São Paulo, domingo, 11 de janeiro de 2009

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Multa estranha, recurso esquisito

Ciclista "empurra" carro na subida, e celular e biscoito se "confundem"

FABIANO SEVERO
DA REPORTAGEM LOCAL

O e-mail dizia: "Superman é brasileiro". No corpo da mensagem, aparecia a cópia de uma infração de trânsito em Ribeirão Preto (314 km a norte de São Paulo). Nada de mais, não fosse a foto curiosa, em preto-e-branco, de um Chevrolet Omega sendo empurrado por um homem. Ou super-homem.
A primeira reação é uma risada contida. Afinal, ninguém conseguiria empurrar um carro a 68 km/h -8 km/h acima do limite da via. Nem com uma mãozinha de Schwarzenegger em sua fase Mister Universo.
Se ninguém empurrava, então o que acontecera naquele dia? Pergunta para o coronel Antônio Carlos Muniz, superintendente da Transerp (Empresa de Transportes Urbanos de Ribeirão Preto).
"Com a imagem ampliada, é possível ver a ponta do guidom da bicicleta que estava no acostamento. Dá para ver também o motorista, mas, na notificação, escurecemos o para-brisa para preservar o condutor", explica.
Em tom jocoso, Muniz revela que, para piorar a situação do "super-homem brasileiro", o radar móvel estava fiscalizando a pista ascendente da avenida.
Mesmo assim, o infrator ainda ligou para a Transerp e pediu que anistiassem a multa. Afinal, só ele sabia como fora difícil tirar aquele Omega do lugar. E numa subida íngreme.
O coronel disse que não iria "quebrar" a multa e que processaria o infrator se ele espalhasse a foto, dando a entender que o equívoco era do radar da Polícia Militar de Ribeirão Preto.
"Estão querendo manchar a imagem da instituição [PM]", disse o coronel, ao saber que a foto corria pela internet.
Na notificação, o infrator indicou uma terceira pessoa. Explica-se: na época da infração, o carro havia sido vendido, mas o documento ainda estava no nome do ex-proprietário, Matheus de Freitas Zanardo.
Procurado pela Folha, Zanardo não quis comentar o caso. Mas sua mãe, Heloísa, fez questão de dizer que já havia acionado o advogado para processar o "garagista" que comprara o carro do seu filho.
"Ele [Zanardo] já tinha até comprado outro carro, que usou para viajar nas férias", conta, indignada a cada multa que recebe do "super-homem".
Roberto Heck, assessor jurídico da Transerp na época, afirma que o Estado não vai processar um cidadão por tentar se defender da multa. "Mas o real proprietário pode processar o novo dono por não transferir a documentação do carro [deve ser feita em até 30 dias]."

Manequins
Se essa multa parece estranha, há recursos também esquisitos. No Rio, por exemplo, um motorista foi multado por carregar pessoas na caçamba da picape. Argumentou que era lojista e carregava manequins para sua nova vitrine de verão. O recurso foi indeferido.
Outro processo negado, diz a CET-Rio (Companhia de Engenharia de Tráfego), foi o de um motorista que falava ao celular. Alegou que o policial confundiu o telefone com o pacote de Club Social, que comia na hora.
Teve até cidadão dizendo que é religioso, não fuma, não bebe, paga as contas em dia e, portanto, não acha justo ser multado. O "super-homem" também não achava, mas pagou R$ 127,69.


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