São Paulo, domingo, 25 de outubro de 1998

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CRÍTICA

TV consegue emplacar o "gay para viagem"

SÉRGIO DÁVILA
Editor interino de Domingo

Com discrição, sem alarde, a TV finalmente conseguiu emplacar o "gay para viagem".
Explico. Passou meio sem a atenção devida, mas no bojo do pacotão de estréias da TV paga da semana passada veio a nova série "Will & Grace" (Sony, quintas-feiras, 22h).
O programa e a reação a ele na verdade são dois pequenos marcos na TV norte-americana e, portanto, daqui a dois anos, na brasileira. Marcam o dia em que o império logrou empacotar e vender com segurança o homossexualismo para a cultura da classe média.
"Will & Grace" conta a história de dois amigos (do título), ele gay, ela não, que vão morar juntos. Não interessa se é bom ou não.
Como assim, um dos protagonistas é homossexual assumido? Sim. Não houve a reação que "Ellen" sofreu até sair do ar, por exemplo? Nada. Passeatas? Zero. O programa estreou, lá como aqui, sem qualquer problema. Onde estão as sérias senhoras das ligas?
As perguntas aparecem na reportagem de capa do mais recente número da revista norte-americana "Entertainment Weekly": "Gay men & straight women - Why Hollywood just loves them" (Homens gays e mulheres hetero - Por que Hollywood adora os dois).
A resposta: estamos falando do santo graal que Hollywood sempre buscou. Finalmente, conseguiu-se o casal perfeito. Estereotipado, como sempre, mas perfeito. O gay com a não-gay. Chocado?
Pois não fique. Primeiro, porque a dupla agrada à estável, mas cada vez mais influente comunidade gay masculina. Agrada também às mulheres hetero, que sempre sonharam com o companheiro que presta atenção no que elas falam, veste-se bem, entende e gosta de moda como elas, é carinhoso e sensível e adora fazer compras.
Agrada ainda aos homens heterossexuais, pois fala bem de nós (o que é sempre agradável) e não choca, já que não mostra de maneira mais crua a situação homem-homem.
Tudo não aconteceu de repente. Há uma certa cronologia (ou, em outras palavras, "eles" vinham nos preparando). Em "Filadélfia", Tom Hanks, o próprio sr. Qualquer Um da América, era casado com Antonio Banderas.
Mas viu-se que homem com homem não ia pegar. Então, veio "O Casamento de Meu Melhor Amigo", em que Julia Roberts termina o filme com o amigo gay.
Aí, o golpe de misericórdia: Jennifer Aniston, a mulher mais heterossexual do mundo, a Rachel do seriado "Friends", se apaixona pelo gay Paul Rudd e leva o mundo às lágrimas em "A Razão do Meu Afeto" (em cartaz em São Paulo).
E a coisa começa a extrapolar o mundo das imagens. Acaba de ser lançado o livro "Sex Tips from a Gay Man to Straight Women" (Dicas Sexuais de um Homem Gay para Mulheres Hetero).
As autoras chamaram quem, segundo elas, mais entende de homem -um homossexual masculino- e pediram que ele contasse tudo o que um heterossexual gosta na cama.
Leia. É o best seller atual entre a mulherada. Talvez seja a "Bíblia" dos novos tempos.

E-mail: sergiodavila@uol.com.br


O jornalista Fernando de Barros e Silva está em férias.



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