São José dos Campos, Sexta-feira, 17 de Dezembro de 1999


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Próximo Texto | Índice

VIOLÊNCIA
Adolescentes teriam sido espancados e queimados pela PM na praça do Sapo, no centro de São José
Conselho apura tortura de policiais

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
da Folha Vale

O Conselho Tutelar de São José dos Campos está investigando a denúncia de que dois adolescentes foram espancados e torturados por três policiais militares na praça do Sapo, área central da cidade, no início da madrugada de terça-feira passada.
Os policiais militares, além de espancar os garotos, teriam provocado queimaduras nas mãos, com papéis em chamas, e na língua de um deles, usando pontas de cigarro.
M., que sofreu as queimaduras, perdeu pedaços da pele das mãos, que estavam enfaixadas ontem.
Ele tem marcas de golpes por todo o corpo, está com os olhos roxos e anda mancando.
A denúncia não foi registrada na Polícia Civil porque os garotos temem represálias.
Eles são usuários de drogas e costumam dormir nas ruas do centro da cidade.
O Conselho Tutelar não conseguiu confirmar ontem se os rapazes têm menos de 18 anos.
O major Orlando Antunes Rodrigues, comandante interino da PM de São José, disse ontem que os policiais não têm a orientação de retirar pessoas que estejam dormindo em locais públicos.
O garoto, que disse à Folha ter 19 anos, foi levado terça de manhã ao Hospital Municipal por integrantes do Cedeca (Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente) e da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
A primeira comunicação das agressões foi feita por uma mulher que não se identificou, que telefonou ao Conselho Tutelar para falar das agressões.
O órgão avisou o Cedeca, que conseguiu localizá-lo nas proximidades da praça Afonso Pena, antigo local de concentração de adolescentes usuários de drogas.
Prostitutas que trabalham na praça Afonso Pena disseram que os adolescentes deixaram o local, conforme constatou a Folha ontem, em razão da repressão da polícia.
"Foram tarde, porque eles ficavam aqui o dia todo fumando crack", afirmou a prostituta Janete, 26.
As prostitutas da praça não querem a presença dos usuários porque com elas há adolescentes que também fazem ""programas" por qualquer preço para comprar drogas e também assaltam os "clientes".
O caso está sendo acompanhado também pelo Cedeca e pela comissão de direitos humanos da OAB.
Ao falar à Folha, M., que ainda estava com uma peça de roupa do hospital, disse somente que estava dormindo na praça com o colega, cujo nome não foi revelado, quando os policiais chegaram.
Os dois garotos estavam na linha de trem que passa ao lado da favela do Banhado.
M. afirmou que vai decidir hoje se poderá tentar reconhecer os policiais, que chegaram à praça fardados em um veículo da PM.

Dependência
O presidente do Conselho Tutelar de São José, Alcemir Palma, disse que já falou com a mãe de um dos garotos, que ainda não teria conseguido convencer o filho a fazer a queixa.
Segundo Palma, um dos garotos já passou pelo Conselho Tutelar, há cerca de dois anos, em busca de tratamento contra dependência química.


Próximo Texto: Órgão oferece transferência
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.