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São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 2003

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A PODEROSA CHEFONA

Diretora comemora audiência do "Jovens Tardes" e mantém a famosa mão-de-ferro

Marlene Mattos prepara novo programa e filme

Agência O Globo
Marlene Mattos, que começou como datilógrafa na Globo e hoje dirige um núcleo


CLEO GUIMARÃES
DA REPORTAGEM LOCAL

DESDE QUE deixou de ser a eminência parda por trás de Xuxa, em junho de 2002, Marlene Mattos, como sempre, seguiu sua intuição. E se deu bem. Seu programa "Jovens Tardes" -a despeito das várias críticas negativas- é líder de audiência nos domingos em que é exibido e está cotado para a grade definitiva da Globo ainda neste ano.
Mas Marlene já tem engatilhados dois novos projetos: o de um programa juvenil, o "Naqueles Tempos" (com a fórmula jovens-auditório-provas-musicais) e o de um filme sobre a figura do cupido, estrelado por Wanessa Camargo, seu xodó atual. Aos 53 anos, Marlene não tem do que reclamar: ocupa um dos principais cargos na hierarquia da Rede Globo (diretora de núcleo), é dona de um patrimônio de cerca de US$ 20 milhões e recebe um salário mensal de R$ 55 mil, mais bônus mensais que podem chegar a R$ 270 mil. "Só consegui vencer porque tenho uma garra filha da mãe", diz ela, que assume ter sido "muito rude e grossa" com algumas pessoas. "Mas não me arrependo de ter gritado com ninguém", conta ela, que tem fama de durona -e a confirma em dois minutos de convivência. Perguntada se a idéia original do "Jovens Tardes" era dela, Marlene já mostra sua navalha: "O que é que você acha?". Todo cuidado é pouco no terreno arenoso do humor inconstante de Marlene Mattos. Sobre Xuxa, não gosta de falar. Mede as palavras. Sai pela tangente. Diz que não lava roupa suja fora de casa. "Gostei do programa novo dela ["Xuxa no Mundo da Imaginação"". Tem umas cores legais e umas idéias interessantes", limita-se a dizer. Seus gritos costumam vir acompanhados de todo um gestual. Não queira vê-la irritada. Bruscamente, suas narinas se abrem, seus olhos se arregalam por trás dos óculos, e tome palavrões e murros na mesa (num deles, chegou a quebrar a mão). "Porra, c..., cadê a m... que eu te pedi?", cobra ela de um atônito assistente. "É tudo jumento", diz a integrantes de sua equipe que não fizeram o que ela havia pedido. Outro funcionário é chamado de "mongol", ainda que em tom de brincadeira. "Na minha equipe, mando eu!", diz, com ênfase no "eu".

História
"Tenho que ser assim porque nasci muito longe daqui, tinha muita possibilidade de não chegar aonde cheguei", diz a maranhense de São José do Ribamar.
Aos quatro anos, sua mãe, a costureira Odete Mattos Azevedo, foi tentar a vida no Rio. Ela ficou com a avó e as duas irmãs no Maranhão. Trabalhava no trailer da família, vendendo bolo, café com leite e peixe frito. Dez anos depois, juntou-se à mãe na cidade maravilhosa.
O início da carreira na Globo foi por acaso. Marlene trabalhava como tesoureira de uma confecção no subúrbio carioca quando um amigo a indicou para uma vaga de datilógrafa na produção do "Sítio do Picapau Amarelo".
Resolveu que, à custa de qualquer sacrifício, faria uma carreira profissional na televisão. "Ela tinha uma capacidade tão grande que rapidamente passou a trabalhar em todos os setores", conta Geraldo Casé, diretor do "Sítio" à época.
Os 20 anos de parceria com Xuxa só serviram para solidificar o talento gerencial de Marlene -uma pessoa que vive para o trabalho e chega a passar 14 horas por dia em estúdio. Não levanta nem para comer: de tempos em tempos se serve numa mesinha de lanche ali mesmo.
Come pão amanhecido, café com leite e biscoitos. Quando uma assistente, preocupada com sua alimentação, lhe trouxe um copo de sopa, Marlene retrucou, com seu jeitão: "Tá horrível. Tira isso daqui."
O clima entre ela e sua equipe, apesar das broncas homéricas, não é dos piores. Todos parecem já estar acostumados ao morde-e-assopra. "Já aconteceu "n" vezes de ela chamar a minha atenção aos berros, isso é normal", diz Amin Khader, que tinha um quadro fixo ao lado de David Brazil no extinto "Planeta Xuxa".
Luiza Possi, sua nova aposta, diz que "graças a Deus" ainda não levou bronca.
"Todo fim de ano eu dou oportunidade a eles de se livrarem de mim", conta Marlene. "Digo que arrumo outro emprego, dou referências... pergunte se aceitam?", diz, orgulhosa, a chefona.


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