São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2008

Próximo Texto | Índice

Defeito móvel

Um terço dos recalls é ignorado; projeto quer barrar licenciamento de veículos "inseguros" em 2009

FELIPE NÓBREGA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quem compra um automóvel zero-quilômetro acredita ficar longe de problemas mecânicos por um bom tempo. Mas não é bem isso o que mostra o Procon-SP (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor).
Desde janeiro deste ano, a entidade registrou 13 anúncios de recall -incluindo o que a Chevrolet divulgou na quarta-feira, convocando proprietários de Celta, Classic e Prisma a trocarem o fecho dos cintos de segurança dianteiros.
Nos dois maiores recalls de 2008, promovidos pela Volkswagen, foram chamados 631,7 mil veículos, mais que o dobro do detectado no ano passado, quando 256,3 mil carros de todas as marcas tiveram de comparecer a uma revenda.
O número crescente de recalls não é o único fato alarmante. Preocupa saber também que cerca de um terço dos carros defeituosos não aparece nas concessionárias -a média é calculada pelas montadoras, e o índice vai de 30% a 80%. Para a Ford, "depende de como o usuário avalia a gravidade".
Luiz Boffa, 38, assume que não levou a sua Renault Scénic 2000 para substituição dos fechos do cinto de segurança dianteiros. "A necessidade de agendamento e a impossibilidade de troca nos finais de semana atrapalham", justifica.
O anúncio da Renault, feito em março de 2007, alertava para o risco de ferimentos graves ou fatais em caso de acidentes.
Mesmo sabendo que usuários chegaram a ter parte do dedo arrancada, Jeverson Vanni, 30, não levou seu Volkswagen Fox 2004 para a substituição do sistema de rebatimento do banco traseiro inteiriço "por não utilizá-lo". "Mas avisarei ao próximo proprietário."
Em comunicado enviado à Folha, a VW afirma que "é extremamente importante que os consumidores se conscientizem da importância do funcionamento adequado de todas as funções de seus veículos e que atendam às convocações para que elas sejam asseguradas", mas não informa se planeja uma ação para aumentar o comparecimento.
Para Paulo Arthur Góes, diretor de fiscalização do Procon-SP, nos comunicados obrigatórios, os fabricantes, com medo de "arranhar a imagem da marca", recorrem a expressões que minimizam os riscos.

Dupla responsabilidade
Mas é preciso ficar alerta, pois o motorista pode ser responsabilizado criminalmente caso, por exemplo, atropele uma pessoa. "Apesar de os danos ocasionados em decorrência do defeito serem sempre de responsabilidade do fornecedor, o consumidor negligente também pode ser processado pelas vítimas", afirma Góes.
Um projeto do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), em parceria com a Secretaria de Defesa do Consumidor, quer tornar obrigatório o comparecimento ao recall já a partir de 2009.
A proposta é que o licenciamento só seja feito após o reparo, que continua custeado pelo fabricante, assim como as campanhas informativas. Seria algo como já ocorre com as multas.
O recall costuma ser comunicado aos proprietários por carta -e por anúncios na mídia-, mas, atualmente, os bancos de dados das montadoras contemplam apenas o primeiro dono. As montadoras reclamam de não ter acesso aos dados de outros clientes, cujas informações são restritas ao Denatran.
Cassandra Lefo, segunda dona de um Peugeot 206, diz não ter levado seu veículo 2007 para a verificação do conector do limpador do pára-brisa porque não sabia do problema, comunicado em maio.


NA INTERNET - Veja a lista completa dos carros que passam por recall
www.mj.gov.br/Recall/



Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.