São Paulo, domingo, 15 de agosto de 2004

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NA PONTA DO LÁPIS

Para compensar a compra de uma S10 ante a versão a gasolina, é preciso andar 150 mil quilômetros

Diesel só interessa para quem roda muito

JOSÉ AUGUSTO AMORIM
EDITOR-ASSISTENTE DE VEÍCULOS

Por ser mais econômico e mais barato que a gasolina, o diesel ganha cada vez mais adeptos. Só no mercado de picapes médias, ele é responsável por 94% das vendas, contra os 80% que representava até 1999. Mas, incorporado às picapes pequenas, os motores flexíveis foram os mais vendidos no Brasil, com 42.422 unidades no primeiro semestre deste ano.
Pela legislação brasileira, o diesel só pode ser queimado em motores de veículos com peso bruto (veículo mais carga) de, pelo menos, 1,5 tonelada, o que exclui os automóveis de passeio. Em países europeus, como a Áustria, 80% dos compradores optam por esse combustível. Nos EUA, há uma certa pressão para aumentar seu uso, em especial nos jipões.
Isso significa que, nas revendas nacionais, as opções se limitam a picapes e utilitários esportivos, a maioria importada. Mas, antes de decidir a motorização, é bom fazer as contas. Em geral, os modelos a diesel são mais caros. Mesmo consumindo menos, podem não ser sinônimo de bom negócio.
A diferença de preço entre um Chevrolet Blazer a gasolina e a versão a diesel -que incorpora tração nas quatro rodas- é de 50,1%. Para "empatar" o dinheiro gasto, é preciso rodar 324 mil quilômetros, ou fazer quase 122 vezes a viagem de São Paulo a Recife. No caso de uma Chevrolet S10, a distância cai para 150 mil quilômetros -quem roda 1.000 km por mês precisa esperar 12,5 anos.
"Se o consumidor pagou menos, ele poderia aplicar a diferença. Só o rendimento já cobre o combustível, é como se a gasolina saísse de graça", calcula o professor de matemática financeira José Dutra Vieira Sobrinho.
"A versão a diesel é mais cara pois o motor precisa ser mais resistente. Por não ter vela, a taxa de compressão é altíssima", explica Antonio Baltar, gerente de marketing de picapes da Ford, que produz o propulsor a gasolina da Ranger, mas compra da International o motor a diesel. A diferença de preço entre eles é de 23,8%: R$ 70,8 mil contra R$ 57,2 mil.
O diesel, porém, não é tão bandido assim. Há casos em que ele vale a pena. Um SsangYong Musso custa R$ 90 mil com ele e R$ 108,2 mil a gasolina. Além da economia na compra, o utilitário consome menos: faz a média de 7 km/l na cidade e 10,9 km/l na estrada. Com gasolina, os números caem para 5 km/l e 7,4 km/l.
No caso do Mitsubishi Pajero Full, o "degrau" entre o preço das motorizações é de 0,6%. "A gasolina conta com alguns equipamentos a mais", justifica Paulo Ferraz, vice-presidente da empresa. "O IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados] e o Imposto de Importação são iguais."
O mesmo acontece com o Jeep Grand Cherokee. A diesel, o Laredo não traz disqueteira nem teto solar elétrico. Seu banco não oferece memória de posição, e os retrovisores elétricos não podem ser rebatidos. Com tudo isso, o Limited (gasolina) custa R$ 203.656, R$ 9.800 a mais que o Laredo.

Quem compra?
Atualmente, o agronegócio responde por 33% do PIB (Produto Interno Bruto, soma de todas as riquezas produzidas pelo país). E é exatamente isso que alimenta o mercado de comerciais movidos a diesel. É a região Centro-Oeste que tem os maiores índices de venda de picapes no Brasil.
Também é mais fácil para o agricultor usar esse combustível pois é ele que põe em marcha tratores e caminhões. Muitas vezes, as fazendas têm a própria bomba.
Segundo o gerente da Ford, só 3% das Ranger são a gasolina. "É para usar na cidade. O motor é mais silencioso." Além disso, ele lembra que a caçamba costuma estar vazia, o que não exige tanto torque (força) do motor. A F-250 não tem essa opção porque é exatamente voltada ao trabalho.
O vice-presidente da Mitsubishi afirma que, com tração 4x4, o mercado de gasolina é muito pequeno. Por isso a decisão foi usar só diesel para a L200 -a Nissan, com a Frontier, seguiu a mesma filosofia, mas oferece picapes 4x2.
Segundo Ferraz, nos utilitários esportivos, a gasolina é preferida por quem tem perfil mais urbano e poder aquisitivo alto. "Quem viaja muito ou tem propriedade longe fica com o diesel."

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