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São Paulo, domingo, 25 de maio de 2003

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Ex-correspondentes de guerra travam uma batalha particular nos telejornais do início da madrugada; Globo leva vantagem

Por volta da meia-noite

Zé Paulo Cardeal/TV Globo
Ana Paula Padrão


RODRIGO RAINHO
FERNANDA DANNEMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

CAMPEÃO de audiência em seu horário -oficialmente às 23h30-, o "Jornal da Globo", apresentado pela jornalista e ex-correspondente de guerra Ana Paula Padrão, 37, acaba de ganhar mais dois concorrentes de olho em um público que é, majoritariamente, formado por mulheres.
O "Jornal da Record - 2ª Edição" e o "Jornal da Noite" (Band), apresentados por Paulo Henrique Amorim, 60, e Roberto Cabrini, 42, respectivamente, querem o segundo lugar no ranking do Ibope, que hoje pertence ao "Jornal do SBT", capitaneado por Hermano Henning, 57.
Na bagagem, os concorrentes de Ana Paula chegam com experiência similar -todos já passaram pela TV Globo e cobriram guerras. Agora, tentam fazer da inovação do formato sua maior arma em busca da audiência.
Na Globo, manter a audiência significa se preocupar com todos os tipos de público, oferecer informações exclusivas e, sobretudo, dar ao jornal um perfil analítico "para que não caia na solução fácil de ser um repeteco das notícias do dia", diz Padrão.
Séries de reportagens sobre assuntos de grande interesse no Brasil também são o foco do "Jornal da Globo", que, em breve, vai orientar os empreendendores sobre questões ligadas à micro-empresa.
Crescente no horário, o público feminino não pode ser esquecido. "Eu mesma pretendo realizar uma série sobre a nova mulher brasileira: o que ela quer, que caminhos trilhou no mercado de trabalho, e por que muitas ainda estão infelizes e com dificuldades no universo emocional", diz a jornalista.
A preocupação com as mulheres é flagrante no horário. Na última terça-feira, por exemplo, o "Jornal da Noite" exibiu reportagem sobre métodos anticoncepcionais. No "Jornal da Record", o assunto foi a violência contra a mulher. No informativo do SBT, o tema feminino foi a cartunista argentina Maitena Burundena, que concluiu que todas as mulheres são iguais. A julgar pelas pautas, talvez...
Para o editor-chefe do "Jornal da Noite", João Beltrão, "a concorrência dos telejornais virou briga de cachorro grande". "Hegemonia não é bom para ninguém. A Globo terá que mexer em seu jornal para não perder público", avisa, dizendo que sua atração também se direciona às mulheres. Para elas, serão feitas reportagens "sobre consumo e variedades".
Enquanto Cabrini começa o "Jornal da Noite" caminhando rumo à câmera e o apresenta andando pelo estúdio, Amorim investe na Internet e dá notícias em tempo real, tiradas da tela do seu laptop, que fica em primeiro plano. "É formidável que os outros não se importem com a interatividade. A TV está muito amarrada ao padrão Globo, mas eu me permito inovar", diz o jornalista, que elevou o número médio de telespectadores da atração de 176, 9 mil para 210,6 mil desde que assumiu o posto, em 10 de abril.
O editor-executivo do "Jornal da Record", Vander Pereira, optou pelo que chama de "informação suave". "Queremos que as pessoas durmam com a cabeça leve e sem dor de estômago", diz. "As interferências do Amorim trazem bom humor à nossa estratégia de notícias curtas e temas variados", afirma Pereira, dizendo que as seções temáticas dão agilidade ao telejornal. Na opinião de Henning, "sorrir e mostrar que está contente em dar a notícia" é essencial. Dividir os temas por seções também. Segundo ele, a audiência sobe com reportagens sobre saúde e com as seções "Tolerância Zero", sobre ações de policiais americanos, e "Aconteceu no Mundo", que mostra imagens trágicas ou pitorescas do exterior. "São alternativas ao formato da Globo. Imagino que o Silvio [Santos] sugeriu esses dois quadros por sentir necessidade de mostrar o combate ao crime com rigor", afirma o jornalista. Satisfeito com seu novo programa -que privilegia reportagens de comportamento e de polícia-, Cabrini, que deixou o vespertino "Brasil Urgente" nas mãos de José Luiz Datena, diz ser fundamental que o âncora tenha ampla experiência como repórter, e vem conciliando as duas funções. Na estréia, ele mesmo reportou a denúncia contra um oficial da Polícia Militar do Rio envolvido com o narcotráfico. Com direito até a câmera escondida. Para Cabrini, a nova função é mais coerente com sua carreira. "O jornalismo do fim da noite não é apelativo. A pressão pelo ibope é menor", diz.

Guerra
Primeiro jornalista brasileiro a fazer uma reportagem na Antártida, Hermano Henning, que cobriu a morte de Charles Chaplin (1889-1977) e a guerra Irã-Iraque (1980-1988), sempre desejou ancorar um telejornal e diz ter saído da Globo justamente por não ter tido este espaço.
"A tranquilidade de quem apresenta um telejornal é aparente, porque a responsabilidade é muito maior. A vida do correspondente é glamourosa, mas sou muito mais reconhecido agora", diz.
Para Amorim, que até hoje tem pesadelos com a guerra civil de Angola e com a Rebelião Zapatista [México], o reconhecimento atual não é maior do que quando trabalhava na Globo e, de Nova York, participava do "Fantástico".
"Se eu recebesse uma proposta para voltar a ser correspondente, aceitaria. Minha rotina era divertida. Eu falava com Pelé e com Madonna ao mesmo tempo", relembra.
Apaixonado pela reportagem, Cabrini, que encontrou PC Farias escondido na Tailândia em 1993, e já chegou perto de ser executado pelo exército talebã ao lado de um cinegrafista, já cobriu cinco guerras e diz que jamais deixará o trabalho de repórter. "Apenas me tornei mais seletivo", diz.
Ana Paula Padrão, que também enfrentou o perigo e se arriscou em Kosovo, sintetiza o espírito dos âncoras que saíram dos campos de guerra: "Persigo a informação exclusiva, o furo, missão de todo repórter, que é o que eu me orgulho de ser".


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