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Defeito móvel
Um terço dos recalls é ignorado; projeto quer barrar licenciamento de veículos "inseguros" em 2009
FELIPE NÓBREGA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quem compra um automóvel
zero-quilômetro acredita ficar
longe de problemas mecânicos
por um bom tempo. Mas não é
bem isso o que mostra o Procon-SP (Fundação de Proteção
e Defesa do Consumidor).
Desde janeiro deste ano, a
entidade registrou 13 anúncios
de recall -incluindo o que a
Chevrolet divulgou na quarta-feira, convocando proprietários de Celta, Classic e Prisma a
trocarem o fecho dos cintos de
segurança dianteiros.
Nos dois maiores recalls de
2008, promovidos pela Volkswagen, foram chamados 631,7
mil veículos, mais que o dobro
do detectado no ano passado,
quando 256,3 mil carros de todas as marcas tiveram de comparecer a uma revenda.
O número crescente de recalls não é o único fato alarmante. Preocupa saber também que cerca de um terço dos
carros defeituosos não aparece
nas concessionárias -a média é
calculada pelas montadoras, e o
índice vai de 30% a 80%. Para a
Ford, "depende de como o
usuário avalia a gravidade".
Luiz Boffa, 38, assume que
não levou a sua Renault Scénic
2000 para substituição dos fechos do cinto de segurança
dianteiros. "A necessidade de
agendamento e a impossibilidade de troca nos finais de semana atrapalham", justifica.
O anúncio da Renault, feito
em março de 2007, alertava para o risco de ferimentos graves
ou fatais em caso de acidentes.
Mesmo sabendo que usuários chegaram a ter parte do dedo arrancada, Jeverson Vanni,
30, não levou seu Volkswagen
Fox 2004 para a substituição
do sistema de rebatimento do
banco traseiro inteiriço "por
não utilizá-lo". "Mas avisarei ao
próximo proprietário."
Em comunicado enviado à
Folha, a VW afirma que "é extremamente importante que os
consumidores se conscientizem da importância do funcionamento adequado de todas as
funções de seus veículos e que
atendam às convocações para
que elas sejam asseguradas",
mas não informa se planeja
uma ação para aumentar o
comparecimento.
Para Paulo Arthur Góes, diretor de fiscalização do Procon-SP, nos comunicados obrigatórios, os fabricantes, com medo
de "arranhar a imagem da marca", recorrem a expressões que
minimizam os riscos.
Dupla responsabilidade
Mas é preciso ficar alerta,
pois o motorista pode ser responsabilizado criminalmente
caso, por exemplo, atropele
uma pessoa. "Apesar de os danos ocasionados em decorrência do defeito serem sempre de
responsabilidade do fornecedor, o consumidor negligente
também pode ser processado
pelas vítimas", afirma Góes.
Um projeto do Denatran
(Departamento Nacional de
Trânsito), em parceria com a
Secretaria de Defesa do Consumidor, quer tornar obrigatório
o comparecimento ao recall já a
partir de 2009.
A proposta é que o licenciamento só seja feito após o reparo, que continua custeado pelo
fabricante, assim como as campanhas informativas. Seria algo
como já ocorre com as multas.
O recall costuma ser comunicado aos proprietários por carta -e por anúncios na mídia-,
mas, atualmente, os bancos de
dados das montadoras contemplam apenas o primeiro dono.
As montadoras reclamam de
não ter acesso aos dados de outros clientes, cujas informações
são restritas ao Denatran.
Cassandra Lefo, segunda dona de um Peugeot 206, diz não
ter levado seu veículo 2007 para a verificação do conector do
limpador do pára-brisa porque
não sabia do problema, comunicado em maio.
NA INTERNET - Veja a lista completa dos carros que passam por recall
www.mj.gov.br/Recall/
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