São Paulo, Domingo, 30 de Janeiro de 2000


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MUNDO BIZARRO
Programas de caráter jornalístico inundam sala dos assinantes com informações, no mínimo, dispensáveis
Noticiários da TV paga trocam o útil pelo fútil

BRUNO GARCEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

V OCÊ talvez nunca venha a por os pés no zoológico de San Diego, provavelmente nunca participará de um torneio de sueca (jogo de cartas) em Luxemburgo e nem verá de perto uma baleia beluga, mas estes são alguns dos temas de atrações exibidas, respectivamente, nos canais CBS Telenotícias, RTPi e Animal Planet.
Assuntos como esses recheiam várias das atrações "jornalísticas" dos canais por assinatura, que servem para o telespectador brasileiro mais como informações inusitadas ou ligeiramente fúteis, por mais -ou menos- interessantes que sejam.
O programa "Curiosidades do Mundo", exibido pelo canal People + Arts, por exemplo, destaca a febre de cabines fotográficas na Coréia do Sul e o Museu dos Óculos, em Paris, que reúne mais de 3.000 peças que pertenceram a figuras ilustres, como Elton John, e até mesmo modelos feitos especialmente para cães e gatos. Ao final, a locutora comenta: "Claramente, é uma coleção que você tem que ver para acreditar". Temos mesmo?
Temas bizarros também são a tônica do programa de variedades "Eurotrash", do Eurochannel. O programa, apresentado pelo humorista Antoine de Caunes e pelo estilista Jean-Paul Gaultier, já exibiu reportagens sobre uma cidade na Itália em que o prefeito proibiu que mulheres feias frequentem a praia, sobre o homem que dedica sua vida a colecionar excrementos e sobre o restaurante na Bélgica que só serve receitas à base de insetos.
Bizarras também são algumas atrações do Animal Planet, canal que, como o nome indica, só traz programas com ou sobre bichos. Entre as atrações do Animal Planet, figura o "Petcetera", seriado sobre animais domésticos, que tanto podem ser um prosaico cãozinho ou uma assustadora cobra píton.
Lá, você descobre, por exemplo, que o cágado africano tem uma dieta estritamente vegetariana e que os lagartos barbudos são, nos dizeres do apresentador, "provavelmente os melhores bichos para se ter como animais domésticos".
Já que o assunto é bicho, vale lembrar reportagem exibida na semana passada pelo CBS Telenotícias noticiando a inauguração da home page do zoológico de San Diego, EUA. Graças à reportagem, o espectador brasileiro ficou sabendo que, pela Internet, agora é possível acompanhar o dia-a-dia de um bebê porquinho.
Conteúdo jornalístico não é exatamente o que se pode encontrar na E! Entertainment Television, mas por vezes o canal abusa do direito de ser fútil. No programa "FYE!" (For Your E!nformation), por exemplo, exibiu recentemente uma feira de Ferraris em Nova York e gravou depoimentos de personalidades, como Ivana Trump, e o de uma jovem que afirma nunca sair com um sujeito se ele não tiver uma Ferrari.
O mesmo programa oferece ainda um guia sobre os atrativos da vida noturna de Los Angeles, tendo como cicerone o astro (?) Victor Burton da soap opera "The Days of Our Lives".
Diferentemente do canal E!, a italiana RAI dá ênfase ao jornalismo sério em sua programação. Mas o tratamento dado pela emissora aos temas do dia-a-dia é, para dizer o mínimo, bastante peculiar.
Um popular programa do canal leva políticos para o centro do picadeiro de um circo reproduzido em cenário. No local, homens públicos italianos -até ex-primeiros-ministros, como Silvio Berlusconi- debatem assuntos quentes da política italiana.
Outra atração jornalística da RAI é ambientada em um botequim também recriado em cenário. De costas para o entrevistado e o entrevistador, fica a platéia, estática e com expressão de peixe morto. A RAI traz ainda miniboletins com imagens da Itália, mas engana-se quem pensa que neles verá o Coliseu ou a Torre de Pisa. São registros, feitos com câmera fixa, de ruelas ou da fachada de prédios, que duram intermináveis minutos.
O inusitado não se restringe às atrações que chegam do exterior. Em uma edição do programa de debates "CD", do Canal Universitário, exibido na semana passada, o deputado Afanásio Jazadji perguntou ao diretor do Ecad se o músico ceguinho da praça da Sé também era obrigado a pagar direitos autorais.



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