São Paulo, domingo, 05 de agosto de 2007

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Poluição ambiental

Carro fechado, mesmo com ar-condicionado, concentra poluentes além do recomendado pela OMS e faz motorista respirar pior ar que pedestre

FABIANO SEVERO
DA REPORTAGEM LOCAL

Relógios alertando para a má qualidade do ar não são novidade. O que poucos sabem, porém, é que os motoristas estão mais vulneráveis a gases tóxicos do que os pedestres.
Um estudo feito para a Folha pelo Eco Quest do Brasil, que monitora a qualidade do ar em interiores, avaliou o ar em um carro fechado com duas e quatro pessoas durante uma hora na região central de São Paulo.
Em apenas quatro minutos, o valor de CO (monóxido de carbono) em um carro com o motorista e um passageiro superou em até quatro vezes o limite estabelecido pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para ambientes fechados.
E usar o ar-condicionado não adianta. Os testes foram feitos com o equipamento ligado e admitindo o ar externo.
"Mesmo com o ar-condicionado, o carro fechado ganha pouco ar de fora. Melhora só se abrirmos os vidros", explica Maria José Silveira, da Brasindoor (Sociedade Brasileira de Meio Ambiente e Controle de Qualidade do Ar de Interiores).
"O carro é uma espécie de câmara de intoxicação. A poluição entra e não sai", diz Paulo Saldiva, coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da USP (Universidade de São Paulo).
Segundo ele, testes revelam que a concentração de partículas tóxicas no interior do veículo fechado é o quádruplo do que na calçada ao lado.
Para Silveira, o problema é não haver, em nenhum lugar do mundo, uma norma específica para os carros. Por isso as montadoras mantêm os filtros de ar-condicionado antipólen.
"Eles evitam crises alérgicas em época de polinização, e não a entrada de gases tóxicos."
Procurada pela Folha, a Anfavea (associação de fabricantes de veículos) não comentou.

Vidro aberto
Além do CO -gás liberado pelo escapamento-, o interior do carro fechado concentra CO2 (dióxido de carbono) -gás produzido pela respiração.
No estudo feito para a Folha, 20 segundos após a abertura dos vidros dianteiros, a quantidade de CO2 caiu de 1.650 ppm (partes por milhão) para 1.080 ppm, 80 ppm acima do limite da OMS. E estabilizou-se em 370 ppm em cinco minutos.
Por ter propriedades químicas que o impedem de se dispersar com tanta facilidade, o CO levou quatro minutos para que sua concentração caísse de 297 ppm para 210 ppm -o limite da OMS é de 25 ppm. A partir do 12º minuto, manteve-se estável em 77 ppm.


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