|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Nova tecnologia e crise fecham 400 mil vagas nos últimos 10 anos
DA REDAÇÃO
A introdução de novas tecnologias nos processos produtivos industriais e de serviços, associada à
crise, provocaram o fechamento
de pelo menos 400 mil vagas em
alguns setores da economia, principalmente nos últimos dez anos.
De acordo com sindicatos de
trabalhadores e especialistas, não
houve planejamento suficiente
por parte do governo para que os
efeitos da modernização e da
abertura de mercado vivida a partir dos anos 90 não prejudicassem
a mão-de-obra brasileira.
De acordo com Adi dos Santos
Lima, 44, diretor do Sindicato dos
Metalúrgicos do ABCD, um dos
mais importantes do país, e presidente do Dieese (Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o setor
perdeu cerca de 100 mil trabalhadores em dez anos.
"Grande parte desse desemprego foi causado pela reestruturação produtiva, que incluiu a implantação de novas tecnologias, as
mudanças organizacionais e a terceirização", disse ele.
Lima afirmou que não é contra
a tecnologia. "Ela deve ser utilizada em prol do ser humano, no
sentido de melhorar a qualidade
de vida dos trabalhadores. Normalmente, as novidades tecnológicas são utilizadas para aumentar a produtividade e a competitividade, sem considerar as melhorias no emprego e na renda."
Outra categoria que sofreu com
a modernização foi a dos bancários. O sindicato estima que a tecnologia e a crise extinguiram 200
mil postos de trabalho no país.
"Serviços que antigamente
eram feitos por funcionários, hoje
são realizados pelos próprios
clientes, e eles pagam por isso. Digitador é uma função que nem
existe mais. Outras não existiam
antes, como o atendimento telefônico. Mas não em quantidade suficiente para absorver o que já foi
perdido", disse o presidente do
Sindicato dos Bancário de São
Paulo, João Vaccari Neto.
O economista e professor do departamento de engenharia de
produção da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos),
Francisco José da Costa Alves,
disse que cerca de 100 mil postos
foram fechados na região de Ribeirão Preto devido à mecanização do corte de cana-de-açúcar e à
crise do setor sucroalcooleiro.
"A partir do momento em que
se alcança um novo patamar tecnológico no setor -o corte sem
queima-, essa situação toma
mais força. A introdução de uma
máquina desemprega 150 pessoas
e cria oito vagas. No quadro atual
da economia brasileira, que cresce pouco ou não cresce, não estão
sendo criados novos postos."
O professor do Instituto de Economia da Unicamp Márcio Pochmann afirmou que o problema
principal no Brasil é a pouca expansão econômica -1,8%, em
média, nos últimos dez anos, enquanto o ideal seria 5,5%.
"O país está pagando o preço
por ter optado pela compra da
tecnologia já existente nos anos
90. Mas não é verdade que a inovação gera desemprego, pois as
regiões muito desenvolvidas, como ocorre nos EUA, têm capacidade de criar muitas vagas. E a
qualificação, somente, não é a solução, pois só tem êxito se existem
postos de trabalho."
O diretor técnico do Dieese, Sérgio Mendonça, disse que, nos
EUA e no Japão, que já passaram
por uma "revolução tecnológica",
houve a criação de novos setores a
partir do aumento da produção.
"No plano micro ou de um setor
específico, a tecnologia veio ser
poupadora de mão-de-obra, geralmente trazendo queda da necessidade de mais trabalhadores.
Mas isso não vale obrigatoriamente para a economia toda. O
problema ocorre quando não há
expansão econômica."
Para ele, a reação não pode ser
só de exigir a requalificação, mas
também crescer. "Não se deve
aceitar um "determinismo tecnológico", achar que a globalização é
inevitável e que se tudo isso cria
desemprego. Vamos ter de pagar
por esse preço."
(KO)
Texto Anterior: Telefônica lidera investimento em SP Próximo Texto: Opinião: O Brasil rumo à sociedade da informação Índice
|