programas sem qualidade?
Ainda não. Disponibilizamos o site www.camara.gov.br/cdh e o telefone 0800-619619 para que a população encaminhe as reclamações. No final do ano, pretendemos soltar uma relação dos programas de baixaria mais citados, mas sem classificação e patrocinadores.
Quem formará o Conselho?
O prazo para inscrição de entidades termina dia 28. Até 5 de dezembro, vamos selecioná-las.
Como emissoras e anunciantes serão pressionados?
Se não temos como intervir nas emissoras de TV, vamos ao consumidor, que não vai querer produto vinculado a imagem negativa.
Houve algo parecido em outros países?
Neste ano, na Itália, houve um dia de protesto contra a programação. Grande parte da sociedade não ligou a TV em protesto contra a programação de baixa qualidade.
Como surgiu a idéia da campanha?
A partir de e-mails com queixas e do caso do pedófilo de São Paulo. Um programa de TV ["Programa do Ratinho], SBT" mostrou cenas explícitas dele fazendo sexo oral com as crianças. Isso é crime, afronta o artigo 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Solicitamos à emissora que mostrasse apenas a imagem do criminoso. A partir daí, ele [Ratinho] passou a detonar a Comissão de Direitos Humanos e a minha pessoa. Recebi conselhos para não seguir com a campanha. Levei adiante e fui reeleito, sinal de que a população está mais indignada com a mídia.
Quando começa a negociação com as emissoras?
Assim que sair o parecer do Conselho sobre os programas. Promovemos um seminário e a Abert [Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV] teve posição muito ruim: "Quem não quer assistir, que mude de canal". É desrespeitosa com o cidadão.
O povo gosta de baixaria?
Isso é uma grande mentira. O povo assiste porque não tem condições de ir ao cinema, teatro ou de assinar canal fechado. Não há alternativa a essas porcarias.


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