São José dos Campos, Sábado, 18 de Dezembro de 1999


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VIOLÊNCIA
Adolescente espancado e queimado piora e volta a ser internado; polícia requisita exame das vítimas
Promotoria pede inquérito para apurar denúncia de tortura policial em S. José

Roosevelt Cássio/Folha Imagem
Adolescente J.G., 17, mostra marcas de espancamento que teria sofrido de policiais militares, no centro de São José dos Campos


JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
da Folha Vale

A pedido do Ministério Público, a Polícia Civil de São José dos Campos abriu ontem inquérito para apurar a denúncia de que dois adolescentes, de 17 e 19 anos, foram torturados e espancados por policiais militares na madrugada da última terça-feira.
Os garotos ficaram com marcas de espancamento por todo o corpo e queimaduras nos braços, na boca e no nariz, que teriam sido provocadas pelos policiais.
Uma das vítimas, M., 19, perdeu pedaço de pele das mãos e voltou a ser internado ontem no Hospital Municipal de São José, onde já havia passado 24 horas sob observação na terça-feira, mas foi liberado.
Segundo a assistente social do hospital Maria Teresa Fonseca Pinto, M. estava melhor à tarde e conseguiu tomar banho sozinho.

Queimaduras
O outro adolescente ferido, J.G., 17, relatou à Folha ontem que estava dormindo na praça do Sapo, área central da cidade, quando três policiais chegaram.
J.G. disse que, além do espancamento, os policiais provocaram as queimaduras com papéis em chamas em seu corpo e enfiaram cigarros acesos no nariz.
A versão foi confirmada por J. G. ao delegado Jair Barbosa Ortiz, da Diju (Delegacia da Infância e da Juventude) de São José.
"O garoto disse que passou por todas as barbaridades imagináveis. É impressionante", disse o delegado.
Segundo Ortiz, o garoto disse que pode ter dificuldades para reconhecer os agressores.
O delegado registrou as marcas das agressões por fotografias e requisitou o exame de corpo de delito ao IML (Instituto Médico Legal). "Não sabemos quem são os agressores, mas, se forem policiais, isso não é polícia. Lembra casos que acompanhamos pela imprensa, como o da favela Naval, em Diadema", afirmou.
O caso está sendo acompanhado pela Comissão dos Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e pelo Conselho Tutelar, que também apura as denúncias.

Reconhecimento
A promotora Cristiana Yoko Shida, que solicitou a investigação policial, disse que os garotos devem tentar fazer o reconhecimento pelos álbuns da PM.
A promotora ouviu ontem, por cerca de 30 minutos, o advogado Gilson Aparecido dos Santos, 31, do Cedeca (Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente).
O advogado estava acompanhado pela secretária da Comissão dos Direitos Humanos da OAB, Leticia Massula Krempel, e pela integrante do Conselho Tutelar Vanda Siqueira.
J.G., que afirma temer ser morto por policiais, foi colocado sob a tutela do Cedeca.
Marcelo foi transferido ontem para uma unidade de saúde mental. Ele deve ser ouvido hoje.
O major Orlando Antunes Rodrigues, comandante interino da Polícia Militar de São José, afirmou ontem que chegou a entrar em contato com as entidades, mas não conseguiu resposta sobre o que teria acontecido.
"Não temos por enquanto elementos para investigar nada. Ninguém nos informou quando isso teria acontecido, se eram realmente policiais militares ou quem seriam eles", afirmou o major Rodrigues.


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