São Paulo, domingo, 14 de agosto de 2011

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Sem inovação tecnológica, carro 1.0 perde participação

Renda maior também estimula a migração para veículos mais potentes

Após fatia dos 'populares' encolher de 74% para 46%, governo anuncia redução de IPI para a indústria se modernizar

FELIPE NÓBREGA
DE SÃO PAULO

Há dez anos, 3 em cada 4 carros vendidos no país eram "populares". Hoje, os modelos 1.0 deixaram de ser a preferência do brasileiro, que migra para motores maiores.
Segundo dados da Fenabrave (federação das distribuidoras de veículos), a fatia de vendas dos 1.0 caiu de 74% para 46% entre 2001 e 2011. É a primeira vez que essa inversão é detectada desde que os "populares" assumiram a dianteira do mercado. Para João Carlos Rodrigues, diretor da consultoria Jato Dinamics, o fácil acesso ao crédito e o maior poder aquisitivo do consumidor brasileiro aceleram essa escalada.
Até porque a diferença de preço (e de tributo) de um automóvel em versão 1.0 para um superior (1.4 ou 1.6) é de apenas 6%, em média. O degrau parece ainda menor se a compra é financiada.
"São só R$ 60 a mais por mês", informa um vendedor da rede Fiat, comparando a parcela do Uno 1.4 com a do 1.0 (no plano com 50% de entrada e saldo em 24 vezes).
Os "populares" com porta-malas saliente são os que mais perdem participação.
Em 2008, as vendas do Fiesta Sedan eram repartidas entre as versões 1.0 e 1.6.
Agora, o Ford 1.6 responde por 86% dos emplacamentos.
Outro fator que desestimula a escolha por 1.0 é a falta de inovação tecnológica, cita Sílvio Shushizuo Sumioshi, professor do curso de engenharia da FEI (Fundação Educacional Inaciana). Recursos como injeção direta de combustível e comando variável de válvulas ainda são exclusividades de propulsores de média e alta cilindradas.
Bem que a VW tentou o turbo, mas Gol e Parati 1.0 (2001) naufragaram pela mecânica complicada. A Ford, por sua vez, achou que o compressor vingaria no EcoSport 1.0 (2003). Pesado, o jipinho consumia como um 2.0 e vendia menos que o 1.6.

REGIME
Fora essas tentativas, os motores "mil" ainda são praticamente os mesmos do final dos anos 90.
E, apesar de terem elevado a potência média de 50 cv para 70 cv, ainda sofrem para empurrar carros com mais de 900 kg -o Renault Sandero pesa 1.025 kg.
Itens como ar-condicionado e catalisador deixaram os veículos ainda mais lentos.
O governo promete ainda para 2011 um pacote de incentivos fiscais, válido até 2016, para que as montadoras se modernizem. "Além de tecnológico, é possível que o carro nacional fique mais barato", prevê Cledorvino Belini, presidente da Anfavea (associação das fabricantes).
Em 1994, o Mille custava US$ 7.200. Hoje sai pelo dobro (US$ 14.400, ou R$ 23,5 mil).


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