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Fibras ópticas "trafegam" por quase 4 mil dos 27 mil quilômetros de rodovias do Estado de São Paulo
DA REDAÇÃO
Os quase 27 mil quilômetros de
malha viária pavimentada do Estado de São Paulo contam com
cabeamento em fibra óptica em
cerca de 13,8% (3.712,8 km) de sua
extensão. Em outros 2.229,5 quilômetros, as obras para a colocação dos cabos já começaram ou
há projeto para a instalação.
O que esses fios escondidos no
subsolo serão capazes de gerar, a
maioria dos entrevistados (mesmo não conseguindo mensurar),
não se acanha em chamar de "revolução" nas telecomunicações.
Para o professor Hélio Waldman, da Unicamp (Universidade
Estadual de Campinas), que trabalha com comunicação por fibra
óptica desde a década de 80, o que
o uso da nova tecnologia vai permitir é a transmissão de um volume muito maior de informação
(som, imagem, texto) com padrões de qualidade diferentes e
com maior rapidez.
Segundo o professor, a massificação da Internet é um dos fatores
que impulsiona o crescimento da
aplicação da tecnologia e só será
possível se o país contar com os
cabos em seus sistemas de telecomunicações. Para Waldman, só
então, os usuários da rede vão conhecer o sentido de "navegação".
Navegação, segundo ele, não é
um usuário ficar "pendurado" em
um canal, recebendo as informações, mas ter à disposição um ambiente de comunicação em que
basta um click para se ter acesso a
mais informações do que o ser
humano está capacitado a
apreender.
Para entender o que isso significa, o professor explica que a unidade da fibra óptica é o terabit,
que equivale a 1 trilhão de bits.
"Com alguns milhões de bits,
por exemplo, é possível a transmissão de toda a informação da
enciclopédia "Britannica" em menos de um segundo", diz o professor.
Já o ser humano, utilizando todos os seus sentidos, tem capacidade para apreender apenas 10
megabits (10 milhões de bits) de
informação por segundo.
Telefone
Para Waldman, o telefone tende
ser um tráfego minoritário nas redes de fibra óptica. Isso porque
um terabit é capaz de transmitir a
informação de todas as pessoas
do mundo falando ao telefone ao
mesmo tempo, segundo ele.
Por isso, a fibra permite a disseminação da informação na chamada faixa larga, que possibilita,
além da massificação da Internet,
a teleducação e novos serviços como o vídeo por demanda, em que
cada telespectador poderá escolher o filme que deseja assistir em
sua televisão em casa.
Evolução
Quando a fibra começou a ser
usada na transmissão de dados,
foi empregada em núcleos de redes de companhias, fazendo a interligação entre as centrais.
O professor diz que, hoje, no
Brasil, a tecnologia pode ser encontrada em dois ambientes: em
sistemas de longa distância, interligando metrópoles, e em ambientes metropolitanos, em distâncias curtas, mas onde a quantidade de dados é grande.
As concessionárias das rodovias
do Estado, por exemplo, utilizam
a fibra óptica na interligação de
centrais e no funcionamento de
equipamentos como telefones de
emergência, painéis de mensagens variáveis, equipamentos para serviços de meteorologia, entre
outros serviços.
O cidadão comum, segundo o
professor Waldman, ainda fica
nas "pontas" do processo. Mesmo
que as informações sejam transmitidas por meios avançados, elas
são recebidas por ele em terminais metálicos. No entanto o
usuário já é beneficiado. "É como
uma pessoa que não tem carro e
não viaja. Portanto não usa as rodovias. Mas por essas estradas são
transportados alguns produtos, a
que o cidadão tem acesso quando
vai ao supermercado do bairro."
Fibra em casa
Na Suécia, a Ericsson, iniciou
um programa, com a tecnologia
chamada "Fiber to the Home".
O gerente de negócios da empresa no Brasil, Marcelo Souza
Fernandes, um entusiasta do novo sistema, conta que a experiência sueca consiste na utilização de
fibra óptica nas residências. O
morador tem todos os seus equipamentos conectados por meio
da fibra. Desde o telefone, em que
a voz chega digitalizada, televisão,
Internet e até o hidrômetro e outros medidores.
O teste da multinacional está
sendo realizado em 800 apartamentos de um conjunto habitacional, segundo o gerente.
Custos
A previsão do acadêmico da
Unicamp é que o custo das operações individualmente deve baratear. No entanto o surgimento de
novos serviços, que deverão se
tornar tão necessários quanto o
telefone e a Internet, devem manter as despesas no patamar atual.
De acordo com o professor
Waldman, os preços também deverão variar de acordo com a qualidade da transmissão. Diferentemente do que acontece no século
20, em que a qualidade é padrão,
com os novos sistemas, os usuários poderão escolher o nível de
qualidade que desejam, inclusive
inferior ao padrão atual, e, com isso, determinar quanto querem
pagar pelos serviços.
O que é
Grosseiramente, a fibra óptica
pode ser descrita como um tubinho de vidro que transporta sinais de luz. Além de ser usado em
telecomunicações, o material serve para aplicações em diversas
áreas como a medicina e até arquitetura e decoração.
Pesquisa
O professor Waldman diz que
as pesquisas com fibra óptica tiveram início no Brasil na década de
70, com a fibra multimodo, que
ainda não apresentava grandes
vantagens em relação aos cabos
metálicos na telecomunicação.
A capacidade dos sistemas foi
ampliada nas décadas seguintes
com a introdução da fibra monomodo.
O professor, que desenvolve um
estudo em "Conectividade Óptica
em Rede", diz que o gargalo, hoje,
é quanto à exploração das possibilidades da tecnologia. O problema seria a dificuldade da eletrônica em acompanhar a capacidade
de que a fibra dispõe.
Lucros
A Comissão de Concessões da
Secretaria de Estado dos Transportes é quem controla o lucro
obtido pelas concessionárias com
a receita acessória (publicidade e
aluguel do subsolo). A assessoria
de imprensa da comissão diz que
nove concessionárias que assinaram seus contratos entre março
de 1998 e setembro de 98, pagam
ao governo do Estado, 3% da arrecadação com essa receita. Outras três (Intervias, Rodovias Das
Colinas e SP Vias), que tiveram
seus contratos feitos entre fevereiro e março de 2000, pagam 25%.
O combinado é que a receita
acessória seja de até 5% (varia de
2% a 5% nos contratos) da arrecadação total. Se for maior, o governo pode pedir que o excesso seja
revertido em benefício dos usuários, com a redução de tarifas ou a
antecipação de obras.
Já o diretor de operações Ricardo Teixeira, da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.) e do
DER (Departamento de Estradas
de Rodagem), afirma que são cobrados R$ 19,50 por metro por
ano pelo uso do subsolo.
No caso da concessionária NovaDutra, o contrato prevê que toda a arrecadação com receita
acessória seja aplicada na rodovia.
"O governo federal fala em mudar
esse sistema. Acho que é um equívoco. É natural que esse recurso
seja investido onde é gerado, em
benefício da própria estrada. Senão, pra onde vai esse dinheiro?",
diz o presidente da NovaDutra
Evandro Sarubby. Segundo ele, a
receita anual da concessionária
com o aluguel do subsolo é de R$
9 milhões.
(LUCIANA DUTRA)
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