São Paulo, domingo, 08 de novembro de 2009

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Recall atinge 8 milhões de veículos no Brasil

Só metade vai à revenda; projeto de lei que o torna obrigatório está parado

Adriano Vizoni/Folha Imagem
Joel Guedes ouve ruídos no motor do seu Voyage; Volkswagen faz campanha

RICARDO RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O Brasil nunca teve tantos casos de recall de veículos.
Até outubro, as montadoras já fizeram 35 campanhas, uma a mais do que no ano passado inteiro, quando foram convocados 969,5 mil veículos para a verificação de defeitos que comprometem a segurança.
É um número quase quatro vezes maior do que o de 2007, segundo dados do Procon de São Paulo e do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor do Ministério da Justiça.
Nos últimos 20 anos, pelo menos oito milhões de veículos foram convocados para recalls -16% da frota atual do país.
Só que, segundo os fabricantes, em média, apenas metade dos proprietários comparece.
Na Europa e nos EUA -país no qual o primeiro recall de carro foi feito em 1966-, o comparecimento chega a 90%, segundo órgãos de fiscalização.
Pelo projeto de lei 1.527/07, o Detran verificaria, durante a vistoria anual, se o dono do carro atendeu ao recall, impedindo o licenciamento de carros com possíveis defeitos.
A proposta, porém, está parada há mais de dois anos na CCJC (Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania), da Câmara dos Deputados.

Gravidade
"O tempo de análise, feito por um deputado relator, depende da complexidade do projeto, e hoje temos 6.000 propostas para avaliar", diz o vice-presidente da CCJC, deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS). Segundo ele, o processo é mais lento porque não há interesse de grandes grupos pressionando.
Para Emerson Sanches, supervisor técnico da revenda Ford Mix, "o comparecimento depende de como o usuário avalia a gravidade do defeito".
"O consumidor brasileiro está ficando mais consciente e exigente, mas ainda é muito frequente o sentimento de deixar para depois", avalia o sociólogo Cláudio José dos Santos, pró-reitor da Unisantos (Universidade Católica de Santos).
Paulo Butori, presidente do Sindipeças (Sindicato dos Fabricantes de Autopeças), afirma que "o aumento da produção e algumas dificuldades nos projetos, devido à alta velocidade nos lançamentos e aos prazos curtos, têm contribuído para o aumento de recalls".

No mundo
De acordo com dados do NHTSA (em inglês, departamento nacional de segurança viária), os Estados Unidos convocam três vezes mais recalls que o Brasil- nos últimos quatro meses foram 25 campanhas nos EUA e nove aqui.
Em outubro, a Ford norte-americana convocou 4,5 milhões de proprietários do Fusion devido a defeito no controlador de velocidade. Em dez anos, foram 14,3 milhões de Ford com o mesmo problema -o maior recall nos EUA.
Até as japonesas Toyota e Honda, com fama de duráveis, estão com seus controles de qualidade sob suspeita após aumento recente nas vendas.
A Toyota assumiu a liderança global de vendas neste ano e convocou, em setembro, nos EUA, o maior recall da marca -3,8 milhões de Camry com defeito nos tapetes. Eles podem travar o acelerador e causar acidentes graves.


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