ERIKA SALLUM
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Sobre o que será "Laços de Família"? Esse é o título definitivo?
Esse será o título, a não ser que sugiram algo melhor, mas acho difícil. Bem, tudo começa no verão de 99. É a história de uma mulher, Helena (Vera Fischer), de 40 e poucos anos, sócia de uma clínica de estética, que se apaixona por um jovem médico (ainda estamos testando atores).
Ela tem um casal de filhos, Camila (Carolina Dieckman), que mora em Londres, e Fred (Luigi Barricelli). O filho é casado, e ela já é avó. Sozinha, Helena então se envolve com esse jovem médico, e os dois vão para Londres buscar Camila. O namorado, claro, se apaixona pela filha... Madura, Helena entende a situação, e os dois se casam. Essa é a trama central.
Você costuma lidar com temas polêmicos em suas novelas. Como será em "Laços de Família"?
Helena, vinda do Sul, teve seu primeiro filho com um carioca meio malandro. Já a filha nasceu de uma aventura amorosa com um primo quando ela brigou com o marido. Ninguém sabe disso, todos pensam que os filhos são do mesmo pai.
Até que Camila tem leucemia e precisa de um doador, mas não encontra ninguém na família com uma medula compatível. Desesperada para salvar a filha, Helena tem a idéia de ter um bebê, na esperança de que ele possa ser doador de medula. Isso já aconteceu nos EUA e na Itália. Mas a questão é: isso é ético? E se a medula da criança não servir? Ela será amada do mesmo jeito?
Por que você sempre cria uma personagem Helena em suas novelas?
Nunca tive nenhuma namorada chamada Helena. A única Helena da minha família é uma sobrinha-neta de 2 anos. Mas, desde minha primeira novela, meus personagens femininos se chamam Helena. Gosto demais do nome. Na mitologia grega, ele simboliza uma mulher admirável, forte. Em "Por Amor" e "História de Amor", Regina Duarte interpretou Helena. Em "Felicidade", era a Maitê Proença; em "Baila Comigo", era a Lilian Lemmertz...
Substituir "Terra Nostra" não é uma tarefa um pouco complicada, afinal é o maior sucesso da Globo atualmente?
Não diria que é mais complicada... faz parte do jogo. Alguém tem de fazer, não tem? Quando fui estrear "Por Amor", em 97, me fizeram a mesma pergunta, pois eu iria substituir "A Indomada", que dava muito mais audiência que "Terra Nostra". Por um lado, é bom, porque o público está sintonizado e motivado pelas novelas. Mas não dá para estabelecer comparações, porque "Terra Nostra" é de época, um universo muito diferente do que faço. Minha novela se passa no Rio, nos dias de hoje, nada a ver.
Mas não há uma cobrança da direção da emissora para que você ao menos mantenha o sucesso da novela anterior?
Isso tem de ser feito por alguém. Existe, claro, o tal trilho de 30, 35, 45 pontos no Ibope, mas sempre é muito difícil de alcançar. Nós, autores de novelas com mais experiência, já não precisamos ser tão cobrados. Nós mesmos nos cobramos e sabemos que novela foi feita para dar certo. É o carro-chefe da empresa, tem que dar certo. Caso contrário, é um prejuízo brutal.
Após tantos anos, já dá para saber o que dá certo e o que não vai funcionar?
De jeito nenhum, não há receita para isso. Claro que há determinados códigos que você sabe que funciona, seja aqui, no norte da Bahia ou na China. Uma história de amor, encontros e desencontros, um tema polêmico no meio... Mas nada é exato ou perfeito.
Mas escrever para um público hoje é a mesma coisa que há 20 anos?
Não há nada de novo. Como diz Millôr Fernandes, não há nada mais velho do que a originalidade. Tudo você encontra nos gregos ou na "Bíblia". Depende de como você trata o tema, de como ele é representado. Você quer coisa mais velha do que história de amor? E, por mais que você escreva, não consegue uma história de amor melhor do que "Romeu e Julieta". Mas nem por isso deixamos de escrever.
Daniel Filho, atual diretor de criação da Globo, disse recentemente que não sabe por que você não o quis como supervisor de "Laços de Família". O que houve?
Faço novelas na TV Globo desde 1977. Todas -"Maria, Maria", "A Sucessora", "Baila Comigo", "Sol de Verão", "Felicidade", "História de Amor" e "Por Amor"- foram supervisionadas pelo Mario Lúcio Vaz (atual diretor da Central Globo de Qualidade). Por que mudaria agora? Se não quisesse o Mario Lucio, aí é que seria surpreendente.