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TV NO MUNDO
EUA cultuam atores-personagens
ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha, em Austin
A TV americana está repleta de programas protagonizados por atores que
representam a si próprios.
"Seinfeld", estrelado pelo
ator Jerry Seinfeld, e "Ellen", centrado na personagem de Ellen DeGeneres, são os exemplos mais
recentes de uma convenção que vem de longe.
Juntamente com outros
clássicos, como Lucille
Ball, de "I Love Lucy", ou
os Nelson (pai, mãe e dois
filhos), do programa "The
Adventures of Ozzie and
Harriet", assunto de documentário especial no último domingo, esses
exemplos contemporâneos fazem parte de uma
tradição na televisão americana: a de que os seriados
dão acesso à "vida real"
de atores-personagens.
Ozzie, Harriet, David e
Ricki Nelson fizeram carreira em torno de um programa que representou a
primeira família da TV
americana, a família ideal
dos anos 50. A época era o
pós-guerra e os tempos, de
prosperidade e harmonia.
"The Adventures of Ozzie
and Harriet" teve início
no rádio e foi ao ar semanalmente durante 14 anos,
entre de 1952 a 1966.
Os Nelson eram a família
perfeita. Um pai atencioso,
bastante presente em casa,
sem ocupação muito definida. Uma mãe dedicada e
dois ótimos rapazes viviam
basicamente sem atritos. A
emoção do show vinha de
pequenos eventos corriqueiros. E do tempo. Os
dois filhos do casal cresciam a cada episódio.
Ricki, o caçula, se revelou não só um ator nato
como um roqueiro de talento. Em seus últimos
anos, a "sitcom" familiar
sobreviveu às custas de
discos e shows. Mas, depois que o show acabou, o
público rejeitou um Ricki
que cresceu e escapou à
imagem do caçula de Ozzie
e Harriet.
O documentário do canal a cabo A&E procura
desconstruir o modelo de
família perfeita representado pelos Nelson. Afinal,
longe de um pai desinteressado pelos negócios,
Ozzie possuía tino comercial. Ele inventou e manteve o show às custas da educação escolar de seus filhos. Harriet deixou a vida
boêmia e uma carreira no
cinema para representar a
esposa perfeita.
Essa tradição americana
do ator-personagem torna
verossímil a história de
Truman Burbank (Jim
Carrey), o personagem
"real" involuntário de
um programa de televisão
ininterrupto de que trata o
filme "The Truman
Show", de Peter Weir.
É como se ao nomear o
personagem com o nome
do ator, que não raramente também produz e até redige, as "sitcoms" se
aproximassem de modelos
ideais de comportamento.
As "sitcoms" acompanham as mudanças de costumes. O modelo família
unida, sem divórcio ou
fragmentação dos Nelson
(e também de Truman), já
não faz sentido para o eternamente solteiro Seinfeld,
ou para a homossexual assumida Ellen, dois personagens também em vias de
perder a atualidade.
E-mail: ehamb@uol.com.br
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