Só 50% atendem aos recalls, diz Procon
Chamados são feitos quando o problema detectado no veículo gera riscos à segurança dos ocupantes e de terceiros
Reparo gerado por falha de fabricação não tem prazo de validade para ser feito e é sempre gratuito
Daniel Ribeiro, 33, já adiou a visita a uma concessionária Fiat por algumas vezes. O advogado tem um Punto Essence 2014, um dos quatro modelos convocados na última campanha de chamamento anunciada pela marca.
Isso porque trocar o óleo lubrificante da caixa de câmbio ("visando adequá-lo às especificações previstas no Manual de Uso e Manutenção", segundo recomendação da empresa) é uma tarefa que não o preocupa.
"A prioridade desse recall na minha rotina é zero, uma vez que não me foi informado se esse tipo de problema coloca minha vida em risco", avalia Ribeiro.
Ele promete levar o hatch para o reparo na próxima semana, e assim não engrossar um contingente volumoso: na média, 50% dos clientes não atendem aos chamados, segundo Andréa Arantes, assessora-executiva do Procon de São Paulo.
"Esse é um montante alarmante. Um bom número seria 80% de comparecimento", afirma.
A maior procura pelo reparo concentra-se no primeiro mês após o chamado.
"Até o fim de outubro, nosso recall do Classe C registrou um índice de atendimento de 40%. A campanha envolve 954 veículos e foi anunciada em setembro", informa a assessoria de imprensa da Mercedes-Benz.
Tanto montadoras quanto o Procon acreditam que ainda falta conscientização. "Os consumidores devem entender que o atendimento ao chamado visa impedir um eventual acidente, pois o produto objeto de recall expõe os ocupantes a riscos", afirma Andréa Arantes.
Outra razão que parece explicar o porquê de grande parte dos consumidores não atender aos recalls é a aparente falta de gravidade de certos defeitos diante da periculosidade de outros.
"Lembro que o recall do VW Fox para troca de um componente do banco traseiro, que poderia cortar o dedo dos usuários, gerou uma repercussão muito grande. Acredito que todos os proprietários atenderam a esse chamado", diz Ribeiro.
POR ONDE COMEÇA
A maioria dos casos de recall é detectada pelas próprias montadoras, que realizam contínuos testes de qualidade mesmo após o produto ser lançado.
As fabricantes devem comunicar o problema aos canais de defesa do consumidor, que analisam se o volume de reclamações daquele defeito ou seus desdobramentos justificam um recall.
Contudo, os proprietários dos veículos também podem dar origem a um campanha de chamamento.
"Poucos consumidores têm a sensibilidade de identificar que um acidente sofrido por ele ocorreu por um defeito de fábrica. Muitos mais casos poderiam ser divulgados, mas os clientes não registram queixa", conclui a assessora-executiva do Procon.