São Paulo, domingo, 13 de janeiro de 2008

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Mais do que raros

Automóveis orientais começam a atrair a atenção de colecionadores

Karime Xavier/Folha Imagem
Francisco Alves Neto "salvou' um Datsun 240Z 1973 de virar competidor de stock car


FABIANO PEREIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em 2007, ano em que comemorou meio século nos EUA, a Toyota conseguiu ultrapassar as vendas da General Motors. Os carros que construíram essa história, no entanto, são desconhecidos dos brasileiros.
Apesar da reputação dos automóveis japoneses, mesmo em mercados onde seus fabricantes já atuam há décadas, poucos foram alçados à condição de clássicos. Nessa elite, geralmente figuram esportivos, como o Datsun Z, o Mazda RX-7 e os Toyota 2000GT e Celica.
No Brasil, só agora começam a atrair a atenção dos colecionadores. A facilidade de importação de peças e de carros -além da familiaridade com marcas que hoje atuam aqui- atiça a curiosidade sobre modelos que nunca foram vendidos.
A prosperidade da indústria japonesa teve nítida relação com suas vendas nos mercados externos, especialmente o norte-americano. Em 1960, por exemplo, os dez primeiros fabricantes estrangeiros no ranking de vendas dos Estados Unidos eram europeus.
Na mesma relação de 1969, a Toyota já era a segunda colocada, só perdendo para a Volkswagen -a quinta era a Datsun, nome que era dado aos Nissan.
No Brasil, fora o Toyota Bandeirante, nacionalizado nos anos 50, os japoneses só chegaram oficialmente no início dos 90, com a abertura das importações no governo Collor.
"Antes disso, eram muito raros e só vinham com o corpo diplomático", explica o colecionador Og Pozzoli. É o caso do Honda Civic CVCC 1.2 1977 dos irmãos Roberto e Ricardo Lima, empresários de Brasília.
O Civic chegou ao Brasil com o cônsul japonês em Manaus. A sigla CVCC abrevia, em inglês, câmara de combustão com turbilhonamento controlado, um recurso que, já naquela época, reduzia a emissão de poluentes.
O hatch compacto branco tem como único luxo um rádio toca-fitas, algo distante dos Civic hoje vendidos aqui. O volante é do lado esquerdo, como nos vendidos nos EUA. "Foi de lá que vieram as poucas peças que precisaram de troca, como as ponteiras do pára-choque."
Já a proximidade com o Uruguai ajudou o comerciante Adélcio Breyer, de Porto Alegre, a restaurar seu Toyota Corolla 1968, comprado em 2002. Facilitou, mas não resolveu. "Coloquei motor de Corcel nele porque tive de guardar o original por falta de peças."
Caso ainda mais raro entre os colecionadores, Breyer tem outro Toyota antigo, um Crown 1970, que ele tenta recuperar desde 1999. "No Uruguai, encontram-se muitas peças, mas boa parte delas pode ser recuperada no Brasil mesmo, como a bomba-d'água."

Busca incessante
Para um empresário paulista que prefere não se identificar, foi mais fácil restaurar seu Mitsubishi Lancer 1600 GSR 1975, vencedor de vários ralis na época. Ciente do interesse, Shinichi Oki, responsável pelo museu da Mitsubishi na cidade de Okazaki (Japão), buscou um exemplar durante um ano.
Ele só precisou de "martelinho de ouro", de pintura e de alguns cromados refeitos quando chegou ao Brasil. Ao ver o GSR pronto, o empresário desistiu de correr com ele e hoje o guarda em sua garagem.
O pecuarista mato-grossense Francisco Alves Neto tem menos dedos com seu Datsun 240Z 1973, comprado há sete anos. "Uso o carro em eventos em Interlagos e nas subidas de montanha", ele narra.
Ele se orgulha do 240Z: "Na última Subida da Montanha Internacional Pico do Jaraguá, completei o percurso em 3,15 minutos e ganhei na categoria de 1.600 a 2.500 cilindradas, passando Porsches e Alfas."
O carro foi trazido ao país para um rali em Teresópolis (RJ) há mais de 20 anos e bateu a traseira. Depois de anos parado e de quase virar carro de stock car do dono anterior, Alves e seu filho Bruno desmontaram e restauraram o carro inteiro. Segundo o dono, um caminhão de peças veio dos EUA. "O carro é delicioso de usar, anda muito."


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