São Paulo, domingo, 26 de março de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RITUAL DAS MADRUGADAS
Programa da Record que mescla debates ao vivo e simulações gravadas conquista audiência eclética em um horário ingrato
"Fala Que Eu Te Escuto" vira "cult" e conquista fãs

DA REPORTAGEM LOCAL

QUAL o programa das madrugadas capaz de unir um pastor evangélico, uma professora de pré-primário católica e um cantor de hardcore? Resposta: "Fala Que Eu Te Escuto", atração exibida, ao vivo, diariamente, na Rede Record (de segunda a sábado à 0h35 e, aos domingos, à meia-noite).
Os personagens acima citados são, respectivamente, o bispo da Igreja Universal do Reino de Deus Clodomir Santos, apresentador do programa, a professora carioca Arminda de Oliveira Castanheiro e o líder da banda Ratos do Porão e apresentador da MTV João Gordo, ambos telespectadores regulares do "Fala Que Eu Te Escuto".
Para a professora Arminda, o que sobressai na atração é seu formato peculiar, conciliando debates -sobre temas como alcoolismo, crise entre pais e filhos e iniciação sexual- com simulações, feitas por atores, relativas ao assunto que é debatido no programa do dia.
"Lembro de uma vez em que o tema do debate era se os pais deveriam ou não permitir que o filhos levassem a namorada para dormir em casa. A atriz que interpretava a mãe do rapaz tinha um desempenho tão realista que até parecia não estar representando", afirma Arminda.
Já João Gordo tornou-se fã da atração por razões distintas. "Passei a assistir quando foi ao ar o Rafael (Ilha), dizendo que tinha parado de consumir drogas. Depois, ele apareceu de novo no programa, quando tinha engolido de tudo, isqueiro, caneta e não sei mais o quê, na maior cara-de-pau. Foi aí que resolvi ligar para participar e detonar o cara, mas o telefone só dava ocupado", lamenta Gordo.
Desbocado que só ele, o insucesso de Gordo em ser atendido pela central telefônica do programa com oito telefonistas parece ter ido ao encontro das expectativas do assistente de direção Paulo Franco, 26. "Como é ao vivo, estamos arriscados a ouvir pessoas que falam o que lhes vêem à cabeça. Já houve casos de pessoas que ligaram para dizer palavrões. As telefonistas tentam fazer uma triagem prévia, mas nem sempre dá", diz Paulo, que auxilia o bispo Clodomir na direção do programa.
Compete a Paulo, no entanto, aquela que é possivelmente a parte mais importante do programa, a das simulações teledramatúrgicas. Os atores que participam delas são todos free-lancers contratados na agência Pro-Art. Muitos se limitaram a fazer pontas em novelas e participações em comerciais.
Em virtude do tempo escasso, os textos lidos pelos atores são escritos à mão, nem chegam a ser datilografados ou digitados em computador.
Na maior parte das vezes, as simulações são gravadas, editadas e exibidas no mesmo dia. O improviso é a tônica. "Escrevo falas que servem de base aos atores. Eles não são obrigados a seguir o texto à risca, devem apenas se orientar pelas idéias centrais", afirma a produtora Denise Campos.
Segundo Paulo Franco, o direito à improvisação é um dos segredos do clima de espontaneidade das simulações. No entanto, algumas vezes o elenco se solta demais.
Na última quarta-feira, quando três atores ensaiavam uma cena de briga doméstica, aquele que vivia o pai que se desentendia com o marido de sua filha soltou a seguinte pérola: "Não se espicha muito porque a coberta aqui é curta". De imediato, todos caíram na gargalhada. Segundo Denise Campos, às vezes alguns excessos são "limados" na edição. "Se falam "porrada", por exemplo, temos de cortar, pois somos orientados a não exibir palavrões."
Ainda que a maior parte dos debatedores sejam pastores da Igreja Universal e que cada edição seja encerrada com uma oração do bispo Claudionor, "Fala Que eu te Escuto" não se considera uma atração que atende exclusivamente aos fiéis da igreja do bispo Edir Macedo, dono da Record.
"Já exibimos no ar ligações de pessoas criticando nossa Igreja. É natural, porque é uma entidade polêmica", diz Paulo, que faz parte da Universal e que já morou durante um ano em Los Angeles, nos Estados Unidos, onde dirigiu programas de caráter evangélico para a produtora local ligada à Igreja Universal. (BRUNO GARCEZ)

Texto Anterior: Música clássica ganha espaço no Canal 21
Próximo Texto: Festa do cinema: SBT tira o Oscar da Globo e põe Babi à frente da festa
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.