São Paulo, domingo, 27 de setembro de 1998

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Na busca pela audiência, emissoras copiam formatos consagrados de atrações de suas concorrentes; Ratinho, que se inspira em Chacrinha e "O Homem do Sapato Branco', é o mais "clonado' atualmente
Programas de proveta

RUI DANTAS
da Reportagem Local

A clonagem industrial chegou à TV. Uma breve análise sobre as TVs abertas no Brasil é suficiente para constatar que os programas em exibição têm se copiado mutuamente como nunca.
Na busca por bons índices de audiência, as redes de televisão apostam, muitas vezes, naquilo que é sucesso garantido. A fórmula, em alguns casos, já está em exibição na concorrência, e as emissoras em raras ocasiões têm se sentido constrangidas em clonar os formatos bem-sucedidos das rivais.
Em alta, o programa de Ratinho é o que mais tem gerado "clones". Quando se transferiu para o SBT, no mês passado, o apresentador automaticamente "gerou" um programa idêntico na Record, sua emissora anterior, o "Leão Livre", que ocupou o mesmo horário.
Nos dois programas são comuns as brigas de familiares ou vizinhos e, a qualquer momento, uma pessoa portando algum tipo de anomalia física ou mental pode ir ao ar.
Nos dois casos, a "cobertura jornalística" invariavelmente resvala no sensacionalismo, e atrações musicais tentam dar um tom "familiar" aos programas.
O apresentador de "Leão", Gilberto Barros, 39, assume publicamente que copia o formato de seu antecessor. "Vim fazer o que o Ratinho fazia. Qual o problema em usar o remédio que cura", indaga.
Mesmo admitindo a clonagem, Barros frisa estar dando "um toque pessoal" ao "Leão Livre". O exemplo da personalidade impressa em "Leão" é outra cópia ou pastiche.
Por exemplo, o programa escalou uma dupla similar à composta por Rodolfo & ET, sob o pseudônimo de Adolpho & Queimadinho, que tem função semelhante à que a inspiração tinha quando atuava em "Ratinho Livre".
O formato do programa de Ratinho, vale ressaltar, está longe de ser algo original. "O Homem do Sapato Branco" (décadas de 60, 70, 80 e 90) e "O Povo na TV" (década de 80) já exploravam insultos e cenas de pugilato e exibiam anomalias de convidados.
Jacinto Figueira Jr., 69, que apresentava "O Homem do Sapato Branco", é taxativo ao afirmar que Ratinho o copiou. "O "Programa do Ratinho' é o meu programa."
O apresentador Sergio Mallandro, que estreará a atração "Festa do Mallandro" no dia 10 de outubro na CNT/Gazeta, também optou pela clonagem, ainda que não admita.
Seu novo programa terá "mallandrinhas", espécies de chacretes com roupas escassas, e atrações bizarras, como o homem que promete engolir um celular e uma bola de sinuca na estréia.
Chacrinha, aliás, é outro apresentador copiado até hoje. Se Mallandro terá "mallandrinhas", Falcão já exibe suas "falconetes". A ex-chacrete Rita Cadillac, inclusive, foi uma das primeiras convidadas do programa do cantor-apresentador.
"Vamos também convidar as pessoas que não tiveram oportunidade de resolver seus problemas no "Ratinho' e no "Leão' a participar do meu programa", anuncia Mallandro.
O quadro anunciado terá o nome de "O Homem do Sapato Vermelho", numa referência a Figueira Jr..
"Vamos dar prioridades às histórias engraçadas, mas também poderão aparecer convidados com doenças", diz.
A apresentadora Jackeline Petkovic, 17, acaba de assumir o programa "Bom Dia & Cia.", antes comandado por Eliana Michaelichen. O programa é idêntico ao da antecessora (leia texto ao lado).
A fórmula de copiar programas de auditório, especialmente os dominicais, já está em voga há algum tempo. "Domingo Legal", por exemplo, tem disputa de provas entre homens e mulheres, que o "Domingão do Faustão" já exibia há tempos.
Por sua vez, Fausto Silva passou a apelar para a exibição de quadris femininos, depois que Gugu Liberato adquiriu know-how no expediente.
Todos eles se inspiram nitidamente na maneira como Silvio Santos, um dos mais antigos apresentadores em atuação na TV, comanda seu programa.
Santos, aliás, tem até um clone físico, o apresentador Celso Portiolli, que ele moldou à sua imagem e semelhança, contratando até fonoaudióloga, para que seu "sósia" pronunciasse as palavras à sua maneira.



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