São José dos Campos, Domingo, 24 de Setembro de 2000

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Fibras ópticas "trafegam" por quase 4 mil dos 27 mil quilômetros de rodovias do Estado de São Paulo

DA REDAÇÃO

Os quase 27 mil quilômetros de malha viária pavimentada do Estado de São Paulo contam com cabeamento em fibra óptica em cerca de 13,8% (3.712,8 km) de sua extensão. Em outros 2.229,5 quilômetros, as obras para a colocação dos cabos já começaram ou há projeto para a instalação.
O que esses fios escondidos no subsolo serão capazes de gerar, a maioria dos entrevistados (mesmo não conseguindo mensurar), não se acanha em chamar de "revolução" nas telecomunicações.
Para o professor Hélio Waldman, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que trabalha com comunicação por fibra óptica desde a década de 80, o que o uso da nova tecnologia vai permitir é a transmissão de um volume muito maior de informação (som, imagem, texto) com padrões de qualidade diferentes e com maior rapidez.
Segundo o professor, a massificação da Internet é um dos fatores que impulsiona o crescimento da aplicação da tecnologia e só será possível se o país contar com os cabos em seus sistemas de telecomunicações. Para Waldman, só então, os usuários da rede vão conhecer o sentido de "navegação".
Navegação, segundo ele, não é um usuário ficar "pendurado" em um canal, recebendo as informações, mas ter à disposição um ambiente de comunicação em que basta um click para se ter acesso a mais informações do que o ser humano está capacitado a apreender.
Para entender o que isso significa, o professor explica que a unidade da fibra óptica é o terabit, que equivale a 1 trilhão de bits.
"Com alguns milhões de bits, por exemplo, é possível a transmissão de toda a informação da enciclopédia "Britannica" em menos de um segundo", diz o professor.
Já o ser humano, utilizando todos os seus sentidos, tem capacidade para apreender apenas 10 megabits (10 milhões de bits) de informação por segundo.

Telefone
Para Waldman, o telefone tende ser um tráfego minoritário nas redes de fibra óptica. Isso porque um terabit é capaz de transmitir a informação de todas as pessoas do mundo falando ao telefone ao mesmo tempo, segundo ele.
Por isso, a fibra permite a disseminação da informação na chamada faixa larga, que possibilita, além da massificação da Internet, a teleducação e novos serviços como o vídeo por demanda, em que cada telespectador poderá escolher o filme que deseja assistir em sua televisão em casa.

Evolução
Quando a fibra começou a ser usada na transmissão de dados, foi empregada em núcleos de redes de companhias, fazendo a interligação entre as centrais.
O professor diz que, hoje, no Brasil, a tecnologia pode ser encontrada em dois ambientes: em sistemas de longa distância, interligando metrópoles, e em ambientes metropolitanos, em distâncias curtas, mas onde a quantidade de dados é grande.
As concessionárias das rodovias do Estado, por exemplo, utilizam a fibra óptica na interligação de centrais e no funcionamento de equipamentos como telefones de emergência, painéis de mensagens variáveis, equipamentos para serviços de meteorologia, entre outros serviços.
O cidadão comum, segundo o professor Waldman, ainda fica nas "pontas" do processo. Mesmo que as informações sejam transmitidas por meios avançados, elas são recebidas por ele em terminais metálicos. No entanto o usuário já é beneficiado. "É como uma pessoa que não tem carro e não viaja. Portanto não usa as rodovias. Mas por essas estradas são transportados alguns produtos, a que o cidadão tem acesso quando vai ao supermercado do bairro."

Fibra em casa
Na Suécia, a Ericsson, iniciou um programa, com a tecnologia chamada "Fiber to the Home".
O gerente de negócios da empresa no Brasil, Marcelo Souza Fernandes, um entusiasta do novo sistema, conta que a experiência sueca consiste na utilização de fibra óptica nas residências. O morador tem todos os seus equipamentos conectados por meio da fibra. Desde o telefone, em que a voz chega digitalizada, televisão, Internet e até o hidrômetro e outros medidores.
O teste da multinacional está sendo realizado em 800 apartamentos de um conjunto habitacional, segundo o gerente.

Custos
A previsão do acadêmico da Unicamp é que o custo das operações individualmente deve baratear. No entanto o surgimento de novos serviços, que deverão se tornar tão necessários quanto o telefone e a Internet, devem manter as despesas no patamar atual.
De acordo com o professor Waldman, os preços também deverão variar de acordo com a qualidade da transmissão. Diferentemente do que acontece no século 20, em que a qualidade é padrão, com os novos sistemas, os usuários poderão escolher o nível de qualidade que desejam, inclusive inferior ao padrão atual, e, com isso, determinar quanto querem pagar pelos serviços.

O que é
Grosseiramente, a fibra óptica pode ser descrita como um tubinho de vidro que transporta sinais de luz. Além de ser usado em telecomunicações, o material serve para aplicações em diversas áreas como a medicina e até arquitetura e decoração.

Pesquisa
O professor Waldman diz que as pesquisas com fibra óptica tiveram início no Brasil na década de 70, com a fibra multimodo, que ainda não apresentava grandes vantagens em relação aos cabos metálicos na telecomunicação.
A capacidade dos sistemas foi ampliada nas décadas seguintes com a introdução da fibra monomodo.
O professor, que desenvolve um estudo em "Conectividade Óptica em Rede", diz que o gargalo, hoje, é quanto à exploração das possibilidades da tecnologia. O problema seria a dificuldade da eletrônica em acompanhar a capacidade de que a fibra dispõe.

Lucros
A Comissão de Concessões da Secretaria de Estado dos Transportes é quem controla o lucro obtido pelas concessionárias com a receita acessória (publicidade e aluguel do subsolo). A assessoria de imprensa da comissão diz que nove concessionárias que assinaram seus contratos entre março de 1998 e setembro de 98, pagam ao governo do Estado, 3% da arrecadação com essa receita. Outras três (Intervias, Rodovias Das Colinas e SP Vias), que tiveram seus contratos feitos entre fevereiro e março de 2000, pagam 25%.
O combinado é que a receita acessória seja de até 5% (varia de 2% a 5% nos contratos) da arrecadação total. Se for maior, o governo pode pedir que o excesso seja revertido em benefício dos usuários, com a redução de tarifas ou a antecipação de obras.
Já o diretor de operações Ricardo Teixeira, da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.) e do DER (Departamento de Estradas de Rodagem), afirma que são cobrados R$ 19,50 por metro por ano pelo uso do subsolo.
No caso da concessionária NovaDutra, o contrato prevê que toda a arrecadação com receita acessória seja aplicada na rodovia. "O governo federal fala em mudar esse sistema. Acho que é um equívoco. É natural que esse recurso seja investido onde é gerado, em benefício da própria estrada. Senão, pra onde vai esse dinheiro?", diz o presidente da NovaDutra Evandro Sarubby. Segundo ele, a receita anual da concessionária com o aluguel do subsolo é de R$ 9 milhões. (LUCIANA DUTRA)

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