São Paulo, domingo, 27 de dezembro de 1998

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O preço do 'sucesso'


Programas de colunismo social cobram até R$ 18 mil para cobrir festas; atores também aparecem em eventos em troca de cachês a partir de R$ 2.000


RUI DANTAS
da Reportagem Local

Prestigiar uma festa, com a participação de atores, atrizes e até programas de televisão que possam fazer uma cobertura do evento é mais fácil do que se imagina. Para fazê-lo, no entanto, é necessário desembolsar uma boa quantia em dinheiro.
Programas como "Flash", "Estilo Ramy" e outros menos conhecidos como "PRK7" cobram de R$ 1.800 a R$ 18 mil por alguns minutos de "fama".
No caso da contratação de artistas que, em geral, apenas aparecem em festas por alguns instantes, os preços são variáveis. A tabela depende do "quilate" da estrela convidada e se ela está no ar ou não .
O programa "Flash", do apresentador Amaury Jr., é o mais caro deles.
Oficialmente, o apresentador nega que seu programa aceite esse tipo de negociação. No entanto, a reportagem da Folha, entrou em contato com a produção do programa e, se passando por um empresário interessado nesse tipo de cobertura, comprovou o esquema, se dizendo interessada "em aparecer por vaidade mesmo".
O contato inicial foi feito com a produção do "Flash" na Bandeirantes. Após sucessivos telefonemas, todos gravados, para a produção e para o escritório de Amaury, foram reveladas as bases do acordo: o custo pela aparição no "Flash" era de R$ 18 mil por 13 minutos de veiculação.
"O custo de inserção em veiculação nacional é de R$ 45 mil, mas podemos fazer um desconto, e o valor sairia por R$ 18 mil. Isso teria que ser pago em uma única parcela", afirmou uma produtora do programa contatada pela Folha. Ela afirma que esse formato de anúncio é uma exigência da Rede Bandeirantes.
"Se o programa fosse dele (Amaury Jr.), eu teria uma mobilidade muito maior para negociar", revelou a mesma produtora. O "Flash" é um programa da Bandeirantes. Amaury Jr. é apenas contratado para comandá-lo.
O apresentador confirma que o formato de seu programa admite a inserção de merchandisings, os quais viriam sob a chancela de "Flash Business". Como exemplo, Amaury Jr. cita o lançamento de um hotel de uma rede internacional do ramo de hotelaria.
"Se alguém quiser vender seu produto, com características comerciais, tudo bem. Mas nunca houve cobrança pela participação de festas", disse.
Ao saber da existência da fita cassete contendo a negociação entre uma funcionária de seu programa e a reportagem da Folha, o apresentador afirmou que houve engano.
"Deve ter havido alguma confusão", explicou-se.
A Bandeirantes também se manifestou oficialmente sobre o assunto. A assessoria de imprensa da emissora diz que "certamente houve equívoco de algum funcionário mal orientado. A emissora não cobra e nem autoriza a cobrança pela cobertura de eventos sociais no programa "Flash'".

Estilo profissional
O programa "Estilo Ramy", exibido atualmente na Rede Manchete, solicita que o "contratante" arque com os custos da produção para cobrir um evento.
Isso equivale a R$ 2.500 por minuto exibido, com um mínimo de 4 minutos de veiculação.
O apresentador Ramy Moscovic admitiu que negocia espaço para a cobertura de festas em seu "Estilo Ramy".
"Eu trabalho para ganhar dinheiro", afirmou, ressaltando que tenta explicitar que se trata de uma forma de publicidade. "Durante a entrevista, falo o nome do produto, o telefone de contato, exponho as qualidades, enfim. Fica evidente que é um merchandising", contesta o apresentador.
Segundo Moscovic, metade do faturamento de seu programa advém da receita obtida com coberturas de festas e eventos.
"Há muitas pessoas interessadas nesse tipo de trabalho. Mas há convites que nem pagando temos condições de cobrir. Há sujeitos que querem aparecer na TV e não têm nada para falar. Se for assim, eu me recuso a cobrir uma festa dessas", explicou-se.
Moscovic lembra também que, se fosse o caso, sua produção pagaria para estar presente em um evento "badalado".
"Numa festa do gênero casamento da Adriane Galisteu, todo o mundo que dá audiência para o programa vai estar presente", analisa.

Nanico

Menos conhecido, o programa "PRK7", exibido pelo canal São Paulo (TVA), tem custo de cerca de R$ 1.800 por minuto editado de entrevista.
O videomaker Luiz Carlos Foz, diretor-geral do programa, explica que também pode recusar-se a cobrir uma festa que não atender ao formato do programa".
"Podemos negociar e tentar chegar a um denominador comum, adequando a festa à linguagem do "PRK7'", revela.

Simplesmente um luxo

Atayde Patreze, com um programa atualmente exibido na TV Comunitária (incluído no pacote da Net), nega que faça cobertura de festas. "Não sou colunista social. Isso aconteceu há muitos anos."
O apresentador, que comanda há anos um programa com seu nome, diz que nele o merchandising é permitido e até bem-vindo, mas com certas restrições.
A primeira delas é que, segundo o apresentador, deve-se ficar evidente que se trata de um merchandising.
"Não vou levar meu microfone de ouro para o sujeito ficar falando dele mesmo. Isso não tem sentido", adverte o apresentador.
A segunda: se o empresário realmente quiser falar sobre si mesmo, terá que dar um jeito de inserir a sua empresa na entrevista para caracterizar, então, o merchandising.
"Podemos conversar, mas terá que ser, por exemplo, na revenda de veículos dele", exemplifica Patreze, referindo-se a um suposto empresário interessado em "aparecer".
O preço: US$ 80 mil, por um pacote de anúncios veiculados durante um mês inteiro, que inclui também publicidade convencional.
"E no ano que vem, a partir de 2 de janeiro, estarei cobrando mais caro. Será US$ 100 mil", decreta o apresentador.



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