São Paulo, domingo, 03 de abril de 2011

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Chineses, J3 e Cielo disfarçam a origem

Bem equipados e com motores modernos, hatches de Jac e Chery devem incomodar rivais nacionais de R$ 40 mil

Em anúncios, J3 e Cielo não querem associação com a China, mesmo assim ainda precisam provar que são duráveis

FELIPE NÓBREGA
DE SÃO PAULO

O projetista Rodrigo Pasqual, 31, acaba de comprar seu primeiro carro. Quis logo um zero, o recém-lançado chinês Jac J3. "Troquei o ônibus por um carro completo, com ABS e airbag. Onde trabalho, só eu e o patrão temos um importado", orgulha-se.
No ano passado, 400 mil brasileiros adquiriram o seu primeiro carro novo, a maioria da nova classe C - ascenderam socialmente devido ao aumento salarial.
É esse cliente que as marcas chinesas tentam fisgar. Mas não o único, já que o mercado vive outro fenômeno: o da procura por modelos bem equipados.
A extensa lista de acessórios, aliás, é o principal atrativo do compacto J3 e de conterrâneos, como o médio Cielo, da Chery. Ambos custam o mesmo que seus respectivos rivais nacionais "pelados". Mas valem a pena?
Como na bolsa de valores, os ousados têm mais chances de ganhar -e de perder.
Isso porque, a longo prazo, os carros chineses são uma incôgnita. Precisam provar que têm qualidade para enfrentar anos de asfalto esburacado e combustível ruim.

LIÇÃO DE CASA
Em 16 dias de teste Folha-Mauá, o J3 1.4 (R$ 38 mil) mostrou que as 242 modificações para adequá-lo ao gosto brasileiro surtiram efeito. Trocaram desde borrachas de vedação até calibração de suspensão. Mesmo assim, o Jac não consegue superar o comportamento dinâmico de rivais, como o VW Fox (R$ 37 mil), principalmente em altas velocidades, quando a frente do carro chinês parece "flutuar".
O motor 1.4 (a gasolina) de 108 cv com duplo comando variável, porém, faz o "flex" do GM Agile (R$ 36 mil), por exemplo, parecer de museu.
Tanto que o J3 é 0,5s mais rápido no 0 a 100km/h (13,5s) e 30% mais econômico na estrada (17,3 km/l).
O motorista, talvez, considere mais fácil aprender mandarim do que achar uma boa posição de guiar. Faltam regulagens básicas, como a de altura do banco.
No Cielo 1.6 também. Por ser maior e mais caro (R$ 44 mil), porém, ele compete numa categoria acima, na qual figuram GM Astra 2.0 (R$ 48 mil) e Ford Focus 1.6 (R$ 54 mil), ambos mais bem acabados e dispostos. A favor do hatch da Chery, só o visual arrebatador, criado pela italiana Pininfarina (designer da Ferrari).
Mais otimista só a dupla saída de escape do motor de 1.597 cm³ (a gasolina) de 119 cv, que, na subida e com o ar ligado, esquece os 15 kgfm de torque. As relações longas do câmbio manual de cinco marchas também não ajudam.
Para retomar de 80 a 120 km/h, o Cielo leva 16,5s, tempo de VW Gol 1.0. Pelo menos quem vai atrás tem espaço para as pernas e a precisão da suspensão "multilink".
São incoerências que os chineses precisam acertar.
Afinal, o bom aluno não tira nove em matemática e é reprovado em português.

As montadoras cederam os carros para teste

INSTITUTO MAUÁ DE TECNOLOGIA
0/xx/11/4239-3092; www.maua.br




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