São José dos Campos, Domingo, 9 de maio de 1999

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CULTURA
Estrutura muda rotina de nativos de tribos do litoral norte, que estão cobrando cachês que chegam a R$ 3.000
Índios da região faturam com tecnologia

Roosevelt Cássio/Folha Imagem
Índia segura sua filha e usa telefone que fica no interior da escola da comunidade indígena do rio Silveira


MARCELO PEDROSO
da Folha Vale

O cotidiano de duas aldeias indígenas guarani no litoral norte de São Paulo passou por transformações radicais desde o início deste ano. O dia-a-dia desses índios inclui assessoria de imprensa, CDs com músicas típicas (vendidos a R$ 20) e shows com cachês que chegam até a R$ 3.000.
Com essa estrutura e ancorados no interesse pelos costumes indígenas despertado pelos 500 anos do Descobrimento do Brasil, tribos do litoral norte paulista já arrecadaram R$ 43 mil nos últimos quatro meses.
Para isso, as aldeias alojadas nos municípios de Ubatuba e São Sebastião contam também com escolas, postos de saúde e acompanhamento de coordenadores culturais das administrações.
Com o benefício da luz elétrica para atividades essenciais, as tribos serão dotadas, a partir deste ano, de rede de esgoto e casas projetadas de acordo com as necessidades dos índios.
A tribo guarani do rio Silveira será a primeira beneficiada com 50 casas a um custo total estimado em R$ 600 mil.
O dinheiro obtido com as atividades culturais está sendo usado para complementar a renda das tribos, que até então viviam da venda de produtos artesanais, palmito e plantas nativas.
A assessoria de imprensa da aldeia de Ubatuba informou que a comunidade faz uma apresentação por semana, em média.
"Nós buscamos as vantagens da tecnologia, mas não pretendemos nos afastar das raízes culturais", disse Mariano Fernando, coordenador da comunidade indígena do rio Silveira, em São Sebastião.
Representantes da aldeia de São Sebastião estão tentando contatos para apresentações este ano no Rio de Janeiro (RJ) e em Brasília (DF). Mas as pretensões não param por aí: eles ambicionam também realizar eventos no exterior.
Para o técnico indigenista e chefe do posto da Funai (Fundação Nacional do Índio) na divisa entre São Sebastião e Bertioga, Márcio José do Nascimento, os avanços nas duas tribos são significativos, mas ainda há muito o que fazer em relação às demais comunidades.
Segundo o artigo "Fome ameaça povos indígenas em São Paulo", desenvolvido em dezembro de 98 pela antropóloga Mariana Leal Ferreira, somente os 420 índios das duas aldeias não passam fome no Estado. Segundo o chefe da Divisão de Cultura de São Sebastião, Zenildo de Freitas, a comunidade indígena local foi escolhida este ano pela Funai como a melhor em termos de assistência no país.



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