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VIOLÊNCIA
Adolescentes teriam sido espancados e queimados pela PM na praça do Sapo, no centro de São José
Conselho apura tortura de policiais
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
da Folha Vale
O Conselho Tutelar de São José
dos Campos está investigando a
denúncia de que dois adolescentes foram espancados e torturados por três policiais militares na
praça do Sapo, área central da cidade, no início da madrugada de
terça-feira passada.
Os policiais militares, além de
espancar os garotos, teriam provocado queimaduras nas mãos,
com papéis em chamas, e na língua de um deles, usando pontas
de cigarro.
M., que sofreu as queimaduras,
perdeu pedaços da pele das mãos,
que estavam enfaixadas ontem.
Ele tem marcas de golpes por
todo o corpo, está com os olhos
roxos e anda mancando.
A denúncia não foi registrada
na Polícia Civil porque os garotos
temem represálias.
Eles são usuários de drogas e
costumam dormir nas ruas do
centro da cidade.
O Conselho Tutelar não conseguiu confirmar ontem se os rapazes têm menos de 18 anos.
O major Orlando Antunes Rodrigues, comandante interino da
PM de São José, disse ontem que
os policiais não têm a orientação
de retirar pessoas que estejam
dormindo em locais públicos.
O garoto, que disse à Folha ter
19 anos, foi levado terça de manhã
ao Hospital Municipal por integrantes do Cedeca (Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do
Adolescente) e da OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil).
A primeira comunicação das
agressões foi feita por uma mulher que não se identificou, que telefonou ao Conselho Tutelar para
falar das agressões.
O órgão avisou o Cedeca, que
conseguiu localizá-lo nas proximidades da praça Afonso Pena,
antigo local de concentração de
adolescentes usuários de drogas.
Prostitutas que trabalham na
praça Afonso Pena disseram que
os adolescentes deixaram o local,
conforme constatou a Folha ontem, em razão da repressão da polícia.
"Foram tarde, porque eles ficavam aqui o dia todo fumando
crack", afirmou a prostituta Janete, 26.
As prostitutas da praça não querem a presença dos usuários porque com elas há adolescentes que
também fazem ""programas" por
qualquer preço para comprar
drogas e também assaltam os
"clientes".
O caso está sendo acompanhado também pelo Cedeca e pela comissão de direitos humanos da
OAB.
Ao falar à Folha, M., que ainda
estava com uma peça de roupa do
hospital, disse somente que estava
dormindo na praça com o colega,
cujo nome não foi revelado,
quando os policiais chegaram.
Os dois garotos estavam na linha de trem que passa ao lado da
favela do Banhado.
M. afirmou que vai decidir hoje
se poderá tentar reconhecer os
policiais, que chegaram à praça
fardados em um veículo da PM.
Dependência
O presidente do Conselho Tutelar de São José, Alcemir Palma,
disse que já falou com a mãe de
um dos garotos, que ainda não teria conseguido convencer o filho a
fazer a queixa.
Segundo Palma, um dos garotos
já passou pelo Conselho Tutelar,
há cerca de dois anos, em busca
de tratamento contra dependência química.
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