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RITUAL DAS MADRUGADAS
Programa da Record que mescla debates ao vivo e simulações gravadas conquista
audiência eclética em um horário ingrato
"Fala Que Eu Te Escuto" vira "cult" e conquista fãs
DA REPORTAGEM LOCAL
QUAL o programa das madrugadas
capaz de unir um pastor evangélico,
uma professora de pré-primário católica
e um cantor de hardcore? Resposta: "Fala
Que Eu Te Escuto", atração exibida, ao
vivo, diariamente, na Rede Record (de
segunda a sábado à 0h35 e, aos domingos, à meia-noite).
Os personagens acima citados são, respectivamente, o bispo da Igreja Universal do Reino de Deus Clodomir Santos,
apresentador do programa, a professora
carioca Arminda de Oliveira Castanheiro
e o líder da banda Ratos do Porão e apresentador da MTV João Gordo, ambos telespectadores regulares do "Fala Que Eu
Te Escuto".
Para a professora Arminda, o que sobressai na atração é seu formato peculiar,
conciliando debates -sobre temas como alcoolismo, crise entre pais e filhos e
iniciação sexual- com simulações, feitas por atores,
relativas ao assunto que é debatido no programa do dia.
"Lembro de uma vez em que o tema do debate era se
os pais deveriam ou não permitir que o filhos levassem
a namorada para dormir em casa. A atriz que interpretava a mãe do rapaz tinha um desempenho tão realista
que até parecia não estar representando", afirma Arminda.
Já João Gordo tornou-se fã da atração por razões distintas. "Passei a assistir quando foi ao ar o Rafael (Ilha),
dizendo que tinha parado de consumir drogas. Depois,
ele apareceu de novo no programa, quando tinha engolido de tudo, isqueiro, caneta e não sei mais o quê, na
maior cara-de-pau. Foi aí que resolvi ligar para participar e detonar o cara, mas o telefone só dava ocupado",
lamenta Gordo.
Desbocado que só ele, o insucesso de Gordo em ser
atendido pela central telefônica do programa com oito
telefonistas parece ter ido ao encontro das expectativas
do assistente de direção Paulo Franco, 26. "Como é ao
vivo, estamos arriscados a ouvir pessoas que falam o
que lhes vêem à cabeça. Já houve casos de pessoas que
ligaram para dizer palavrões. As telefonistas tentam fazer uma triagem prévia, mas nem sempre dá", diz Paulo, que auxilia o bispo Clodomir na direção do programa.
Compete a Paulo, no entanto, aquela
que é possivelmente a parte mais importante do programa, a das simulações teledramatúrgicas. Os atores que participam delas são todos free-lancers contratados na agência Pro-Art. Muitos se limitaram a fazer pontas em novelas e
participações em comerciais.
Em virtude do tempo escasso, os textos lidos pelos atores são escritos à mão,
nem chegam a ser datilografados ou digitados em computador.
Na maior parte das vezes, as simulações são gravadas, editadas e exibidas no
mesmo dia. O improviso é a tônica. "Escrevo falas que servem de base aos atores. Eles não são obrigados a seguir o texto à risca, devem apenas se orientar pelas
idéias centrais", afirma a produtora Denise Campos.
Segundo Paulo Franco, o direito à improvisação é um dos segredos do clima
de espontaneidade das simulações. No
entanto, algumas vezes o elenco se solta
demais.
Na última quarta-feira, quando três
atores ensaiavam uma cena de briga doméstica, aquele que vivia o pai que se desentendia com o marido de sua filha soltou a seguinte pérola: "Não se espicha
muito porque a coberta aqui é curta". De
imediato, todos caíram na gargalhada.
Segundo Denise Campos, às vezes alguns excessos são "limados" na edição.
"Se falam "porrada", por exemplo, temos
de cortar, pois somos orientados a não
exibir palavrões."
Ainda que a maior parte dos debatedores sejam pastores da Igreja Universal e que cada edição
seja encerrada com uma oração do bispo Claudionor,
"Fala Que eu te Escuto" não se considera uma atração
que atende exclusivamente aos fiéis da igreja do bispo
Edir Macedo, dono da Record.
"Já exibimos no ar ligações de pessoas criticando nossa Igreja. É natural, porque é uma entidade polêmica",
diz Paulo, que faz parte da Universal e que já morou durante um ano em Los Angeles, nos Estados Unidos, onde dirigiu programas de caráter evangélico para a produtora local ligada à Igreja Universal.
(BRUNO GARCEZ)
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