São José dos Campos, Domingo, 24 de Setembro de 2000

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Interior do Estado concentra 3 dos 4 pólos tecnológicos em SP

DA REDAÇÃO

Três dos quatro pólos tecnológicos existentes no Estado de São Paulo ficam no interior. Depois da capital, são considerados grandes centros de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia avançada as cidades de Campinas, São José dos Campos e São Carlos.
Em comum, os municípios possuem uma infra-estrutura básica satisfatória, acessos fáceis para rodovias e universidades e institutos que podem auxiliar no preparo de mão-de-obra adequada e especializada. Apesar das semelhanças, cada uma desenvolveu características próprias, tendo como destaque áreas distintas.
Campinas, por exemplo, tornou-se uma referência no Estado no setor de telecomunicações e informática. São José virou a "capital" do ramo aeroespacial, além de ter também boa atuação no setor de eletroeletrônicos, enquanto São Carlos ficou conhecida pelos seus estudos na área científica e de engenharia metal-mecânica.
"Desde a década de 70, já havia um movimento de transferência de indústrias de São Paulo para regiões menos conurbadas, em especial em direção ao norte do Estado. A capital já estava saturada. Nos anos 80, esse processo regrediu um pouco por conta da crise", disse o economista e professor do departamento de engenharia de produção da UFSCar Francisco José da Costa Alves.
Segundo Sandra Brisolla, do departamento de política científica e tecnologia do Instituto de Geociências da Unicamp, houve um investimento sustentado, principalmente em Campinas e São José, que justificam o grau de avanço atingido por essas cidades.
"Toda a tecnologia e a ciência não surgem de uma hora para outra. É consequência de um investimento realizado de longo prazo. Foi o que aconteceu com São José. Desde os anos 40, o Brasil começou a formar lá uma escola de engenharia, o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). É um investimento de quase 60 anos."
São José foi favorecida no aspecto estratégico do governo brasileiro em uma época em que se prezava pela segurança nacional.
Além do CTA (Centro Técnico Aeroespacial), foram instalados no município o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e a Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica). "Começou-se a explorar um nicho de mercado (aviões regionais) em que soubemos tirar vantagem sobre os concorrentes", afirmou Sandra.
O investimento do governo federal no setor de informática -especialmente a partir da implantação do CPqD (Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações), um "braço" da antiga Telebras, em 76- fez com que Campinas virasse pólo de pesquisas na área.
A Unicamp já existia à época, e a cidade também sediava o CTI (Centro Tecnológico para Informática). Mais tarde, outras instituições que trabalham com tecnologia de ponta se instalaram -como o Ital (Instituto Tecnológico de Alimentos), o IAC (Instituto Agronômico de Campinas), Instituto Biológico e LNLS (Laboratório Nacional de Luz Sincroton).
Em São Carlos, a presença de duas universidades de conceito foi o que alavancou a cidade. "A maior parte dos cursos da USP e da UFSCar é voltada para a tecnologia", disse Ana Cristina Fernandes, do departamento de engenharia civil da UFSCar.
Ela coordenou uma pesquisa em que foi constatado que 12% de empresas de porte pequeno e médio de base tecnológica em 98 ficavam na região de São Carlos, à frente, inclusive, de São José dos Campos (8,8%), e atrás apenas das regiões metropolitana (53,7%) e de Campinas (16,9%).
"Há uma grande polêmica sobre o que é e o que não é tecnológico. Nos concentramos no produto e não no processo. O esforço tecnológico existe quando há investimento em pesquisa e desenvolvimento, e não quando há uso da tecnologia madura, que já foi divulgada e é repetitiva." (KO)

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