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CRÍTICA
TV consegue emplacar o "gay para viagem"
SÉRGIO DÁVILA
Editor interino de Domingo
Com discrição, sem alarde, a TV finalmente conseguiu emplacar o "gay
para viagem".
Explico. Passou meio
sem a atenção devida,
mas no bojo do pacotão
de estréias da TV paga da
semana passada veio a
nova série "Will & Grace" (Sony, quintas-feiras, 22h).
O programa e a reação
a ele na verdade são dois
pequenos marcos na TV
norte-americana e, portanto, daqui a dois anos,
na brasileira. Marcam o
dia em que o império logrou empacotar e vender
com segurança o homossexualismo para a cultura
da classe média.
"Will & Grace" conta
a história de dois amigos
(do título), ele gay, ela
não, que vão morar juntos. Não interessa se é
bom ou não.
Como assim, um dos
protagonistas é homossexual assumido? Sim.
Não houve a reação que
"Ellen" sofreu até sair
do ar, por exemplo? Nada. Passeatas? Zero. O
programa estreou, lá como aqui, sem qualquer
problema. Onde estão as
sérias senhoras das ligas?
As perguntas aparecem
na reportagem de capa
do mais recente número
da revista norte-americana "Entertainment
Weekly": "Gay men &
straight women - Why
Hollywood just loves
them" (Homens gays e
mulheres hetero - Por
que Hollywood adora os
dois).
A resposta: estamos falando do santo graal que
Hollywood sempre buscou. Finalmente, conseguiu-se o casal perfeito.
Estereotipado, como
sempre, mas perfeito. O
gay com a não-gay. Chocado?
Pois não fique. Primeiro, porque a dupla agrada à estável, mas cada vez
mais influente comunidade gay masculina.
Agrada também às mulheres hetero, que sempre sonharam com o
companheiro que presta
atenção no que elas falam, veste-se bem, entende e gosta de moda como
elas, é carinhoso e sensível e adora fazer compras.
Agrada ainda aos homens heterossexuais,
pois fala bem de nós (o
que é sempre agradável)
e não choca, já que não
mostra de maneira mais
crua a situação homem-homem.
Tudo não aconteceu de
repente. Há uma certa
cronologia (ou, em outras palavras, "eles" vinham nos preparando).
Em "Filadélfia", Tom
Hanks, o próprio sr.
Qualquer Um da América, era casado com Antonio Banderas.
Mas viu-se que homem
com homem não ia pegar. Então, veio "O Casamento de Meu Melhor
Amigo", em que Julia
Roberts termina o filme
com o amigo gay.
Aí, o golpe de misericórdia: Jennifer Aniston,
a mulher mais heterossexual do mundo, a Rachel
do seriado "Friends", se
apaixona pelo gay Paul
Rudd e leva o mundo às
lágrimas em "A Razão
do Meu Afeto" (em cartaz em São Paulo).
E a coisa começa a extrapolar o mundo das
imagens. Acaba de ser
lançado o livro "Sex Tips
from a Gay Man to
Straight Women" (Dicas
Sexuais de um Homem
Gay para Mulheres Hetero).
As autoras chamaram
quem, segundo elas,
mais entende de homem
-um homossexual masculino- e pediram que
ele contasse tudo o que
um heterossexual gosta
na cama.
Leia. É o best seller
atual entre a mulherada.
Talvez seja a "Bíblia"
dos novos tempos.
E-mail:
sergiodavila@uol.com.br
O jornalista Fernando de Barros e Silva está em férias.
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