da Reportagem Local

Imagine a cena: você leva o carro para fazer uma simples revisão numa concessionária na segunda-feira de manhã e à noite vê pela televisão seu automóvel boiando no pátio da revenda. Depois do desespero, logo vem a pergunta: quem vai arcar com os prejuízos?
"A revenda não pode se isentar da responsabilidade com o consumidor. É indiscutível a obrigação dela", afirma Sonia Cristina Amaro, assistente de direção do Procon-SP (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor).
Na enchente que atingiu a concessionária Fiat Projeto 5 (antiga Jarumby) -o córrego Morro do S, na Vila Andrade, zona sudoeste, transbordou, e cerca de 300 veículos foram atingidos pela cheia-, existem dois procedimentos, segundo o Código de Defesa do Consumidor.
Se o carro foi deixado na concessionária para fazer uma revisão, por exemplo, ela deve entrar em contato com o consumidor e comunicar que fará os devidos reparos ou arcará com os custos, caso o cliente queira que o serviço seja feito em outro local.
No caso de veículos zero-quilômetro ou usados que já estavam vendidos, mas ainda não haviam sido entregues, a revenda tem de dar outro carro.
"A empresa não pode repassar um carro que ficou cheio de água para o consumidor, porque as qualidades estética e mecânica, mesmo com todos os reparos, ficam comprometidas", diz Sonia.

Na prática
Depois de começar a colocar a casa em ordem, a Projeto 5 está aos poucos resolvendo o problema dos clientes que tiveram seus carros danificados -pelo menos em alguns casos.
"Os carros novos serão trocados por outros exatamente iguais, sem ônus para o cliente", afirma o gerente de vendas da Projeto 5, Eliude Caparroz de Oliveira.
Já os usados que haviam sido vendidos no feirão do fim-de-semana passado, por exemplo, terão um tratamento diferente.
"Uma equipe da seguradora da empresa vai analisar carro por carro. Se for possível, o veículo será recuperado e ficará como novo. Caso não seja, a Projeto 5 vai recomprar o carro pelo preço que o cliente pagou", explica Oliveira.

Seguro próprio
Mas a situação é um pouco mais complicada para os donos dos carros que estavam na oficina da Projeto 5 no dia do temporal.
Segundo Oliveira, o seguro da revenda não cobre os veículos que estavam em serviço. "Vamos recuperar os que tiverem condições, mas, em caso de perda total, o cliente terá de acionar seu próprio seguro", diz ele.
Para casos de perda total, a franquia não é paga, mas o cliente perde esse seguro -trata-se de um sinistro (no caso, enchente) que a seguradora está indenizando.
E, ao fazer outra apólice para o carro novo, o cliente perde também o bônus, que pode ser de 5% ou 10%, dependendo do tempo de renovação. Mesmo sendo um valor relativamente baixo, vai sair do bolso do cliente.
Para tentar compensar esse prejuízo, a Projeto 5 vai dar descontos -que chegam a 17% em alguns modelos- para os carros novos e usados. "Vamos vender os veículos a preço de custo para esses clientes que "perderam" seus carros", afirma Oliveira.
Vale lembrar que, se o seguro do carro não estiver quitado, é preciso acabar de pagá-lo para que a seguradora arque com os gastos. Aí, a briga passa a ser entre a seguradora e a revenda.

Vítima
O administrador Sérgio Leomil, 51, levou seu Fiat Uno 99 à revenda Projeto 5 para um pequeno trabalho de funilaria e iria buscar o carro na terça-feira.
"A decepção foi enorme na hora que vi o noticiário em casa à noite", lembra. "O carro já devia ter ficado pronto, mas a concessionária atrasou a entrega."
Sem saber ao certo como proceder, Sérgio resolveu acionar seu próprio seguro para fazer perícia. "A minha preocupação é que, se não for dado perda total, meu carro nunca mais será o mesmo. Ele ficou cheio de água", diz.
"O certo seria eu ter um carro igual ao que eu tinha, com os mesmos acessórios, sem nenhum custo, mas isso será difícil de acontecer. Isso sem contar com o transtorno e o tempo perdido."
(GLENDA PEREIRA)


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