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IVAN FINOTTI - ivan.finotti@grupofolha.com.br

Os vidros e os para-choques do veículo moraram durante quatro anos em seu quarto, entre 2008 e 2011

Luiz Miranda tem três automóveis em sua garagem, na zona oeste de São Paulo, mas sempre pega um ônibus quando vai para as baladas no centro ou na rua Augusta.

Parece coisa de louco, mas trata-se de característica comum entre os antigomobilistas (nome de quem anda de carro antigo).

Preocupados com roubos, eles jamais estacionam nas ruas. Enciumados com suas carrocerias brilhantes, nunca deixam o volante nas mãos de manobristas. Irritados com a falta de amor alheia, de modo algum entregam o carango a um valet.

"Na última vez que fui a um restaurante com o Fusca [branco, 1969], disse para o cara não mudar a posição do banco, porque iria desencaixar. O que você acha que aconteceu? Ele mexeu, e saiu do trilho", lamenta o publicitário de 42 anos.

"Só dono sabe como mexer em carro antigo, que força aplicar na maçaneta, como ligar a ignição, o jeito certo de abrir o porta-luvas, que peças estão desgastadas etc."

Assim, além do Fusca, o Karmann Ghia 1964 amarelo com teto preto ("saia e blusa", como se dizia na época) e o Opala 1971 azul turquesa só veem a luz do dia quando há uma rotina pré-estabelecida.

"Uso apenas quando sei que há lugar para estacionar e não preciso deixar a chave."

Também, após quatro anos recuperando o Karmann Ghia, dá para entender porque o detalhista e meticuloso Miranda é tão cuidadoso. "Desmontei pessoalmente o carro e fui recuperando peça por peça."

Os vidros e os para-choques do veículo, por exemplo, moraram durante quatro anos em seu quarto, entre 2008 e 2011.

É claro que valeu a pena. Pelo menos para ir ao serviço, ele não precisa mais utilizar seu bilhete único. Os donos da agência em que trabalha têm bom gosto e arrumaram uma vaga extra para Miranda no prédio da firma.

"Mas só vale para quando eu vou de Karmann Ghia. O Fusquinha ainda não chegou nesse patamar..."

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