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Inimigo secreto
Enviar mensagens pelo celular ao dirigir quadruplica o risco de acidentes no trânsito
Marcelo Justo 14.fev.08/Folha Imagem
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Motorista desvia o olhar e ainda pode perder o controle do carro
FELIPE NÓBREGA
DA REPORTAGEM LOCAL
As imagens impressionam.
Uma câmera no interior do veículo que segue pela estrada flagra a motorista digitando uma
mensagem no celular.
Duas jovens acompanhantes
também aparecem entretidas
com o conteúdo do texto. A distração coletiva dura pouco, mas
o suficiente para o carro invadir
a pista contrária e se chocar
contra outro carro.
Um terceiro automóvel também se envolve na batida. Entre ferragens e vidro moído,
quatro mortos. O celular está no canto. Com a tela trincada, ele
ainda exibe a mensagem que
nunca fora enviada.
O vídeo é uma simulação da
polícia do País de Gales exibida
como alerta. Alerta feito também pela Universidade Harvard (EUA), cujo estudo equipara o risco de guiar e falar ao
telefone ao de dirigir embriagado -equivalente à ingestão de
duas taças de vinho.
O perigo se multiplica quando o condutor resolve ler ou digitar mensagens. Nesses casos,
as chances de acidente dobram
para quatro vezes, aponta a
Universidade de Utah (EUA).
No Brasil, o uso do celular ao
volante dá multa de R$ 85.
O estudo mostra que, para digitar um texto, o condutor foca
o celular por intervalos de 5s.
"Em 1s, o veículo a 60 km/h
percorre 17 metros", calcula
André Horta, analista do Cesvi
(Centro de Experimentação e
Segurança Viária).
"Entretido, o condutor diminui o poder de reação em meio
ao trânsito e compromete a
coordenação", alerta Horta.
Para Nelson Mattos, especialista em segurança de tráfego
da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), o fato
de as pessoas passarem mais
tempo no trânsito estimula o
uso de equipamentos de entretenimento e de comunicação.
Bluetooth
"O problema é que a pluralidade de tarefas atrapalha o ato
de dirigir", afirma Mattos.
Por outro lado, cada vez mais
carros são equipados com GPS,
Bluetooth e entrada auxiliar
para iPod, por exemplo.
De acordo com o pesquisador
americano David Strayer, esses
itens criam uma falsa sensação
de segurança, pois não requerem o uso frequente das mãos.
A Fiat desde 2004 oferece o
viva-voz para seus carros e diz
que esse tipo de equipamento é
um pedido dos consumidores.
"O teor da conversa potencializa a distração. Dialogar
com o carona não afeta, pois ele
acompanha a movimentação
do trânsito e até alerta caso
perceba perigo", diz Horta.
O Nationwide Mutual Insurance, uma espécie de consórcio de seguradoras americanas,
entrevistou 1.506 motoristas.
Desses, 8 em cada 10 assumiram que costumam usar o celular enquanto dirigem.
O curioso, no entanto, é que
os adeptos que se consideram
bons motoristas (98%) não
acreditam no risco de combinar volante e telefone.
Metade dos entrevistados,
porém, admite que quase se envolveu em acidente -usar celular ao volante é permitido em
alguns Estados americanos.
Sem estudos aprofundados
sobre o assunto, o governo brasileiro divulga dados genéricos.
Números da Polícia Rodoviária
Federal mostram que um terço
dos acidentes nas estradas é
motivado por algum tipo de
distração do condutor.
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