São José dos Campos, Domingo, 24 de Setembro de 2000

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Nova tecnologia e crise fecham 400 mil vagas nos últimos 10 anos

DA REDAÇÃO

A introdução de novas tecnologias nos processos produtivos industriais e de serviços, associada à crise, provocaram o fechamento de pelo menos 400 mil vagas em alguns setores da economia, principalmente nos últimos dez anos.
De acordo com sindicatos de trabalhadores e especialistas, não houve planejamento suficiente por parte do governo para que os efeitos da modernização e da abertura de mercado vivida a partir dos anos 90 não prejudicassem a mão-de-obra brasileira.
De acordo com Adi dos Santos Lima, 44, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABCD, um dos mais importantes do país, e presidente do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o setor perdeu cerca de 100 mil trabalhadores em dez anos.
"Grande parte desse desemprego foi causado pela reestruturação produtiva, que incluiu a implantação de novas tecnologias, as mudanças organizacionais e a terceirização", disse ele.
Lima afirmou que não é contra a tecnologia. "Ela deve ser utilizada em prol do ser humano, no sentido de melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores. Normalmente, as novidades tecnológicas são utilizadas para aumentar a produtividade e a competitividade, sem considerar as melhorias no emprego e na renda."
Outra categoria que sofreu com a modernização foi a dos bancários. O sindicato estima que a tecnologia e a crise extinguiram 200 mil postos de trabalho no país.
"Serviços que antigamente eram feitos por funcionários, hoje são realizados pelos próprios clientes, e eles pagam por isso. Digitador é uma função que nem existe mais. Outras não existiam antes, como o atendimento telefônico. Mas não em quantidade suficiente para absorver o que já foi perdido", disse o presidente do Sindicato dos Bancário de São Paulo, João Vaccari Neto.
O economista e professor do departamento de engenharia de produção da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), Francisco José da Costa Alves, disse que cerca de 100 mil postos foram fechados na região de Ribeirão Preto devido à mecanização do corte de cana-de-açúcar e à crise do setor sucroalcooleiro.
"A partir do momento em que se alcança um novo patamar tecnológico no setor -o corte sem queima-, essa situação toma mais força. A introdução de uma máquina desemprega 150 pessoas e cria oito vagas. No quadro atual da economia brasileira, que cresce pouco ou não cresce, não estão sendo criados novos postos."
O professor do Instituto de Economia da Unicamp Márcio Pochmann afirmou que o problema principal no Brasil é a pouca expansão econômica -1,8%, em média, nos últimos dez anos, enquanto o ideal seria 5,5%.
"O país está pagando o preço por ter optado pela compra da tecnologia já existente nos anos 90. Mas não é verdade que a inovação gera desemprego, pois as regiões muito desenvolvidas, como ocorre nos EUA, têm capacidade de criar muitas vagas. E a qualificação, somente, não é a solução, pois só tem êxito se existem postos de trabalho."
O diretor técnico do Dieese, Sérgio Mendonça, disse que, nos EUA e no Japão, que já passaram por uma "revolução tecnológica", houve a criação de novos setores a partir do aumento da produção.
"No plano micro ou de um setor específico, a tecnologia veio ser poupadora de mão-de-obra, geralmente trazendo queda da necessidade de mais trabalhadores. Mas isso não vale obrigatoriamente para a economia toda. O problema ocorre quando não há expansão econômica."
Para ele, a reação não pode ser só de exigir a requalificação, mas também crescer. "Não se deve aceitar um "determinismo tecnológico", achar que a globalização é inevitável e que se tudo isso cria desemprego. Vamos ter de pagar por esse preço." (KO)

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