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MUNDO BIZARRO
Programas de caráter jornalístico inundam sala dos assinantes com
informações, no mínimo, dispensáveis
Noticiários da TV paga trocam o útil pelo fútil
BRUNO GARCEZ
DA REPORTAGEM LOCAL
V OCÊ talvez nunca venha a por os
pés no zoológico de San Diego, provavelmente nunca participará de um torneio de sueca (jogo de cartas) em Luxemburgo e nem verá de perto uma baleia beluga, mas estes são alguns dos temas de atrações exibidas, respectivamente, nos canais CBS Telenotícias,
RTPi e Animal Planet.
Assuntos como esses recheiam várias
das atrações "jornalísticas" dos canais
por assinatura, que servem para o telespectador brasileiro mais como informações inusitadas ou ligeiramente fúteis,
por mais -ou menos- interessantes
que sejam.
O programa "Curiosidades do Mundo", exibido pelo canal People + Arts,
por exemplo, destaca a febre de cabines
fotográficas na Coréia do Sul e o Museu
dos Óculos, em Paris, que reúne mais de 3.000 peças que
pertenceram a figuras ilustres, como Elton John, e até
mesmo modelos feitos especialmente para cães e gatos.
Ao final, a locutora comenta: "Claramente, é uma coleção que você tem que ver para acreditar". Temos mesmo?
Temas bizarros também são a tônica do programa de
variedades "Eurotrash", do Eurochannel. O programa,
apresentado pelo humorista Antoine de Caunes e pelo
estilista Jean-Paul Gaultier, já exibiu reportagens sobre
uma cidade na Itália em que o prefeito proibiu que mulheres feias frequentem a praia, sobre o homem que dedica sua vida a colecionar excrementos e sobre o restaurante na Bélgica que só serve receitas à base de insetos.
Bizarras também são algumas atrações do Animal
Planet, canal que, como o nome indica, só traz programas com ou sobre bichos. Entre as atrações do Animal
Planet, figura o "Petcetera", seriado sobre animais domésticos, que tanto podem ser um prosaico cãozinho
ou uma assustadora cobra píton.
Lá, você descobre, por exemplo, que o cágado africano tem uma dieta estritamente vegetariana e que os lagartos barbudos são, nos dizeres do apresentador,
"provavelmente os melhores bichos para se ter como
animais domésticos".
Já que o assunto é bicho, vale lembrar reportagem exibida na semana passada pelo CBS Telenotícias noticiando a inauguração da
home page do zoológico de San Diego,
EUA. Graças à reportagem, o espectador
brasileiro ficou sabendo que, pela Internet, agora é possível acompanhar o dia-a-dia de um bebê porquinho.
Conteúdo jornalístico não é exatamente o que se pode encontrar na E! Entertainment Television, mas por vezes o
canal abusa do direito de ser fútil. No
programa "FYE!" (For Your E!nformation), por exemplo, exibiu recentemente
uma feira de Ferraris em Nova York e
gravou depoimentos de personalidades,
como Ivana Trump, e o de uma jovem
que afirma nunca sair com um sujeito se
ele não tiver uma Ferrari.
O mesmo programa oferece ainda um
guia sobre os atrativos da vida noturna
de Los Angeles, tendo como cicerone o
astro (?) Victor Burton da soap opera
"The Days of Our Lives".
Diferentemente do canal E!, a italiana
RAI dá ênfase ao jornalismo sério em
sua programação. Mas o tratamento dado pela emissora aos temas do dia-a-dia
é, para dizer o mínimo, bastante peculiar.
Um popular programa do canal leva
políticos para o centro do picadeiro de
um circo reproduzido em cenário. No
local, homens públicos italianos -até
ex-primeiros-ministros, como Silvio
Berlusconi- debatem assuntos quentes
da política italiana.
Outra atração jornalística da RAI é
ambientada em um botequim também
recriado em cenário. De costas para o entrevistado e o
entrevistador, fica a platéia, estática e com expressão de
peixe morto. A RAI traz ainda miniboletins com imagens da Itália, mas engana-se quem pensa que neles verá o Coliseu ou a Torre de Pisa. São registros, feitos com
câmera fixa, de ruelas ou da fachada de prédios, que duram intermináveis minutos.
O inusitado não se restringe às atrações que chegam
do exterior. Em uma edição do programa de debates
"CD", do Canal Universitário, exibido na semana passada, o deputado Afanásio Jazadji perguntou ao diretor
do Ecad se o músico ceguinho da praça da Sé também
era obrigado a pagar direitos autorais.
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