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Multa estranha, recurso esquisito
Ciclista "empurra" carro na subida, e celular e biscoito se "confundem"
FABIANO SEVERO
DA REPORTAGEM LOCAL
O e-mail dizia: "Superman é
brasileiro". No corpo da mensagem, aparecia a cópia de uma
infração de trânsito em Ribeirão Preto (314 km a norte de
São Paulo). Nada de mais, não
fosse a foto curiosa, em preto-e-branco, de um Chevrolet
Omega sendo empurrado por
um homem. Ou super-homem.
A primeira reação é uma risada contida. Afinal, ninguém
conseguiria empurrar um carro
a 68 km/h -8 km/h acima do limite da via. Nem com uma
mãozinha de Schwarzenegger
em sua fase Mister Universo.
Se ninguém empurrava, então o que acontecera naquele
dia? Pergunta para o coronel
Antônio Carlos Muniz, superintendente da Transerp (Empresa de Transportes Urbanos
de Ribeirão Preto).
"Com a imagem ampliada, é
possível ver a ponta do guidom
da bicicleta que estava no acostamento. Dá para ver também o
motorista, mas, na notificação,
escurecemos o para-brisa para
preservar o condutor", explica.
Em tom jocoso, Muniz revela
que, para piorar a situação do
"super-homem brasileiro", o
radar móvel estava fiscalizando
a pista ascendente da avenida.
Mesmo assim, o infrator ainda ligou para a Transerp e pediu que anistiassem a multa.
Afinal, só ele sabia como fora
difícil tirar aquele Omega do lugar. E numa subida íngreme.
O coronel disse que não iria
"quebrar" a multa e que processaria o infrator se ele espalhasse a foto, dando a entender que
o equívoco era do radar da Polícia Militar de Ribeirão Preto.
"Estão querendo manchar a
imagem da instituição [PM]",
disse o coronel, ao saber que a
foto corria pela internet.
Na notificação, o infrator indicou uma terceira pessoa. Explica-se: na época da infração, o
carro havia sido vendido, mas o
documento ainda estava no nome do ex-proprietário, Matheus de Freitas Zanardo.
Procurado pela Folha, Zanardo não quis comentar o caso. Mas sua mãe, Heloísa, fez
questão de dizer que já havia
acionado o advogado para processar o "garagista" que comprara o carro do seu filho.
"Ele [Zanardo] já tinha até
comprado outro carro, que
usou para viajar nas férias",
conta, indignada a cada multa
que recebe do "super-homem".
Roberto Heck, assessor jurídico da Transerp na época, afirma que o Estado não vai processar um cidadão por tentar se
defender da multa. "Mas o real
proprietário pode processar o
novo dono por não transferir a
documentação do carro [deve
ser feita em até 30 dias]."
Manequins
Se essa multa parece estranha, há recursos também esquisitos. No Rio, por exemplo,
um motorista foi multado por
carregar pessoas na caçamba
da picape. Argumentou que era
lojista e carregava manequins
para sua nova vitrine de verão.
O recurso foi indeferido.
Outro processo negado, diz a
CET-Rio (Companhia de Engenharia de Tráfego), foi o de um
motorista que falava ao celular.
Alegou que o policial confundiu
o telefone com o pacote de Club
Social, que comia na hora.
Teve até cidadão dizendo que
é religioso, não fuma, não bebe,
paga as contas em dia e, portanto, não acha justo ser multado.
O "super-homem" também não
achava, mas pagou R$ 127,69.
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